Pai que matou filho agiu em legítima defesa: ‘Era saco de pancada’, diz advogado

Raimundo Bispo, de 19 anos, morreu no dia 9 de fevereiro após ser atingido por facada na coxa. José Bispo era agredido e maltratado pelo filho mais novo, alega defesa

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Aos 60 anos, o aposentado José Bispo segue preso na unidade de Senador Guiomard, no interior do Acre, após ter matado o filho de 19 anos, Raimundo Bispo, com uma facada na coxa direita, que acabou atingido a veia femoral.

Passado mais de um mês da morte de Raimundo, familiares contaram ao G1 que o aposentado tinha uma relação conturbada com o filho mais novo, que tinha ligação com o crime organizado.

A família conta ainda que José tem câncer na garganta. Além disso, o idoso luta contra o vício do álcool. Parou em 2005 ao descobrir a doença , mas voltou a beber quando o filho se envolveu com o crime.

“Ele apanhava muito do Raimundo. Os vizinhos já tinham alertado a família”, conta um parente, que prefere não se identificar.

Antes de ser diagnosticado com câncer, José trabalhava como eletricista e técnico em refrigeração, mas, por questão de saúde, teve que se aposentar.

‘Era saco de pancada’

O idoso também lutava contra a depressão. Familiares contam que ele pedia que o filho mais novo saísse do crime e seguisse os passos dos outros três irmãos, todos formados.

O apartamento onde o crime aconteceu havia sido alugado há pouco tempo pelo aposentado. O filho não ficava constantemente lá, mas se dividia entre a casa da mãe e do pai.

Os períodos em que Raimundo ficava com o pai eram marcados por agressões físicas, psicológicas e verbais, segundo o advogado de defesa, Armysson Lee.

“O garoto batia no pai dele, espancava mesmo. E, neste dia, [do crime] ele agiu em legítima defesa. Tomou a faca do Raimundo e foi apenas uma punhalada, sem intenção de matar. Ele foi se defender”, alega o advogado.

E é a tese de legítima defesa que o advogado vai usar para pedir o habeas corpus do aposentado depois do carnaval.

Em audiência de custódia, a Justiça manteve a prisão preventiva dele, mesmo sem antecedentes criminais, devido ter sido pego ainda no flagrante.

“Ele ia matar o José. O pai tinha virado saco de pancada do filho, infelizmente. Chutava, jogava café quente. Era espancado e a família sabia disso”, diz Lee.

‘Matei o Raimundinho’

Após ver que havia ferido o filho gravemente, o aposentado ainda tentou estancar o sangue, mas não conseguiu.

Coberto pelo sangue do filho, foi até a casa da mãe, que fica ao lado, e confessou o crime. “Eu matei o Raimundinho”, disse ao chegar na casa da mãe dele.

Ainda segundo a defesa, ele mesmo ligou para a polícia e se entregou. “Nem precisou ser algemado”, lembra o familiar.

Facção pagou enterro

Após o crime, quando a família foi procurar resolver as questões burocráticas do enterro, foi informada que tudo foi pago por um grupo criminoso e a ordem foi que ninguém da família de Raimundo chegasse perto do corpo.

“O enterro foi pago pelo crime. Essa é a prova maior que estava envolvido com facção”, complementa o advogado de defesa do aposentado.

Atualmente preso, a defesa de José diz que ele se arrepende e que a intenção nunca foi matar o próprio filho.

“Ele olha para mim e fala: ‘Doutor, como vou querer matar meu próprio filho?’. Mas, era uma situação triste, ele só queria que o filho saísse daquela vida e seguisse o caminho certo, como os outros irmãos”, finaliza.

G1/AC