Na madrugada desta terça-feira (17), um grupo ainda não identificado invadiu as dependências do frigorífico da empresa Norte Carnes, no município de Brasiléia, interior do Acre, e libertou cerca de 170 cabeças de gado que estavam sob custódia após terem sido apreendidas por fiscais ambientais na Reserva Extrativista Chico Mendes.
A informação foi confirmada pelo Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), órgão federal responsável pela gestão da unidade de conservação. “Houve sim a invasão ao frigorífico. Roubaram o gado apreendido”, afirmou a assessoria de imprensa do instituto à Folha do Acre.
Os animais haviam sido levados ao local por orientação de agentes da operação Suçuarana, ação coordenada por Ibama e ICMBio para combater a ocupação ilegal e o desmatamento dentro da reserva. Segundo o empresário Eduardo Cesário, um dos sócios da Norte Carnes, a empresa recebeu o rebanho sob a justificativa de que havia uma ordem judicial autorizando a guarda e o abate das reses — embora essa ordem nunca tenha sido apresentada por escrito.
“Disseram que levariam todo o gado para Rio Branco, mas isso não aconteceu. Ele (ICMbio) garantiu que tudo seria legal e que havia ordem judicial e não tinha como voltar atrás”, declarou Cesário à reportagem.
A invasão ao frigorífico ocorreu por volta das 4h da madrugada. De acordo com a direção da empresa, as câmeras de segurança não registraram a ação dos invasores. Ao todo, mais de 200 animais estavam sob custódia da empresa. Após o arrombamento dos currais, cerca de 170 bois foram soltos. Apenas 59 permaneceram presos.
Ainda não há informações sobre o paradeiro dos animais libertados nem sobre a identidade dos responsáveis pela invasão. Fontes ouvidas pela reportagem indicam que o episódio pode estar ligado à crescente tensão entre posseiros e órgãos ambientais federais, agravada nos últimos dias com interdições de rodovias e protestos de produtores rurais da região.
Diversos animais chegaram a ser abatidos antes da invasão. A carne permanece estocada na câmara fria da empresa, mas o empresário já declarou que não tem mais interesse em adquiri-la. O destino final do produto é incerto.
A empresa emitiu nota oficial à imprensa. No texto, a Norte Carnes afirma que foi surpreendida com a chegada dos animais e que não compactua com as ações da operação Suçuarana. Alega também que foi informada de que os bois seriam levados a outro frigorífico, mas que, devido à dificuldade no transporte, o rebanho acabou sendo entregue à unidade em Brasiléia.
A nota também relata que, desde que recebeu o gado, a empresa e seus funcionários passaram a ser alvo de acusações e ameaças. “A partir deste momento a empresa não irá abater mais nenhuma cabeça de gado proveniente desta operação é que o gado que está no curral foi solicitado para o órgão que realizou a apreensão fazer a retirada do mesmo”, diz o comunicado.
A operação Suçuarana, deflagrada entre maio e junho deste ano, é considerada uma das maiores intervenções recentes em áreas protegidas do Acre. Além de multas e apreensão de gado, a ação resultou na destruição de cercas, currais e estruturas utilizadas por criadores ilegais.
O roubo do gado ocorre em um momento de forte tensão na Reserva Extrativista Chico Mendes, criada em 1990 para garantir o uso sustentável da floresta por seringueiros e comunidades tradicionais. Nos últimos anos, o avanço do desmatamento e da pecuária extensiva tem gerado conflitos entre posseiros e agentes do Estado.