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A sofrência de Eduardo Bolsonaro e o encontro de Lula com Trump: entre a crise familiar e o tabuleiro global

O cenário político brasileiro vive dias de ironia histórica. Enquanto o deputado federal licenciado Eduardo Bolsonaro atravessa o que muitos já chamam de uma “sofrência política”, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva tenta reconstruir pontes internacionais em meio a uma das maiores tensões diplomáticas recentes: o encontro com o ex-presidente norte-americano Donald Trump, em Kuala Lumpur.

A sofrência de Eduardo Bolsonaro: entre a sombra e a vitrine

Filho do ex-presidente Jair Bolsonaro, Eduardo tem enfrentado um desgaste interno e público. Recentemente, o parlamentar admitiu sentir-se desconfortável com declarações do próprio pai, que sugeriu que ele “não teria perfil” para a vida pública — afirmação que Eduardo teria recebido como um desmerecimento de sua trajetória.

Nos bastidores, assessores confirmam que o deputado tem buscado uma mudança estratégica: menor exposição na imprensa e uma atuação mais discreta desde que passou a residir temporariamente nos Estados Unidos. Essa reconfiguração seria uma tentativa de se reposicionar politicamente e aliviar a pressão que vem tanto da base bolsonarista quanto da opinião pública.

Para completar o enredo, Eduardo se viu em meio ao imbróglio das tarifas impostas por Trump a produtos brasileiros — taxas que ele chegou a defender em parte, mesmo sem alinhamento oficial do Itamaraty. O episódio provocou críticas dentro e fora do Congresso, aprofundando a imagem de isolamento que o deputado tenta agora contornar.

Lula e Trump: aproximação diplomática ou duelo estratégico?

Enquanto isso, no cenário internacional, Lula e Donald Trump protagonizaram um encontro simbólico à margem da cúpula da ASEAN (Associação das Nações do Sudeste Asiático), na Malásia.
Segundo o presidente brasileiro, Trump teria garantido que “um novo acordo comercial entre Brasil e Estados Unidos” está no horizonte. O norte-americano, contudo, respondeu de forma cautelosa: “Vamos ver o que acontece”.

O pano de fundo do encontro é delicado. As tarifas de até 50% sobre produtos brasileiros, impostas pelo governo Trump como reação política à condenação de Jair Bolsonaro por tentativa de golpe, provocaram um choque na relação bilateral. Lula, por sua vez, afirmou que o Brasil “não se curvará a humilhações” e que buscará “diálogo sem submissão”.

Diplomatas avaliam que o gesto de Lula é duplo: busca aliviar tensões comerciais e, ao mesmo tempo, afirmar o protagonismo do Brasil num contexto internacional cada vez mais polarizado.

Do drama familiar à geopolítica global

O curioso é como esses dois universos — o drama político de Eduardo e a diplomacia de Lula — se entrelaçam.

Enquanto o filho do ex-presidente tenta manter viva a chama de um movimento conservador que perdeu parte de seu ímpeto, Lula se move para reposicionar o Brasil no cenário internacional, tentando neutralizar os efeitos do bolsonarismo em sua política externa.

De um lado, a sofrência de Eduardo simboliza o cansaço de uma ala que resiste à perda de influência.

De outro, o encontro de Lula e Trump revela que o jogo global não se define mais por afinidades ideológicas, mas por pragmatismo e sobrevivência econômica.

Conclusão: o Brasil entre dois mundos

Entre o drama pessoal e o cálculo diplomático, o Brasil segue em busca de um novo equilíbrio.

Eduardo Bolsonaro tenta encontrar seu lugar em meio ao esvaziamento de sua influência e às fissuras familiares que se tornam públicas. Já Lula aposta na diplomacia e no comércio exterior como instrumentos para recolocar o país em outro patamar de diálogo com as potências.

A pergunta que fica é simples, mas profunda: a política brasileira ainda é sobre pessoas — ou já se tornou um jogo de forças globais?

Enquanto isso, o país assiste, dividido, a esse curioso enredo onde o drama familiar e a geopolítica internacional se confundem no mesmo palco.

Adriano Gonçalves é colunista da Folha do Acre. Cobre política, geopolítica e cultura sobre o Brasil no cenário global.

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