O casal Gilmara Furuno e Leandro Roberto de Oliveira foi denunciado pelo Hospital Santa Juliana, em Rio Branco, à Justiça por maus-tratos contra o filho recém-nascido, Arthur Gael, de pouco mais de um mês de vida. A criança estava internada na unidade de saúde com baixo peso e foi levada para um abrigo da capital no último dia 17 por determinação da Vara da Infância e da Juventude.
Desde então, os pais iniciaram uma mobilização nas redes sociais pedindo justiça, negam ter maltratado o filho e tentam ter a criança de volta. A hashtag #justiçaporarthurgael é compartilhada, juntamente com fotos da gestação e do casal com o bebê, por diversas pessoas nas redes sociais.
“O Arthur foi afastado de mim e de toda família sem antes ter uma investigação. Não posso ter contato com meu filho, a família não pode ter notícias, não compreendo de onde surgiram tantas alegações, não entendo porque o Arthur foi retirado da família. Ninguém sentou comigo e com nossa família para entender o que estava acontecendo, apenas criaram situações e julgamentos”, desabafou Gilmara.
A Vara da Infância e Juventude do Tribunal de Justiça do Acre (TJ-AC) aplicou uma medida de proteção e determinou que o menino fosse levado para o abrigo após ser acionado pela assistência social do hospital.
A situação também é investigada pela Delegacia Especializada de Atendimento à Criança e ao Adolescente Vítima (Decav), onde os pais e a avó materna prestaram depoimento sobre o tratamento dado a Arthur Gael. A polícia deve ouvir ainda a equipe médica que atendeu o bebê e remeter o inquérito à Justiça ainda esta semana.
O advogado Andresson Bomfim, que defende a família, diz que houve precipitação de avaliação do serviço social e a defesa vai trabalhar para provar isso.
A direção do Hospital Santa Juliana foi procurada pela reportagem e disse que se posicionaria por meio de nota.
Durante conversa com o g1, Gilmara afirmou que a criança foi retirada pelo Conselho Tutelar após a denúncia do hospital. Contudo, a coordenação do 2º Conselho Tutelar, que atendeu o caso, confirmou que foi acionada, mas que não teve contato com a família e quando os conselheiros chegaram à unidade de saúde já havia a medida de proteção e afastamento do bebê dos pais.
Por isso, os conselheiros não atenderam a família e a equipe técnica do Poder Judiciário deu cumprimento à medida de proteção e levou o menino para o Educandário Santa Margarida.
O caso está sob sigilo da Justiça e, por isso, a delegada que investiga o caso, Carla Fabíola, disse que não pode falar sobre o inquérito.
Criança planejada
Gilmara e Leandro de Oliveira estão juntos há mais de 4 anos e decidiram aumentar a família há um ano. Quando soube que estava grávida, Gilmara conta que ela e o marido enviaram uma caixinha para os familiares com o anúncio da gestação dentro e gravaram um vídeo da reação de cada parente.
O objetivo, conforme ela, é guardar essas imagens para mostrar para o filho quando ele crescer.
“Desde o início é amado, foi desejado e sonhado pela família. A gente comemorou, minhas amigas e a família organizou um chá revelação, onde toda família dele esteve presente. Toda minha gestação foi organizada, fizemos ensaio fotográfico, que foi um presente que ganhamos. Nossa família esteve presente na minha gestação, o quartinho do Arthur foi todo planejado para ele, para ofertar o melhor para e inserir ele na nossa vida”, recorda.
Arthur Gael nasceu com 3,120 quilos no dia 10 de julho de parto cesária. Gilmara recorda que os médicos precisaram retirar a criança após ela ter complicações que colocavam em risco a vida do bebê. Mãe e filho tiveram alta do hospital no dia 12 de julho. Arthur Gael pesava 2,814 quilos.
“Me informaram que essa perda de peso era normal, mas que a amamentação seria suficiente. Sou mãe de primeira viagem, não tinha contato com crianças antes e segui aquilo que fui orientada. Levei ele para casa, passei a amamentar, mas fui percebendo, junto com meu esposo e toda família, que o Arthur ia perdendo peso. Decidimos levar ao pediatra, fomos no dia 18 de julho, e nessa consulta manifestei minha preocupação com a falta de peso e o médico falou que era normal, não fez pesagem, mas disse que era normal”, destaca.
No dia 24 de julho, Gilmara decidiu ir em outro posto de saúde porque o filho continuava perdendo peso. Na época, ela diz que o filho estava pesando 1,9 quilos e o médico confirmou que não era normal, que além excessiva perda de pessoa, Arthur estava com irritabilidade e palidez.
Foi quando o bebê foi encaminhado para Pronto-Socorro de Rio Branco para exames e avaliações mais completas. Arthur passou o dia em observação no PS, acompanhado da mãe, e no início da noite transferido para a UTI Neonatal do Hospital Santa Juliana.
Os pais acompanharam o bebê. Após dar entrada na internação da criança, Gilmara e o marido foram aconselhados a irem para casa porque não podiam ficar na UTI e retornar no dia seguinte para pegar as informações do atendimento.
Suspeitas
Ao retornar, Gilmara diz que foi questionada pela médica de plantão sobre a situação do bebê, que estava muito magro, e tinha uma lesão no corpo, que a mãe afirma não ter visto antes e nem informada pelos outros médicos.
“Ela foi ríspida, julgou minha maternidade, não queria me ouvir, jogou várias informações com alegações e negações. Me senti invalidade, julgada e não entendi o porquê estava sendo tratada daquele jeito. Tentei explicar para ela, mas não quis me ouvir. Dois dias depois, a assistente social e um psicólogo nos chamaram para conversar, falaram que queriam saber mais sobre o Arthur, que era um serviço ofertado pelo hospital e estavam ali para nos ajudar. Falaram sobre a escara que tinha nele, se a gente sabia, falei que não tinha visto”, destacou.
Após a conversa, Gilmara e o marido seguiram visitando o filho na UTI normalmente até o dia 7 de agosto, quando Arthur foi levado para enfermaria, e não tiveram mais contato com a equipe de assistência social da unidade.
Arthur Gael, inclusive, ganhou uma surpresa na enfermaria quando completou 1 mês de vida. Amigos e familiares de Gilmara e Leandro se reuniram para celebrar a vida do menino.
Já no dia 17, Gilmara foi surpreendida com uma equipe dizendo que ia levar o bebê para um abrigo por determinação da Justiça. Foi quando soube que o serviço social do hospital tinha aberto uma denúncia contra os pais e a família do bebê por supostos maus-tratos.
“Não entendi o porquê aquela medida foi tomada, porque as pessoas fizeram aquilo com a gente, porque estavam retirando meu bebê. Pedi para me explicar, mas falaram que tinham recebido uma denúncia do hospital. Li a denúncia, mas não fez o menor sentido. Não tem o menor sentido aquilo”, critica.
‘Busquei ajuda’
Gilmara se diz inconformada com tudo que aconteceu e a forma como aconteceu. Ela explica que buscou ajuda e orientações em dois postos de saúde, pagou consulta particular para entender o porquê o filho não ganhava peso.
Para ela, a denúncia do hospital foi arbitrária e não condiz com a realidade.
“Tivemos todos os cuidados quando chegamos em casa, tive os cuidados com as primeiras visitas. Foi tudo planejado, é uma criança amada, bem-vida, toda minha família tem apreço. O que aconteceu é que adoeceu, busquei ajuda, busquei um profissional para me explicar o que estava acontecendo com meu bebê, não estava entendendo porque só o leite não era suficiente. As pessoas que eram para me ajudar, orientar e acolher fizeram essa denúncia. Profissionais que eram para me orientar, me denunciaram. Todo processo está sendo muito difícil”, lamenta.
Gilmara ressalta que toda gestação foi planejada e fez registro de cada momento nas redes sociais para um dia mostrar para o filho. “O que quero e toda família, é que isso seja esclarecido, que seja resolvido e o Arthur volte para a família. É difícil olhar o quarto do meu filho vazio, o berço dele. É difícil não ter ele por perto, não sinto o cheiro do meu filho, não vejo o sorriso dele, não posso colocar, ninar e acalentar”, fala.
G1/AC