Parlamentar apresenta dados do Feminicidômetro e alerta que redução recente não significa fim da violência
“A violência contra a mulher não é um problema da mulher. É um problema da sociedade.” A frase da ativista Maria da Penha foi usada pela vereadora Elzinha Mendonça (PP) para encerrar um pronunciamento firme na Câmara Municipal de Rio Branco. Na sessão desta quarta-feira (5/11), ela destacou a gravidade dos feminicídios no Acre, apresentou dados históricos sobre a violência e alertou que, apesar da queda recente nos registros, o problema permanece urgente.
Durante a intervenção, a parlamentar mencionou o homicídio de Cibelly Rodrigues Silva, de 18 anos, como exemplo da brutalidade que ainda impera no estado. O crime, ocorrido há cerca de duas semanas em Porto Acre, terminou com o companheiro da vítima tirando a própria vida após matá-la dentro de casa. “Esse caso nos choca, mas infelizmente não é isolado. Ele representa o retrato cruel da violência doméstica que tantas mulheres enfrentam em silêncio”, afirmou.
Em seguida, Mendonça apresentou dados do painel Feminicidômetro, que é vinculado ao Ministério Público do Acre (MPAC). “São 87 mulheres mortas por quem dizia amá-las, 158 que escaparam por pouco”, disse, referindo-se ao levantamento que reúne registros entre janeiro de 2018 e outubro de 2025.
A vereadora também destacou os números do Disque 180, que é um canal do governo federal que recebe denúncias telefônicas sobre agressões contra mulheres. Entre janeiro e julho deste ano, foram contabilizados 102 atendimentos no Acre. “Essas são as que conseguiram pedir ajuda. Mas e as que não conseguiram? Quantas estão sofrendo em silêncio, com medo, sem saber a quem recorrer?”, questionou.
Apesar da redução de 50% nos casos de feminicídio nos primeiros seis meses de 2025 em comparação com o mesmo período de 2024, Mendonça alertou que essa queda não pode ser interpretada como sinal de tranquilidade. “Toda redução é bem-vinda, mas não podemos permitir que essa aparente melhora sirva de anestesia. Cada uma dessas vidas tem nome, tem história, tem sonhos interrompidos”, declarou.
Ao final do discurso, a parlamentar defendeu a ampliação de políticas públicas, campanhas permanentes de conscientização e investimentos em educação. “A mudança verdadeira começa na escola. Precisamos ensinar desde cedo que respeito, igualdade e empatia são valores fundamentais”, afirmou. Ela ressaltou a importância de formar meninos para não naturalizarem o controle e a violência, e de orientar meninas para que reconheçam sinais de abuso.
“Como vereadora, como mulher e como cidadã, eu não posso me calar. Não posso fingir que isso é normal. É preciso romper com essa realidade nefasta que tem exterminado mulheres e destruído famílias”, concluiu. Elzinha Mendonça é uma das duas únicas mulheres eleitas para compor a atual legislatura, que conta com 21 cadeiras.
