terça-feira, 11 novembro 2025

Denúncias de cooptação e compra de votos reacendem crise nas eleições do Conselho de Farmácia do Acre

Por Gina Menezes, da Folha do Acre

As eleições do Conselho Regional de Farmácia do Acre (CRF-AC) voltaram a ser alvo de polêmica em 2025 após novas denúncias de cooptação e compra de votos reacenderem suspeitas sobre a lisura do processo eleitoral e a conduta de membros ligados à direção da entidade.

Mensagens de grupos de WhatsApp e relatos de farmacêuticos do estado apontam a existência de um esquema de favorecimento que envolveria intermediação na regularização de farmácias em troca de apoio eleitoral. Em uma das conversas obtidas pela reportagem, um profissional afirma que “votaria na chapa que o apoiador pediu porque ele havia ajudado a regularizar a farmácia”, uma admissão que, se confirmada, pode caracterizar compra de votos e abuso de poder econômico.

De acordo com as denúncias que a reportagem do Jornal Folha do Acre recebeu, a pessoa que estaria por trás do suposto esquema seria o suplente de conselheiro federal pelo Conselho Regional de Farmácia do Acre (CRF-AC), Cleyton Pena, o mesmo que em 2024 foi acusado de abuso de poder econômico e teve a eleição em que lhe daria vitória suspensa por meio de uma liminar assinada pela juíza Luzia Farias de Mendonça, da 2 Vara Federal Civil e Criminal do Estado do Acre.

Mesmo sem ocupar cargo de candidato oficial, Pena tem sido apontado como o articulador de bastidores de um sistema que envolveria trocas de favores e influência em processos de regularização de farmácias em troca de apoio eleitoral.

De acordo com informações obtidas pela Folha do Acre, o esquema operaria de forma velada: Cleyton atuaria como facilitador na regularização de estabelecimentos farmacêuticos, utilizando seu prestígio e conexões dentro do conselho para agilizar ou intermediar trâmites burocráticos.

Posteriormente, os beneficiados seriam pressionados a retribuir o “favor” com votos em chapas apoiadas por ele, o que, se confirmado, pode configurar compra de votos e abuso de poder econômico em uma entidade pública de representação profissional.

Um print de grupo de WhatsApp, obtido pela reportagem, reforça as suspeitas. Na mensagem, um integrante relata que vários profissionais afirmaram votar “na chapa que o Cleyton pediu porque ele ajudou e eles deviam isso a ele”. O conteúdo da conversa vem sendo tratado como prova de influência indevida dentro da categoria.

“Amigo, gosto de você, mas vou votar na chapa que o Cleyton pediu porque ele me ajudou e devo isso a ele”, diz o trecho reproduzido em uma das mensagens.

Fontes ligadas ao setor afirmam que esse tipo de abordagem não é novidade. Cleyton Pena já foi citado em outras polêmicas envolvendo disputas eleitorais no CRF/AC. Em 2023, a Justiça Federal do Acre chegou a anular o resultado das eleições do conselho após identificar abuso de poder econômico e uso indevido de estrutura institucional durante a campanha da chapa na qual ele atuava como articulador.

Em 2024, o Ministério Público Federal (MPF) abriu inquérito civil para investigar supostas irregularidades e vícios no processo eleitoral da entidade, reforçando o cerco sobre a atuação política dentro do órgão.

As novas acusações, se comprovadas, podem reacender questionamentos sobre a integridade do processo eleitoral no Conselho Regional de Farmácia e a influência de figuras com poder de intermediação sobre profissionais e empresas do setor.

 

Até o momento, Cleyton Pena não se pronunciou oficialmente sobre as denúncias. Ao ser questionado a respeito das denúncias, Cleyton apenas questionou quem seria o autor das denúncias. “Quem é que saiu com essa conversa absurda que fere minha honra?”, limitou-se a questionar não respondendo sobre as acusações.

A reportagem assegurou ao denunciante o sigilo da fonte e se cercou de vasto material, inclusive os autos que já tramitam no MPF.

MPF segue averiguando denúncias de irregularidades no Conselho Regional de Farmácia do Acre

 A reportagem do Jornal Folha do Acre entrou em contato com o Ministério Público Federal (MPF), via assessoria de imprensa, para obter maiores informações sobre os procedimentos de investigação que se encontram naquele órgão. O órgão confirmou que segue averiguando uma série de denúncias relacionadas ao Conselho Regional de Farmácia do Acre (CRF/AC). Os protocolos entregues pela fonte, que será mantida em off, foram confirmadas pelo órgão. Os procedimentos que estão em andamento são para apurar suspeitas que vão desde supostas fraudes eleitorais até uso irregular de recursos públicos e descumprimento de decisões judiciais.

 Segundo o MPF, atualmente estão instaurados sete procedimentos envolvendo o CRF/AC, todos no âmbito cível e de tutela coletiva. As investigações abrangem tanto o Conselho Regional quanto o Conselho Federal de Farmácia, e tratam de possíveis irregularidades administrativas, eleitorais e financeiras.

Entre os casos em apuração, está o Inquérito Civil nº 1.10.000.000962/2023-61, que investiga suposta existência de vícios e fraudes no processo eleitoral que escolheu os membros e a diretoria do conselho em outubro de 2023. A votação, realizada de forma online por meio do site “votafarmaceutico.org.br”, é alvo de questionamentos quanto à sua lisura e transparência.

 Em 2024, novas denúncias deram origem a três inquéritos policiais federais. O primeiro (NF 1.10.000.000642/2024-92) apura possíveis irregularidades cometidas pelos Conselhos Regional e Federal de Farmácia, como descumprimento do regimento interno e de decisões judiciais. Já o NF 1.10.000.000641/2024-48 investiga uma suposta reintegração irregular de um suplente ao cargo de Conselheiro Federal de Farmácia pelo Acre.

Outro procedimento de destaque é o NF 1.10.000.000751/2024-18, que trata de descumprimento do Regimento Interno, usurpação de poder colegiado e adulteração de documento público para reiterado descumprimento de decisão judicial, supostamente praticados pela diretoria do órgão.

 Também está em andamento o NF 1.10.000.001052/2024-87, que apura suposto pagamento irregular de diárias e passagens a servidores e conselheiros do CRF/AC.

 Já em 2025, o MPF instaurou dois novos procedimentos (NF 1.10.000.001295/2025-04 e 1.10.000.001303/2025-12) para investigar o uso de recursos públicos e propaganda irregular nas eleições do Conselho, previstas para os dias 12 e 13 de novembro de 2025. Um outro registro mais recente, 1.10.000.001330/2025-87, ainda não foi autuado, mas também trata de supostas irregularidades administrativas e eleitorais.

 

A assessoria afirmou ainda que existe uma denuncia que segue em sigilo. 

As investigações seguem em curso, e o MPF deverá ouvir membros e ex-integrantes da diretoria, além de requisitar documentos, relatórios financeiros e registros internos para apurar as denúncias. Até o momento, não há conclusões definitivas sobre os casos.

O espaço permanece aberto para manifestações do Conselho Regional de Farmácia do Acre (CRF/AC), da diretoria atual e do Conselho Federal de Farmácia.

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