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Adailton Cruz, a Saúde e a rara vitória dos servidores sobre o governo

Não é todo dia que o governo perde. Muito menos perde dentro da própria base. E menos ainda perde quando mobiliza articulação de última hora, pressão silenciosa e emissários experientes. A vitória dos servidores na Comissão de Orçamento e Finanças da Assembleia Legislativa não foi obra do acaso, foi resultado de coragem política, vigilância e enfrentamento direto.

No centro desse movimento está o deputado Adailton Cruz (PSB).

Servidor da Saúde, sindicalista de origem e hoje parlamentar da base governista, Adailton fez o que poucos fazem no Acre: peitou o governo em nome da categoria que representa, mesmo sabendo o custo que isso pode gerar nos bastidores. Em política, todos sabem: contrariar o Executivo nunca é um gesto neutro. É escolha. E ele escolheu o lado dos servidores da Saúde.

Foi dele a rubrica que garantiu a brecha para efetivar o PCCR da Saúde em 2026, condicionada à Lei de Responsabilidade Fiscal. Um detalhe técnico? Não. Um movimento estratégico. Um recado claro de que a Saúde não aceitaria mais promessas vagas nem discursos genéricos sobre “limites fiscais” usados seletivamente.

Adailton não se escondeu atrás da base. Não terceirizou a responsabilidade. Assumiu o protagonismo, virou porta-voz da categoria e sustentou a posição até o fim, mesmo sob risco de retaliações que fazem parte do jogo, mas não deveriam fazer parte da democracia.

Ao lado dele, um nome  experiente e igualmente decisivo: Edvaldo Magalhães (PCdoB). Histórico defensor dos servidores, especialmente da Saúde e Educação, Edvaldo foi o autor das emendas que garantem, de forma expressa no texto da LOA, o Reajuste Geral Anual (RGA) e a recomposição de 10% das tabelas da Educação. Edvaldo jogou onde sempre jogou: no campo da coerência.

Juntos, eles impuseram uma derrota rara ao governo. Não foi no grito, foi na estratégia, foi fazendo os outros deputados lembrarem o que jamais deveriam esquecer: eles também tem autonomia. 

A movimentação de última hora do secretário da Casa Civil, Jonathan Donadoni, não foi visita protocolar. Não foi gesto de cortesia. Foi missão. Missão dada, missão que não foi cumprida. O governo tentou reagir quando percebeu que perderia, mas encontrou um cenário que não esperava: dois deputados atentos, articulados e dispostos a bancar o enfrentamento. 

O acordo construído entre os parlamentares, incluindo o líder, escancarou um fato incômodo: quando a Assembleia quer, ela decide. E decidiu a favor dos trabalhadores.

O mais simbólico desse episódio não é apenas a vitória material dos servidores, é o precedente político que se cria. Adailton Cruz escreve uma nova página na política acreana ao mostrar que é possível ser base sem ser submisso, governista sem ser silenciado, aliado sem abrir mão de princípios.

Foi inédito. Foi grande. Foi democrático.

E, sobretudo, foi uma vitória que não caiu do céu, foi construída com trabalho árduo, persistência e vigília constante. Coisa rara na política. E exatamente por isso, histórica.

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