A deputada estadual Michelle Melo, destacou a necessidade de uma mudança cultural profunda na sociedade acreana para enfrentar o feminicídio e as diversas formas de violência contra a mulher. A fala ocorreu na manhã desta quinta-feira, 23, durante audiência pública na Assembleia Legislativa do Acre (Aleac), realizada por meio do Requerimento nº 100/2025, de autoria do deputado estadual Afonso Fernandes, que teve como tema central o combate ao feminicídio no estado.
A parlamentar ressaltou que a audiência representa um espaço de escuta e diálogo essencial com a sociedade, especialmente diante da realidade de violência que atinge mulheres em todo o Acre. Michelle, que também é médica, relembrou episódios de discriminação e violência que enfrentou ao longo da carreira e afirmou que essa é uma experiência compartilhada por muitas mulheres acreanas.
“Nós sofremos violência psicológica, física, política e institucional. Não é fácil para nós, mulheres, ocuparmos espaços que antes eram apenas de homens. Infelizmente, essa cultura ainda é muito enraizada no Acre, mas nós estamos aqui para quebrá-la e vencê-la”, afirmou a parlamentar.
A deputada destacou o compromisso da Aleac com a pauta feminina e lembrou que todos os projetos de lei voltados para a proteção e valorização das mulheres têm recebido aprovação na Casa, independentemente de autoria. “Tudo que é voltado para a mulher, nós aqui aprovamos. E somos autoras de leis que nos ajudam nesse combate ao feminicídio”, frisou.
Michelle Melo também chamou atenção para as limitações estruturais e operacionais da rede de proteção às mulheres, citando a Patrulha Maria da Penha, que realiza um trabalho fundamental, mas enfrenta desafios pela falta de efetivo e estrutura.
“Temos uma política pública importante, mas precisamos nos questionar. A Patrulha Maria da Penha faz um trabalho excepcional, porém conta com menos de 30 policiais em um estado com índices altíssimos de violência doméstica. Falta estrutura, e a rede de assistência ainda não funciona de forma integrada como deveria”, destacou a deputada.
A parlamentar fez críticas à ausência de um atendimento articulado nas unidades de saúde e questionou o preparo das equipes para lidar com casos de violência doméstica. Segundo ela, ainda há falhas na identificação e encaminhamento das vítimas para a rede de apoio.
“Se uma mulher chegar a uma UPA e disser que o marido tentou agredi-la, será que o atendimento saberá o que fazer? Muitas vezes, não. Falta integração, falta preparo, e acabamos perdendo essas mulheres pelo caminho”, lamentou Melo.
Michelle Melo reforçou que o enfrentamento à violência contra a mulher precisa ultrapassar o âmbito legislativo e alcançar as escolas, famílias e instituições públicas, com ações educativas e preventivas desde a infância.
“Precisamos ensinar nossas crianças sobre respeito, sobre o que é violência e sobre seus direitos. Muitas mulheres não sabem que estão sofrendo violência até terem acesso à informação. Essa é uma mudança que precisa começar cedo”, afirmou Michelle.
A deputada defendeu que o combate ao feminicídio não pode ser tratado como uma pauta pontual, mas como uma política permanente, transversal e de compromisso coletivo entre os poderes e a sociedade.
“Os homens precisam entender que nós não disputamos espaço, nós apenas queremos viver, sonhar e ser respeitadas. O Acre ainda não vive uma realidade de respeito pleno às mulheres, e é isso que precisamos mudar. Que cada um reflita sobre o que tem feito para garantir que as mulheres acreanas possam viver em paz”, concluiu.