A analista Ellen Aquino, o estudante William Klismann Liberato Azevedo, a recepcionista Islani Ranielly Silva de Oliveira e a influenciadora digital Yanna Oliveira têm algo em comum: eles afirmam terem sofrido golpes em pacotes de excursões, saindo de Rio Branco.

O g1 ouviu as quatro pessoas que relataram como ocorreu o processo de compra dos pacotes, bem como buscou o lado das duas empresas envolvidas, mas apenas uma retornou o contato da reportagem até a última atualização deste texto. Confira mais detalhes abaixo.

Excursão para Cacoal, prejuízo de mais de R$ 40 mil

O primeiro caso aconteceu com o estudante William Klismann Liberato Azevedo, de 22 anos, que comprou um pacote de excursão para o feriado de carnaval com mais 40 outras pessoas que planejavam ir a Cacoal, em Rondônia. O pacote individual custou R$ 1,1 mil, no qual estava incluso a ida e volta de ônibus, além de hotel e entrada no Cacoal Selva Park.

“Estima-se que ao todo o prejuízo seja em torno de 40 mil a 45 mil reais, juntando todas as pessoas que compraram a excursão. Já foi feito um boletim de ocorrência, mas até agora nada aconteceu”, disse.

Além de William, outras 18 pessoas foram à Delegacia de Flagrantes (Defla) alguns dias após o ocorrido, no dia 1º de março, e registraram o boletim de ocorrência assinado pelo delegado plantonista Rodrigo Noll Comarú. O g1 entrou em contato com a Polícia Civil para verificar o andamento do caso, porém até a última atualização dessa reportagem, não obteve retorno.

O combinado era que o embarque aconteceria no dia 28 de fevereiro, na Praça da Juventude, no bairro Cidade Nova, às 10h. No início da tarde do dia anterior, foi pedido a confirmação por parte da empresa em um grupo com as pessoas que compraram o pacote. Porém, o responsável informou que estaria com problemas.

“Pediram a confirmação do responsável pela excursão, que no caso era o apelidado Nandinho Silva, e ele disse que ainda estava resolvendo a questão do ônibus. Por volta das 18h, ele disse que estava tudo certo. Após isso, ele não respondeu mais nada no grupo. Mas como ele tinha dito que estava tudo certo, todos, no horário definido, se encaminharam lá para a praça”, falou.

Os pacotes eram de uma empresa intitulada “Excursões Kim Turismo” e de acordo com William, posteriormente, o dono da empresa que seria o pai do Nandinho, Kim, foi até o local e disse que estava afastado do trabalho e que ele não poderia fazer nada para ajudá-los, já que quem estava respondendo pelos negócios era o filho, que teria sumido com o dinheiro. Nenhum ônibus apareceu na hora e no local combinado.

“Ele [Kim] disse apenas que ia tentar reembolso, mas não disse como nem quando ia fazer esse pagamento. Uma outra solução que ele deu foi quem quisesse, poderia estar pagando mais R$ 500 reais por pessoa pra entrar na próxima excursão que está sendo programada agora para abril”, afirmou ele.

William iria para a viagem com a mãe, o pai e a irmã, e com a compra dos pacotes, desembolsaram R$ 4,4 mil. A contratação foi feita através de aplicativo de mensagens e a propaganda sobre a viagem foi vista nas redes sociais. O preço atrativo foi o que motivou a família a viajar durante o feriado prolongado.

A empresa Kim Excursões continua fazendo propagandas e promovendo novas excursões através das redes sociais. De acordo com o estudante, nem ele e nem as outras pessoas receberam o valor investido na viagem.

Situação é recorrente

A analista Ellen Aquino também foi uma das 40 pessoas que estava empolgada para passar o carnaval em Cacoal. Segundo ela, um cancelamento já havia sido feito em outra viagem no ano passado, e então o ‘saldo’ foi transferido para esta excursão, que ela resolveu ir com o marido.

Ela explica que apesar de ter um saldo com a empresa no valor de R$ 4 mil e os novos pacotes terem custado R$ 1,1 mil, ela ainda precisou pagar o valor de um pacote. No total, estima ter tido um prejuízo de R$ 5,1 mil, o que motivou a fazer um boletim de ocorrência e contratar um advogado.

“[Com o valor,] dava para ir mais do que duas pessoas, mas ele disse que não conseguiria viabilizar nossa viagem porque como eles não estavam fazendo viagem, eles não estavam tendo dinheiro. Eu paguei mais R$ 1,1 mil porque a gente confiou, ele argumentou que estava se levantando, precisava fazer viagem para poder juntar dinheiro”, comunicou ela.

Ainda segundo ela, o dono da empresa entrou em contato perguntando se ela teria interesse em remarcar a excursão para o feriado da semana santa que acontece entre 16 a 20 de abril, já que agora ele estaria à frente das excursões. Ela não aceitou a proposta. “É sempre o mesmo discurso mentiroso para ganhar tempo”, lamentou ela.

Excursões Kim Turismo: o outro lado

João Carlos Fernandes, sócio-proprietário da empresa Excursões Kim Turismo, afirmou em nota que teve um “problema de logística acima da capacidade de resolução da empresa [que] ocorreu às vésperas da saída do grupo, o que obrigou a remarcar a viagem para nova data”. (Confira a nota completa no final da reportagem)

Sobre a cobrança de R$ 500 a mais para que os clientes pudessem fazer parte da nova excursão, João Carlos negou e disse que era uma sugestão.

“É mentira de quem está falando isso. No dia da excursão, no sábado [dia 1º de março] a excursão era para sair sexta, não saiu, era para sair sábado [28/02] e lá eu dei uma sugestão, se cada cliente tivesse interesse de ajudar no frete do ônibus, ajudaria com R$ 500. Em momento nenhum eu pedi, foi só uma sugestão”, alegou ele.

Ao ser contestado o porquê ele estaria dando essa sugestão, já que os pacotes incluíam transporte, hotel e entrada no parque e já teriam todos sido pagos, o dono da empresa não respondeu mais a reportagem.

Excursão para o Vale das Cachoeiras, prejuízo de mais de R$ 40 mil

A recepcionista Islani Ranielly Silva de Oliveira, de 25 anos, também teve uma frustação durante o último Carnaval. Ela, outros cinco familiares e mais 29 pessoas compraram pacotes de um outro local, onde ela também viu a propaganda nas redes sociais, cada um no valor de R$ 500, em uma promoção para o Vale das Cachoeiras que fica próximo a Ouro Preto do Oeste, em Rondônia. A viagem não aconteceu e ninguém foi reembolsado.

“Em outubro a gente fez uma compra da passagem. Desde então, estava tudo ok. Ele [o dono] mandava fotos no grupo das pessoas que iam para a viagem. Aí em janeiro, vimos um relato de uma pessoa que tinha comprado e a viagem foi horrível. Ele veio com um papo que convence as pessoas dizendo que estava sofrendo um ataque”, esclareceu ela.

Ela se refere ao pastor Edson Reda, que em suas redes sociais se identifica como “agente de turismo há 25 anos, com excursões do Acre para todo o Brasil e Peru”. A recepcionista contou que alguns dias antes da viagem, o homem mandou uma mensagem somente falando que ia adiar a viagem, que iria remarcar para uma nova data e pediu a compreensão de todos.

“Foi quando as pessoas do grupo começaram a pedir uma justificativa. Tinha gente que disse que não podia, porque estava de férias e não tinha como ir em outros dias. Desde então, quando as pessoas começaram a questionar, querendo o reembolso, ele bloqueou o grupo. Não deixou mais ninguém mandar mensagem”, relatou ela.

Aconteceu, mas não como o combinado

A influenciadora Yanna Oliveira, de 24 anos, também comprou pacotes com o mesmo homem anteriormente. A rota seria Salvador, João Pessoa e Fortaleza. Ela conseguiu fazer a viagem, porém o combinado não foi cumprido. Em um longo relato, ela contou que até mesmo o quarto que deveria ser separado, precisou dividir com outro casal. (Veja trechos acima)

A influenciadora ainda enfrentou diversos problemas com o ônibus, além de não ter onde dormir em um dos locais, o que causou grande tumulto durante a viagem. Ela disse ainda que levará o caso à Justiça para que seja resolvido, já que Edson não deu nenhuma resolução ou compensação para seu caso.

“O problema maior para mim foi a mentira dele, porque eu não tenho problema pagar R$ 3 mil numa viagem e a viagem ser boa. Eu não tava querendo uma viagem com hotel cinco estrelas, mas ninguém queria isso. A gente queria pelo menos um hotel com quarto e banheiro e nem isso ele proporcionou”, lamentou.

O g1 entrou em contato com Edson Reda através do WhatsApp e mensagens nas redes sociais, porém não obteve resposta até a última atualização dessa reportagem.

Nota publica – Kim Turismo (referente ao primeiro caso)

“A Empresa EXCURSÕES KIM TURISMO vem a público esclarecer informações desencontradas que circulam nas redes sociais quanto ao adiamento da excursão de carnaval, que estava prevista para ocorrer no período de 28/02 a 04/03.

Essa viagem iria levar os clientes para o Cacoal Selva Park, onde a empresa é credenciada para operar com esse tipo de serviço. Porém, um problema de logística acima da capacidade de resolução da empresa ocorreu às vésperas da saída do grupo, o que obrigou a KIM EXCURSÕES TURISMO a remarcar para a viagem para nova data.

Agora, com o problema devidamente sanado, a excursão está confirmada para o período de 16/04 a 20/04, no período da Semana Santa, com remarcação já disponível para clientes que adquiriram os pacotes para o carnaval.

A KIM EXCURSÕES TURISMO está prestando toda assistência e informações necessárias ao clientes pelo telefone (68) 99947-9168, que também oferta o serviço de WhatsApp.

Por fim, a empresa reitera total respeito e compromisso com clientes ao tempo em que se coloca a disposição de todos para dirimir todo e qualquer esclarecimento que se fizer necessário.

Atenciosamente,
João Carlos Fernandes, sócio proprietário.”