Enquanto vereadores exaltaram propostas de Zé Lopes contra violência, Márcio Mustafá destoou e permaneceu em silêncio, reforçando a crise de imagem da prefeitura
A Câmara de Rio Branco aprovou, nesta quinta-feira (4/12), quatro emendas do vereador Zé Lopes (Republicanos) voltadas para políticas de gênero. O pacote foi celebrado por parlamentares de diferentes partidos, mas teve um ponto de tensão: o líder do prefeito Tião Bocalom (PL), Márcio Mustafá (PSDB), destoou da unanimidade esperada. Ele foi contrário a duas proposições, absteve-se em uma e deixou de votar em outra.
As medidas contemplam programas de enfrentamento à violência contra a mulher, promoção da saúde integral, incentivo à participação política feminina e estímulo ao empreendedorismo. Todas foram validadas com ampla maioria em um plenário de 15 vereadores votantes. Lopes lembrou que o Acre tem registrado índices alarmantes de feminicídio e que “diversos casos foram noticiados nos jornais, inclusive dentro da prefeitura de Rio Branco”. Para ele, as propostas representam um passo inicial para estruturar políticas públicas municipais voltadas às mulheres.
Entre os parlamentares, o clima foi de apoio explícito. Elzinha Mendonça (PP), uma das duas mulheres eleitas, destacou que “esse tema é sensível dentro desta Casa” e parabenizou a iniciativa. André Kamai (PT) reforçou que “é hora de termos uma política clara, muito bem definida para fazer esse enfrentamento”, manifestando voto favorável aos quatro projetos do colega de oposição. Felipe Tchê (PP) também teceu elogios, afirmando que “essas emendas vão ao encontro de tudo aquilo que buscamos desde o início”.
No entanto, o comportamento do líder do prefeito chamou atenção. Recostado na poltrona, não pediu a palavra quando o presidente Joabe Lira (União Brasil) abriu espaço para manifestações. A postura contrastou com o entusiasmo dos pares e foi lida nos bastidores como sinal de constrangimento. Embora não tenha violado regras regimentais, a postura não verbal e os votos divergentes reforçaram a imagem de isolamento político.
Contexto político
A cena ganha relevância porque Mustafá é o principal defensor da gestão Bocalom na Câmara. O prefeito enfrenta desgaste por priorizar investimentos milionários festivos, como a decoração natalina e o show de drones, além da denúncia ao programa Asfalta Rio Branco, o atraso de mais de um ano na entrega do Viaduto da AABB e a crise de abastecimento de água. Somam-se ainda os casos de violência de gênero envolvendo aliados, como o superintendente da RBTrans, Clendes Vilas Boas, afastado por acusações de assédio moral, e o ex-deputado estadual e ex-assessor especial de Articulação Institucional, Helder Paiva, que foi condenado por assédio sexual.
Nesse contexto, a votação das emendas de Zé Lopes funcionou como um termômetro político. A maioria dos vereadores antecipou apoio às propostas, como se já soubessem da posição contrária e buscassem poupar a imagem da Casa. O episódio transcendeu a rotina legislativa ao expor como a pauta de gênero é tratada em um campo de disputa simbólica. Enquanto a Câmara buscou afirmar institucionalmente um compromisso urgente, o representante de Bocalom fez questão de se desassociar da pauta.
Em tempos de crise de credibilidade, cada gesto no plenário ganha peso. O silêncio, adicionado aos votos divergentes, sugere desconforto diante de um tema que pressiona diretamente a administração que Mustafá defende, rememorando a distância entre o discurso oficial da prefeitura, que sancionou lei proibindo a nomeação de condenados por violência doméstica, e a prática de proteger aliados denunciados. Até o fechamento desta matéria, o parlamentar não respondeu ao pedido de justificativa para seus votos. O canal permanece aberto para manifestação futura.

