A aprovação de emendas consideradas sensíveis ao governo estadual na Comissão de Orçamento e Finanças (COF) da Assembleia Legislativa do Acre (Aleac) desencadeou uma reação imediata da articulação política do Executivo, marcada por ligações a parlamentares, convocação emergencial de reunião e mobilização de servidores na sede do Legislativo. Essa é a informação repassada por uma fonte segura da Casa Legislativa.
Na tarde de quarta-feira (17), deputados aprovaram ao menos três emendas à Lei Orçamentária Anual (LOA) de 2026, que garantem o Reajuste Geral Anual (RGA), a recomposição de 10% das tabelas salariais da Educação e a abertura de brecha legal para efetivar o Plano de Cargos, Carreiras e Remuneração (PCCR) dos servidores da Saúde, caso haja margem na Lei de Responsabilidade Fiscal.
As emendas foram aprovadas por unanimidade na COF, inclusive com o apoio do líder do governo, deputado Manoel Moraes. O movimento contrariou a expectativa do Palácio Rio Branco, que até então não havia consolidado consenso interno sobre as pautas.
Articulação tardia
Logo após a aprovação, segundo apuração da reportagem, começaram a circular relatos de parlamentares sobre ligações feitas por integrantes da Secretaria de Articulação Política, em uma tentativa de “enquadrar” a base aliada e reverter o cenário construído na comissão.
Cerca de dez minutos depois, o líder do governo, Manoel Moraes, solicitou uma reunião emergencial com deputados na sala da presidência da Aleac, numa tentativa de reorganizar a base e conter o avanço das emendas antes da votação em plenário.
A movimentação foi interpretada por servidores como um possível recuo articulado nos bastidores.
Servidores sobem e pressionam
Cientes da articulação em curso, servidores públicos estaduais subiram até a área da presidência da Assembleia e passaram a se concentrar no local, em uma espécie de vigília política. O grupo teme que, após a aprovação inicial, o governo atue para derrubar ou esvaziar as emendas no plenário.
A mobilização elevou a tensão no Legislativo e expôs um racha momentâneo entre a articulação governista e parte da base parlamentar, que havia avançado nas emendas sem coordenação direta com o Executivo.
Governo ausente no momento-chave
O episódio ocorre no mesmo dia em que a imprensa local revelou que a equipe política do governo estava focada no acompanhamento do julgamento do governador Gladson Cameli no Superior Tribunal de Justiça (STJ), o que teria contribuído para a falta de reação inicial às emendas.
O cenário só mudou após a ausência do presidente da COF, deputado Tadeu Hassem, que, segundo apurado, deixou de comparecer à Aleac por discordar de posições do governo, abrindo espaço para a votação das propostas.
A LOA segue agora para o plenário com as três modificações-chave, enquanto o governo tenta recompor o controle político de uma pauta que avançou sem o seu comando direto.
