Em Belém para participar da 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP30), Ângela Maria Feitosa Mendes, filha do líder seringueiro e ambientalista Chico Mendes, avaliou os primeiros resultados do encontro e refletiu sobre como seu pai veria uma conferência climática realizada em plena Amazônia.
Ângela, que atualmente coordena o Comitê Chico Mendes, relembrou que o espaço foi criado na mesma noite do assassinato de seu pai, em 1988, por lideranças políticas e de direitos humanos que exigiam que o crime não ficasse impune. Hoje, o Comitê atua também na formação de jovens e mulheres da Reserva Extrativista (Resex) Chico Mendes, inspirado por uma carta deixada pelo ambientalista pouco antes de morrer, dedicada às futuras gerações.
“Desculpem. Eu estava sonhando quando escrevi estes acontecimentos que eu mesmo não verei. Mas tenho o prazer de ter sonhado”, diz um trecho da carta.
Ao comentar a realização da COP30 na Amazônia, Ângela destacou que o encontro evidencia os grandes desafios enfrentados pelas populações da floresta no acesso a políticas públicas que garantam condições dignas de vida.
“Quando uma COP que fala de justiça climática acontece aqui na Amazônia, a gente olha e vê como existe um desafio muito grande para que essas pessoas, de fato, acessem políticas públicas que lhes garantam viver com dignidade”, afirmou.
Ela também ressaltou que movimentos sociais — como povos da floresta, quebradeiras de coco, quilombolas e indígenas — seguem reivindicando espaço nas decisões, mas ainda não estão sendo devidamente ouvidos dentro do contexto da conferência.
“Mas ainda é cedo para afirmar. Acho que essa semana muita coisa está sendo definida. Todos estamos torcendo para que saia um acordo que possibilite o acesso a financiamento climático que fortaleça esses povos em seus territórios”, disse à Agência Brasil.
Ângela Mendes defendeu que todos os setores da sociedade podem contribuir para soluções ambientais. Para ela, alianças com a comunidade acadêmica são fundamentais.
“A academia produz conhecimento, pesquisa, e os cientistas dizem que ainda há muito a ser estudado na Amazônia. Esse conhecimento pode trazer inovação tecnológica a partir também dos saberes de quem vive aqui”, avaliou.
Ela também defendeu que bancos diversifiquem suas linhas de crédito. “Os bancos podem deixar de financiar apenas o agronegócio e a mineração e abrir linhas para pequenos empreendedores. Sabemos da relação deles com quem tem capital, mas é importante repensar essa relação também com os pequenos”, completou.
Questionada sobre como seu pai enxergaria uma conferência global sobre clima realizada na Amazônia, Ângela foi categórica ao afirmar que Chico Mendes veria o evento como uma grande oportunidade.
“Acho que ele teria olhado como uma oportunidade de construir possibilidades de melhorar a vida dos companheiros e companheiras. A luta dele não era só pela conservação da floresta, mas também pela manutenção dos modos de vida tradicionais. Ele era um lutador incansável pela justiça socioambiental”, declarou.
Chico Mendes foi assassinado em 1988, aos 44 anos, na casa em que morava em Xapuri, no interior do Acre. Se estivesse vivo, completaria 81 anos em dezembro deste ano.
