Na manhã desta sexta-feira, 15, a Assembleia Legislativa do Acre realizou uma sessão solene em homenagem aos 30 anos do Projeto Cidadão. A iniciativa, proposta pelo deputado estadual Pedro Longo (requerimento nº 77/2025), reuniu autoridades, magistrados, representantes de órgãos parceiros e personalidades que fizeram parte da história do programa, criado pelo Tribunal de Justiça do Estado do Acre (TJAC).
O Projeto Cidadão nasceu com o objetivo de garantir à população de menor poder aquisitivo o acesso gratuito à documentação básica e a diversos serviços públicos nas áreas de saúde, educação, meio ambiente, segurança e trabalho. De natureza itinerante, o programa leva atendimento a localidades geograficamente distantes, como comunidades ribeirinhas, indígenas, vilas e seringais, democratizando o acesso às políticas públicas. Atualmente, cerca de 60 instituições governamentais e não governamentais participam das ações coordenadas pelo TJAC.
Entre os serviços ofertados estão emissão de documentos como certidão de nascimento, carteira de identidade, CPF e título eleitoral; casamentos comunitários; orientação e assistência jurídica; palestras educativas; atendimentos médicos e odontológicos; multivacinação; além de atividades culturais e esportivas. Ao longo de três décadas, o projeto já realizou mais de dois milhões de atendimentos.
Durante a solenidade, o deputado estadual Eduardo Ribeiro destacou a dimensão social da iniciativa do Projeto Cidadão. “É com muita honra e imensa alegria que celebramos três décadas de uma das mais belas iniciativas de promoção da cidadania e da dignidade humana no nosso estado. O Projeto Cidadão leva o Estado até onde o cidadão está, e não o contrário. Não é apenas um programa, é um pacto social, uma ponte sobre a distância física e social que separa o cidadão do seu direito pleno à cidadania”.
O notário Danilo Bezerra, representando todos os cartórios do Acre, destacou a abrangência e a importância da ação.
“Pelo nome, parece um projeto de fim de semana, mas é uma ação anual, que percorre todo o estado, do Cruzeiro do Sul a Assis Brasil. É um trabalho fundamental, desde a emissão de segundas vias de certidões até os casamentos comunitários. Parabenizo o Estado, o Tribunal de Justiça e todos que se empenham para manter esse projeto vivo por muitos anos”, afirmou Bezerra.
A presidente da Associação dos Magistrados do Acre, Olívia Ribeiro, compartilhou memórias de sua participação no início do projeto e lembrou como surgiu uma das tradições das ações.
“No meu primeiro Projeto Cidadão, em Sena Madureira, fiquei surpresa com 298 casais inscritos para casar no primeiro dia. Mandei fazer um bolo de dois metros para celebrar, e no dia seguinte o número dobrou. Assim nasceu o ‘bolo do Projeto Cidadão’, que passou a ser preparado até nos seringais, levando mais alegria aos casamentos. Essa é a concretude da cidadania: ver o sorriso das pessoas naquele momento único”, lembrou Olívia.
O presidente da OAB/AC, Rodrigo Aiache, ressaltou que a iniciativa é um marco de inclusão social. “Cidadania não é presente, cidadania é direito. No meio da floresta amazônica, pessoas que eram invisibilizadas hoje são portadoras de cidadania. Precisamos continuar fazendo o óbvio, garantindo direitos, porque isso transforma a humanidade”.
O coordenador de cidadania da Defensoria Pública do Acre, Celso Rodrigues, lembrou que o Projeto Cidadão serviu de inspiração para outras iniciativas.
“O projeto pioneiro, que motivou a criação de programas como a Defensoria Itinerante e o MP na Comunidade, foi o Projeto Cidadão. Ele leva dignidade, documentação e serviços de saúde para quem mais precisa, sem que a pessoa tenha que gastar o pouco que tem para se deslocar até a cidade”, declarou Rodrigues.
A presidente do Tribunal Regional Eleitoral do Acre, desembargadora Waldirene Cordeiro, destacou o reconhecimento nacional da experiência acreana.
“São mais de dois milhões de atendimentos. Recentemente, o presidente do STF se surpreendeu ao saber que já fazemos há 30 anos o que ele propunha implementar no país. Nosso modelo será usado para ensinar como levar cidadania a locais isolados, como aldeias e comunidades ribeirinhas”, destacou a desembargadora Waldirene.
Idealizador do Projeto Cidadão, o desembargador aposentado Arquilau de Castro Melo relembrou como tudo começou, a partir da dificuldade das escolas municipais em registrar corretamente os alunos.
“Começamos levando os cartórios às escolas, depois percebemos que muitos pais também não tinham documentos. Fomos juntando parceiros e criando esse milagre que é o Projeto Cidadão. Um projeto sem cargos fixos ou estrutura formal, mas que funciona pela união das instituições e pelo compromisso com a população”, contou Arquilau.
O presidente do TJAC, desembargador Laudivon Nogueira, compartilhou lembranças das primeiras ações no interior do estado.
“Num desses Projetos Cidadãos, em Juruá, celebramos casamentos em um balcão de madeira, com cadeiras improvisadas e microfone sem fio. Apesar das dificuldades, levamos cidadania, atendimento e alegria às pessoas. Esse projeto firmou-se como um exemplo de função atípica do Judiciário, levando direito onde antes havia apenas ausência do Estado”, afirmou Nogueira.