Seis entidades acreanas ligadas à educação, igualdade racial e religião assinaram nota de repúdio contra o senador Márcio Bittar (União Brasil) após o parlamentar votar na terça-feira (24) a favor de emenda do senador Flávio Bolsonaro (PL/RJ) para acabar com as cotas raciais e para pessoas com deficiência em institutos e universidades federais.
A nota afirma que é inadmissível que um representante do Acre, estado onde mais de 70% da população se auto declara preta ou parda, posicione-se contra as cotas raciais.
“Inadmissível, porém perfeitamente “compreensível” por inúmeros motivos, sendo certamente um dos principais o RACISMO”, diz trecho da nota.
Confira a nota na íntegra:
No nosso Estado, onde mais de 70% da população se auto declara preta ou parda, ou seja, negra segundo os critérios do IBGE e do Estatuto da Igualdade Racial, é inadmissível que um de nossos representantes em Brasília posicione-se contra as Cotas Raciais.
Inadmissível, porém perfeitamente “compreensível” por inúmeros motivos, sendo certamente um dos principais o RACISMO.
O racista não é só aquele que ofende, que joga uma banana no estádio, que xinga, mas é também aquele que oportunamente assina embaixo com o sistema opressor, deixando de dar oportunidades a quem sofreu quase quatrocentos anos de escravidão e continua sofrendo suas consequências.
Somente uma pessoa que não compreende a situação de vulnerabilidade da população negra, principalmente do (a) jovem negro (a), pode ser contra as COTAS. Como diz Djamila Ribeiro – filósofa, escritora e feminista negra: “Ser contra as cotas raciais é concordar com a perpetuação do racismo”.
É “compreensível” ainda porque certamente essa pessoa nunca passou fome a ponto de ir à escola por causa da “merenda”, nunca foi a pé porque não tinha o dinheiro da passagem, nunca foi excluído das atividade festivas da escola porque “não tinha perfil adequado”, , nunca foi o único a pegar “bacú” da polícia, nunca teve que abandonar os estudos para ajudar no sustento da família, dentre outras situações de discriminação.
COTAS raciais existem e precisam continuar existindo porque o Brasil tem uma dívida histórica com a população negra, e entender isso é fundamental para que pessoas como o Senador Márcio Bittar percebam seu lugar de privilégio e, a partir desse lugar, lutem por políticas de ações afirmativas que se baseiem no princípio da equidade e da justiça social, levando em conta principalmente a distância de oportunidades educacionais perpetuadas pelo racismo.
ASSINAM ESTA NOTA:
Fórum Permanente de Educação Etnico
Racial do Estado do Acre – FPEER
Conselho Estadual de Promoção da Igualdade Racial do Acre – COEPIR
Conselho Municipal de Promoção da Igualdade Racial – COMPIR
Associação de Mulheres Negras – AMN
União de Negras e Negros pela igualdade –
UNEGRO
Núcleo de Estudos Afro-Brasileiros e
Indígenas – NEABI
Federação das Religiões de Matriz Africana do Acre – FEREMAAC