‘Sobrevivente da criminalidade’, diz acreana do Taquari que passou em Medicina na Ufac

O sonho de estudar Medicina na Universidade Federal do Acre (Ufac) se tornou real para a jovem acreana Thainá Araújo Barros, de 18 anos. Criada pelos avós, na periferia de Rio Branco, mais especificamente no bairro Taquari – região marcada pela criminalidade -,a menina é o retrato fiel da persistência de quem para “vencer na vida” precisa ralar muito.

De classe econômica baixa, se tornar médica só seria possível se a acreana ingressasse em uma universidade pública, tendo em vista os altos valores cobrados em faculdades particulares. A jovem que não teve contato com o genitor e, que tem os avós como pais, rompeu totalmente com o padrão da história da sua família.

“O meu avô foi zelador do Mercado Seis de Agosto e, atualmente, é aposentado. E a minha avó nunca teve atividade trabalhistas por questões de saúde”, relembra a acadêmica. Ainda segundo ela, as inúmeras idas às únidades de saúde lhe despertaram o interesse pela área. “Toda a minha infância foi voltada em hospitais. Eu adoeci muito quando criança e acho que a vontade de me tornar médica vem daí”.

Estudante de escola pública, Thainá sempre teve consciência de que para alcançar seus objetivos teria que se dedicar muito. “Eu sabia que para mudar de realidade e conseguir sair de uma realidade que, infelizmente, é muito triste, eu teria que fazer algo diferente, teria que me esforçar dez vezes mais que o observado em outras pessoas”, disse.

A dedicação da menina nos estudos chamou a atenção de uma professora que indicou a jovem para estudar no Colégio Acreano. “Estudei o ensino fundamental no Taquari, numa escola simples, mas que tinha vários professores que estimulavam bastante o nosso aprendizado. E eu sempre tive essa vontade de conseguir mais. Foi quando uma professora me deu a oportunidade de estudar no Colégio Acreano e de lá fui apresentada ao Instituto Federal do Acre [Ifac], onde cursei todo o ensino médio”.

Desafios

Passar em Medicina aos 18 anos é ainda mais especial para Thainá Barros que cursou dois anos do ensino médio – período fundamental na vida de um estudante – em casa, devido a pandemia da Covid-19. Sem internet ou computador em casa, a acreana teve que se empenhar ainda mais para conseguir superar as adversidades e aprender os conteúdos.

“Na pandemia, eu não tinha acesso a wifi e também não tinha computador, e para piorar o meu celular não pegava muito bem. Então, fazer meu ensino médio no online, que foram dois anos, foi bastante desafiador. Tive muita dificuldade, inclusive, dificuldades financeiras”, relembra.

Sem grana para pagar um pré-Enem presencial, Thainá apostou em um cursinho online que dividia com outra pessoa. “No meu 3° ano do ensino médio, eu não tinha condições de fazer um cursinho presencial, era bolsista do Ifac e me mantinha com R$ 400. Daí comecei a dividir um cursinho online, mas eu sempre estava tão lisa de dinheiro, que a pessoa acabava pagando e nem me cobrava. E eu fui estudando apenas com conteúdos onlines e os professores do Ifac, que foram fundamentais”.

Para se preparar para o Enem [Exame Nacional do Ensino Médio], a estudante saia de casa às 5h40 e chegava às 19 horas. ‘Eu pegava os horários contraturno e ficava estudando, pois eu sabia que era uma prova difícil e o meu ensino teve muitas lacunas. Então, eu sabia que tinha que me esforçar um pouco mais”, conta.

Mudança de curso

Antes de passar para Medicina, Thainá ingressou no curso de Direito, também na Universidade Federal do Acre. Mas, a paixão pela atividade médica lhe fez persistir na área e, na terceira chamada do Sisu 2 [Sistema de Seleção Unificada], ela foi aprovada para ingressar no curso.

Com o coração transborando de alegria e os pés fincados no chão, sempre lembrando de sua trajetória, a jovem acreana do Taquari, que cursou apenas o primeiro período de Direito na Ufac, em outubro deste ano começa a sua mais nova jornada de vida: Medicina na Ufac.

Fonte: A Gazeta do Acre