29 março 2024

Morte violentas de três mulheres em apenas uma semana no Acre acende o alerta amarelo para o risco de novos casos

Redação

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Depois de registrar redução de 77%,8% no número de casos de feminicídio, nos primeiros seis meses de 2021 em relação ao segundo semestre do ano anterior: 2020, este mês de maio de 2022 volta a preocupar com o recrudescimento dos crimes contra mulheres no Acre. Somente entre a última segunda-feira, dia 2, e esta quinta-feira, 5, três mulheres foram mortas a tiros e a facadas nos municípios de Feijó e Acrelândia e na capital, Rio Branco.

Nos dois crimes do interior, a polícia já tem conhecimento de que foram passionais: cometidos pelos seus companheiros num acesso de fúria diante da recusa das vítimas de prosseguir com o relacionamento.

Nesta edição, OPINIÃO faz um retrospecto de como o estado, que em 2020 registrou a maior taxa de feminicídios do país, tenta reduzir esse tipo de violência e as dificuldades para obter esta resposta positiva diante de um crime que é praticamente impossível de se prever quando vai acontecer, a não ser que a mulher ameaçada procure as autoridades policiais para que providências sejam tomadas contra seus agressores.

Mas, afinal como se desenvolve a fúria de um homem a ponto de matar a companheira. Para os estudiosos do direito, tudo começa num ciclo de violência com atos progressivos e reiterados do companheiro que é o próprio agressor. Da parte da vítima, vem a dificuldade de romper com a relação violenta.

É o caso, por exemplo da jovem Maria Samara Silva do Nascimento, de 19 anos, morta a facadas no pescoço e no peito na zona rural de Feijó, no dia 2 de maio último. De acordo com o delegado de Polícia Civil Valdinei Soares, responsável pelo inquérito, a clássica história de que a vítima relutava para reatar o namoro faz parte dessa triste situação.

A diferença aqui é que tanto no feminicídio cometido contra Maria Samara, quanto o perpetrado contra a atendente de banco Tatiane Lima Nery, de 33 anos, em Acrelândia, os seus companheiros morreram. Em Feijó, o ex-namorado de Maria Samara, Erisvaldo Freitas de Souza, foi encontrado morto em circunstâncias que ainda estão sendo investigadas pelo delegado Soares. Já em Acrelândia, o algoz de Tatiane Nery, o vigilante Kennedy Souza Fontenelle, de 26, meteu um tiro na própria cabeça depois de ter cometido o crime.

Em ambos os casos, os indivíduos não aceitavam o fim do relacionamento, segundo a Polícia Civil.

Para os psicólogos e pesquisadores forenses, a vítima demonstra dificuldades em romper com a relação violenta, e em consequência disso, forma-se um ciclo espiral sem fim.

“Nem sempre a violência contra a mulher tem início com a agressão corporal. Ao contrário, na maioria dos casos, o homem inicia a dominação com a violência moral e psicológica até que a situação evolui para a agressão física, no momento em que a mulher já́ está fragilizada e não pode ofertar resistência. Os ataques físicos, graças ao ciclo da violência que se estabelece, tendem a se repetir e a se tornarem cada vez mais gravosos”, explica Maria Eduarda da Silva Souza, em sua monografia de mestrado intitulada ‘Fatores de Risco para o Feminicídio: a Relação entre a Violência Doméstica e Familiar e o Assassinato de Mulheres por Condição do Gênero’.

Segundo ela, percebe-se que existe um padrão de comportamento semelhante entre homens agressores e que essa conduta violenta tem o objetivo de controlar as mulheres, basicamente, num ciclo de violência que é composto por três estágios:

Aumento da tensão

Nessa fase, o agressor mostra-se extremamente irritado com atitudes da vítima, a humilha com palavras, costuma quebrar objetos para “descontar” a raiva, eleva o tom de voz. Geralmente, a mulher se retrai diante dessa situação conturbada, para evitar confronto direto, muitas vezes por medo do que o agressor possa fazer.

Ato de violência

Nesse momento, o agressor ofende a integridade física, psicológica moral, patrimonial ou sexual da mulher. É a consumação do ato de violência. Nessa etapa, a vítima demonstra incapacidade de se opor ao homem, suportando, portanto, a violência.

Lua de mel

Nessa fase, o agressor mostra-se arrependido, pede desculpas para a vítima e faz promessas de mudanças. Normalmente, existe um curto período de calma onde a vítima se reconcilia com o agressor, mas é uma paz disfarçada, porque posteriormente haverá o aumento da tensão novamente e o tudo irá se repetir.

A pesquisadora explica, por tanto, que é imprescindível que a mulher vítima das agressões busque ajuda para quebrar esse ciclo. “Mas infelizmente, a maioria silencia mediante a violência sofrida, por medo, por questões de ordem sentimental e até mesmo pela incerteza das medidas protetivas em relação à sua eficácia”.

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