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Polícia apura morte de jornalista em Rio Branco e brutalidade do crime levanta hipótese de crime de ódio

A Polícia Civil do Acre investiga as circunstâncias da morte do jornalista, colunista social e ativista cultural Moisés Alencastro de Souza, de 59 anos, encontrado morto dentro do apartamento onde morava, no Condomínio Nehine, bairro Morada do Sol, em Rio Branco, na noite de segunda-feira (22).

Segundo informações preliminares, o corpo apresentava múltiplas perfurações provocadas por faca, com ferimentos na região das costelas e do abdômen, além de um corte profundo no pescoço, descrito por investigadores como extenso e de elevada violência. A vítima foi localizada em estado de rigidez cadavérica, ao lado da cama, e a suspeita é de que o crime tenha ocorrido na noite do último domingo (21).

Embora a Polícia Civil ainda não tenha se manifestado oficialmente sobre a motivação do homicídio, as circunstâncias do crime levantam questionamentos que não podem ser ignorados, especialmente quanto à possibilidade de crime de ódio motivado por homofobia.

Especialistas em segurança pública e direitos humanos apontam que cortes profundos na região do pescoço, associados a múltiplos golpes, são frequentemente identificados em crimes de ódio, nos quais a violência extrapola o objetivo de matar e passa a carregar um caráter simbólico de punição, humilhação ou apagamento da identidade da vítima. Esse tipo de ferimento costuma ser interpretado como indicativo de raiva, desprezo ou intolerância, elementos comuns em crimes motivados por preconceito.

Moisés Alencastro era homossexual assumido, figura pública conhecida no meio cultural e social do Acre. Apesar disso, até o momento não há confirmação oficial de que a linha investigativa relacionada à homofobia esteja sendo considerada, o que tem gerado inquietação entre colegas de profissão, ativistas culturais e defensores dos direitos da população LGBTQIA+.

Outro fator que reforça o questionamento é que, conforme informações obtidas em caráter reservado, o apartamento não apresentava sinais de arrombamento ou de luta, sugerindo que a vítima conhecia o autor do crime ou permitiu sua entrada. Além disso, o veículo utilizado na fuga pertencia à própria vítima e foi posteriormente abandonado, o que, em análise inicial, poderá, dependendo do entendimento da autoridade policial do caso, afastar a hipótese de latrocínio e indica que a motivação pode ter sido pessoal ou simbólica, e não patrimonial.

A brutalidade empregada, aliada à ausência de sinais de roubo e à forma como o crime foi executado, reforça a necessidade de que todas as linhas de investigação sejam consideradas, incluindo a possibilidade de crime de ódio, conforme recomendam protocolos nacionais e internacionais de apuração de homicídios envolvendo vítimas LGBTQIA+.

A Polícia Civil informou que o caso está sob investigação da Delegacia de Homicídios e que diligências seguem em andamento, com coleta de imagens, depoimentos e laudos periciais. Até o momento, não há informações sobre suspeitos ou prisões, e a polícia afirma que nenhuma hipótese está descartada.

A morte de Moisés Alencastro provocou comoção no meio jornalístico e cultural, reacendendo o debate sobre a violência contra pessoas LGBTQIA+ e a importância de apurações rigorosas, transparentes e livres de preconceitos, especialmente quando há indícios de violência extrema. 

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