Realizado pela primeira vez em 1994, o Grito dos Excluídos chegou à sua 31ª edição neste domingo (7), com manifestações em diversas cidades brasileiras. No Acre, o ato reuniu militantes de movimentos sociais, sindicais e organizações ligadas à Igreja Católica no centro de Rio Branco, em paralelo ao desfile oficial de 7 de Setembro.
Criado a partir de uma iniciativa da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), o Grito dos Excluídos ocorre anualmente no Dia da Independência com o objetivo de propor uma reflexão crítica sobre desigualdade social, direitos humanos e soberania nacional. A cada ano, um tema norteia as mobilizações. Em 2025, o lema escolhido foi “Vida em primeiro lugar: cuidar da Casa Comum e da democracia de todos os dias”.
No Acre, o ato foi organizado por entidades como o Movimento Negro Unificado (MNU), a União da Juventude Comunista (UJC), Partido Comunista Brasileiro (PCB), Partido dos Trabalhadores e setores da Igreja Católica ligados à Teologia da Libertação. Representantes de centrais sindicais e de coletivos de juventude também participaram.

Segundo Kaique Mendonça, integrante da UJC, a mobilização tem papel estratégico em um Estado que, em 2022, deu mais de 77% dos votos ao ex-presidente Jair Bolsonaro. “É um momento importante de mostrar que estamos resistindo e de marcar enfrentamento à onda conservadora”, afirmou.
Valéria Santana, coordenadora estadual do MNU, destacou o caráter plural da manifestação. “O Grito dos Excluídos é um momento de encontro das lutas. Nossa perspectiva de democracia é com participação popular e defesa de direitos para uma população diversa e plural”, disse.
O vereador Kamai (PT) também esteve presente e relacionou o ato ao histórico recente de instabilidade política no País. “Impedido esse golpe que poderia ter acontecido – aliás, ele vem acontecendo desde 2013, quando a gente começou os movimentos, quando a extrema direita tomou conta das ruas, quando a extrema direita golpeou a presidenta Dilma em 2016”, declarou.
Neste ano, as manifestações ocorrem em meio a uma conjuntura marcada pela disputa em torno da anistia a apoiadores do 8 de Janeiro, reivindicada por setores bolsonaristas. Em Rio Branco, os organizadores ressaltaram a oposição a qualquer medida de perdão a atos de tentativa de ruptura institucional.
“A gente não pode se posicionar a favor de quem defende privilégios em detrimento dos nossos direitos”, afirmou Valéria, ao destacar a defesa de serviços públicos e de políticas voltadas à população negra, periférica e pobre.
No Acre, onde a predominância de eleitores bolsonaristas é reconhecida até por lideranças de esquerda, militantes apontaram dificuldades para mobilizar público. “Muitas pessoas que acreditam na nossa causa não se sentem seguras de ir às ruas, porque o bolsonarismo não atua de forma pacífica”, relatou Valéria.
Ainda assim, os organizadores afirmam que a presença, mesmo em menor número, tem impacto simbólico. “Se a gente não vai à rua, os direitos são perdidos em uma velocidade muito maior”, completou a dirigente do MNU.
Desde 1994, o Grito dos Excluídos é realizado de forma ininterrupta.