Ícone do site Folha do Acre

COP30 em Belém: o futuro do planeta passa pela Amazônia

Entre promessas de descarbonização, discursos sobre justiça climática e críticas à infraestrutura, a conferência coloca o Brasil no centro do debate global — e desafia o país a transformar discurso em ação.

A Amazônia no centro do mundo

A capital paraense viveu dias históricos ao sediar a 30ª Conferência das Partes da ONU sobre Mudanças Climáticas (COP30). De 10 a 21 de novembro, Belém se tornou o coração do debate ambiental internacional, abrigando líderes de mais de 190 países, cientistas, ambientalistas e povos tradicionais da Amazônia.

A escolha da cidade foi simbólica e estratégica: reconhecer que não há futuro climático sem a Amazônia. O bioma, essencial para o equilíbrio térmico e hídrico do planeta, finalmente ganhou o protagonismo que há décadas se reivindicava nos bastidores da diplomacia ambiental.

“Perder a meta de 1,5°C é uma falha moral e uma negligência mortal”, declarou o secretário-geral da ONU, António Guterres, na abertura da conferência.

O tom do evento foi de urgência e cobrança. As nações foram pressionadas a revisar suas Contribuições Nacionalmente Determinadas (NDCs), ampliando metas de corte de emissões e adaptação. Ao mesmo tempo, a justiça climática e a inclusão dos povos indígenas e ribeirinhos foram tratadas como eixos centrais — não mais como pautas paralelas.

O contraste entre discurso e realidade

Enquanto Belém se vestia para receber o mundo, os bastidores revelavam contradições. Obras atrasadas, greves de operários e preços de hospedagem multiplicados por dez geraram críticas e apreensão.

Reportagens internacionais destacaram que a infraestrutura da COP30 provocou impactos ambientais e sociais — ironicamente, em nome da sustentabilidade. A construção de vias e hotéis às pressas levantou questionamentos sobre quanto de floresta foi sacrificada para sediar um evento que prega sua preservação.

“É o desafio da coerência: a COP da Amazônia precisa ser também a COP da verdade”,
escreveu um analista do Le Monde.

Mesmo assim, o clima de otimismo prevaleceu. Para muitos, o fato de o mundo olhar diretamente para a Amazônia já representa uma virada de chave simbólica e diplomática.

Avanços e novos compromissos

O Brasil, anfitrião do evento, buscou reafirmar seu protagonismo climático. O governo apresentou a proposta de uma Aliança Amazônica para o Desenvolvimento Sustentável, com foco em bioeconomia, energia limpa e combate ao desmatamento.

Além disso, a Organização Mundial da Saúde lançou o Plano Belém de Ação em Saúde e Clima, reforçando a ligação entre mudanças climáticas e doenças emergentes — um marco que amplia a agenda ambiental para o campo da saúde pública.

As discussões também destacaram o impasse financeiro: os países do Sul Global exigiram dos ricos compensações justas e financiamento climático concreto, apontando que não é possível cobrar metas de quem ainda luta por sobrevivência básica.

O impacto direto no Acre

Para o Acre, que integra a Amazônia Legal, a COP30 tem implicações profundas. O estado compartilha com o Pará desafios como a pressão sobre a floresta, o desmatamento ilegal e a vulnerabilidade das populações ribeirinhas e indígenas.

Se as negociações resultarem em fundos para bioeconomia, crédito de carbono e pagamento por serviços ambientais, o Acre poderá emergir como um modelo de sustentabilidade regional, transformando sua riqueza natural em ativo econômico e social.

Mas, se a conferência repetir o roteiro das anteriores — repleta de promessas não cumpridas —, o risco é que o Acre e o restante da Amazônia voltem a ser apenas cenário exótico para fotos e discursos de ocasião.

Entre esperança e cobrança

A COP30 encerra-se com a sensação de que o tempo está acabando. As negociações mostraram avanços diplomáticos, mas o planeta segue em rota perigosa: o aquecimento global já ultrapassa limites críticos e a perda da biodiversidade é alarmante.

Belém, neste novembro histórico, mostrou o melhor e o pior da política climática:
a esperança de um mundo mais justo e sustentável, e a dificuldade de transformar promessas em realidade.

“A Amazônia não pode ser apenas um tema, precisa ser um pacto”, afirmou um líder indígena durante a plenária final.

Se esse pacto se concretizar, o Brasil sairá da COP30 com autoridade moral e política para liderar o século verde.

Se não, ficará claro que a Amazônia continua sendo o pulmão do mundo — mas respirando por aparelhos.

*Adriano Gonçalves é jornalista especializado em geopolítica, ciência e meio ambiente

Sair da versão mobile