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Prefeito Bocalom prorroga contrato da “vaca mecânica” após prazo vencido

Promessa de campanha previa indústria funcionando no início de 2025; aditivo só saiu em dezembro

A promessa de uma indústria de leite de soja, apresentada como símbolo de combate à fome em Rio Branco, continua suspensa no tempo. O contrato que sustenta a chamada “vaca mecânica” venceu em 31 de dezembro de 2024 e só foi prorrogado quase um ano depois, em publicação feita no Diário Oficial do Estado (DOE) na última terça (23/12). O aditivo estende a vigência até o último dia deste ano, sem explicar por que foi assinado após o prazo já ter expirado.

O documento nº 01130007/2024 foi firmado com a empresa IZ da Silva e Equipamento – ME, de Pompeia/SP, especializada em fornecimento de máquinas industriais e agropecuárias. O valor oficial é de R$ 512 mil, destinado à aquisição da linha de processamento de leite de soja com capacidade técnica de 500 litros/hora. Já em matéria da assessoria municipal, o investimento global foi divulgado como R$ 1,56 milhão, incluindo construção civil e equipamentos para uma estrutura de 346 m².

A unidade, em construção na Central de Abastecimento (Ceasa), teria como missão abastecer escolas e Centros de Referência de Assistência Social (Cras). No discurso político, o prefeito Tião Bocalom (PL) ampliou a projeção, anunciando que a fábrica poderia produzir até 8 mil litros por dia e estaria pronta em fevereiro de 2025. O projeto também aparece no portal oficial #DeOlhoNaObra, registrado como obra em andamento.

A prorrogação tardia chama atenção porque a Nova Lei de Licitações e Contratos Administrativos (nº 14.133/2021) exige que aditivos sejam feitos dentro da vigência. Quando o prazo já expirou, a regra é abrir novo processo licitatório. A ausência de republicação por erro no DOE reforça a incongruência: o termo foi registrado como válido, sem menção a falha anterior.

Linha do tempo da “vaca mecânica”

– Campanha eleitoral (2020): Bocalom apresenta a “vaca mecânica” como promessa de combate à fome.
– 03/07/2024: Comissão de Licitação envia ofício pedindo esclarecimentos sobre o edital do pregão eletrônico nº 018/2024.
– 08/07/2024: Secretaria de Agropecuária responde oficialmente às impugnações.
– 12/07/2024: Data prevista para abertura do certame.
– Segundo semestre de 2024: Assinatura do contrato nº 01130007/2024 com a IZ da Silva e Equipamento – ME, no valor de R$ 512 mil.
– 31/12/2024: Prazo inicial de vigência do documento.
– 23/01/2025: Prefeito anuncia que a fábrica já estaria em funcionamento na Ceasa, com capacidade de até 8 mil litros/dia, e afirma que a obra estaria pronta em fevereiro de 2025.
– 23/12/2025: Publicação do termo aditivo prorrogando a vigência até 31/12/2025.

Impacto e transparência

O caso mostra a fragilidade do Executivo municipal diante das exigências legais e a necessidade de maior transparência sobre cronograma, custos e entregas. A narrativa oficial prometia leite de soja gratuito para escolas e famílias em vulnerabilidade, mas a realidade mostra um projeto que não saiu do papel, mesmo após a renovação. A cada publicação, a promessa se desloca para o futuro, revelando o descompasso entre discurso e execução.

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