Escritora best-seller, apresentadora e produtora de shows, ela é a voz que costura K-pop, fandom e narrativa no evento em Rio Branco
A cada atividade no palco principal da Headscon Acre 2025, o público já sabe: quando entra Babi Dewet, a energia da plateia sobe meio tom. Escritora best-seller, roteirista, apresentadora e referência em K-pop e cultura coreana, ela é uma das apresentadoras oficiais desta edição do evento – é sua responsabilidade mediar painéis, conduzir conversas com convidados e acender o clima de fandom que percorre toda a programação.
No primeiro dia, Babi já inaugurou a agenda em grande estilo. Primeiro, como uma das convidadas do painel de abertura sobre influência no mundo dos games, ao lado dos criadores JVNQ e Malena e com mediação de Leonardo Zalcman. Depois, em uma espécie de “talk show ao vivo’ com Lopinho TV, seguido de um meet & greet.
Horas mais tarde, ela retornou ao palco para inaugurar o campeonato de K-pop e cruzar, mais uma vez, os mundos que ela conhece melhor do que ninguém: fãs, música e narrativa.
Quando a fã vira protagonista
Antes de ser “a voz do K-pop” em palcos e telas, Babi foi (e continua sendo) uma fã. Nascida no Rio de Janeiro em 1986, ela cresceu em Alto Paraíso (GO), onde descobriu que podia ficar mais tempo dentro das histórias do que fora delas. Ainda adolescente, começou a escrever fanfics na internet, transformando bandas, séries e referências em narrativas próprias.
Babi define fanfic de forma simples: “É uma narrativa escrita para expandir um universo que já existe. É uma história a partir de uma história que já está pronta”.
Em 2009, ela decidiu dar um passo adiante. Escolheu uma de suas fanfics mais queridas, inspirada na banda britânica McFLY, e publicou de forma independente o livro “Sábado à Noite”. O que nasceu como uma história interativa em fóruns, em que os leitores escolhiam nomes e se imaginavam dentro do enredo, virou uma trilogia, vendeu milhares de exemplares e, anos depois, ganhou nova edição, novo título (“As coisas que eu não disse”) e o selo da Rocco, uma das maiores editoras do país.
“Nada se cria do zero, tudo é referência de alguma coisa”, Babi costuma dizer. Para ela, escrever fanfic é um laboratório de escrita, leitura e comunidade. É uma forma de escrever “porque se ama algo”, e não porque pode virar produto.
Atualmente, ela se define de maneira que resume bem sua presença na Headscon: “Autora best-seller, fã profissional, ACE/DEMI, TDAH, formada em Cinema, dona de seis gatos e muitos álbuns de K-pop”.

A ponte entre K-pop, Hallyu e o brasileiro
Se hoje o público da Headscon a reconhece como especialista em K-pop, não é por acaso. Babi Dewet foi uma das primeiras vozes a ocupar, com consistência, o espaço de divulgação da Hallyu (a chamada “Onda Coreana”) no Brasil.
Entre seus feitos, ela apresentou o “Ponto KPOP”, primeiro programa dedicado ao gênero na TV brasileira; foi coapresentadora do “KPAPO”, o primeiro podcast original do Spotify sobre K-pop e Hallyu; e foi MC do palco do primeiro show do BTS na América do Sul, em São Paulo, em 2014.
Babi também produziu e apresentou o show do girlgroup MAMAMOO no Brasil, em 2018; assina dois livros de não-ficção sobre cultura coreana, “K-pop: Manual de Sobrevivência” e “K-pop: Além da Sobrevivência”, que hoje servem de referência para fãs, pesquisadores e estudantes; e deu consultoria para marcas interessadas na cultura coreana, como Universal Music Brasil e FILA.
Na Headscon Acre 2025, esse repertório voltou a se encontrar com o público. Ao longo dos três dias, Babi intermediou painéis de K-pop e ajudou a abrir o campeonato da categoria, servindo como espécie de tradutora simultânea entre dois mundos: o dos fãs que sabem de cor cada coreografia, e o das marcas, empresas e instituições, que ainda tentam entender por que grupos de idols coreanos costumam lotar estádios no Brasil.
Outra faceta da trajetória de Babi passa por uma parceria que atravessa gerações: Turma da Mônica Jovem. Convidada pela editora Gutenberg e pela Maurício de Sousa Produções, ela escreveu dois livros em que conduz Mônica e seus amigos para o universo de cultura geek e K-pop.
Em “Uma viagem inesperada”, a personagem vai à Coreia do Sul e mergulha no mundo dos shows de K-pop. Já em “Um convite inesperado”, precisa enfrentar medos e se divertir dançando em um grande evento de cultura pop.
Para Babi, escrever esses livros foi “como fazer uma fanfic oficial” de uma história que a acompanhou desde a infância – um gesto simbólico para alguém que sempre defendeu o valor das fanfics como porta de entrada para a literatura.
Do papel para a tela
Em 2023, uma de suas histórias atravessou outra fronteira. O conto de “Outono”, da coletânea “Um Ano Inesquecível” (escrita ao lado de Paula Pimenta, Bruna Vieira e Thalita Rebouças), ganhou adaptação como filme musical no Prime Video.
Dirigido por Lázaro Ramos e com participações de Iza, Rael, Lulu Santos e Larissa Luz, o filme levou para o streaming uma história em que música e sentimentos caminham juntos. Babi dividiu o roteiro com a autora Keka Reis e acompanhou de perto as gravações nas ruas de São Paulo.
Na Headscon, evento em que games, cinema, música e fandom se cruzam o tempo todo, o percurso de página a tela ecoa nas conversas que Babi conduz no palco sobre influência, responsabilidade e impacto. E se existe um eixo que organiza tudo o que faz, ele atende por uma palavra: fandom.
Na juventude, antes das redes sociais, ela conta que ser fã exigia outro tipo de logística: criar fã-clubes com carteirinhas impressas, marcar encontros presenciais, trocar revistas e montar pastas com recortes. Atualmente, as comunidades migraram para o digital, mas a lógica de pertencimento segue a mesma.
Ao falar sobre fanfics, Babi é categórica de que não considera demérito nenhum escrevê-las. Ela lembra que fenômenos de venda como “Cinquenta Tons de Cinza” nasceram como uma fanfic de outras obras, e que há anos o mercado literário já entendeu a força desse tipo de produção.
Na Headscon Acre 2025, onde a cultura de mods, roleplay e comunidades de jogos aparece em todos os segmentos, essa defesa das fanfics encontra eco natural. A lógica, afinal, é parecida: pegar algo que se ama, mexer, expandir, transformar em outra coisa e, quem sabe, inaugurar um novo produto, um novo mundo, um novo jeito de jogar.
O palco da Headscon Acre 2025 tornou-se a casa temporária de Babi Dewet, onde sua trajetória de fã, autora e apresentadora encontrou uma plateia que se reconhece na mesma mistura de referências.
Entre cosplayers, telões e coreografias, fica claro por que ela gosta de se definir como “fã profissional”: Babi é, ao mesmo tempo, produto e produtora de cultura pop.
