Nesta segunda-feira (25), a cena internacional foi marcada por uma combinação de tensões geopolíticas e sinais de instabilidade econômica que repercutem diretamente no Brasil. O pano de fundo é complexo: ataques ucranianos à infraestrutura energética da Rússia, expectativa de cortes de juros nos Estados Unidos e uma crise diplomática crescente entre Brasília e Washington.
Conflito no Leste Europeu pressiona mercados
Na madrugada de hoje, novos ataques com drones da Ucrânia atingiram refinarias e oleodutos em território russo, elevando imediatamente os preços do petróleo no mercado internacional. O Brent chegou a ser negociado a US$ 67,76 e o WTI a US$ 63,73, em movimento que tende a impactar países dependentes de importações energéticas — inclusive o Brasil, que apesar de autossuficiente no petróleo bruto, ainda enfrenta gargalos no refino e depende de importações de derivados.
Mercado financeiro dividido entre riscos e otimismo
Enquanto a Ásia reagiu com alta nas bolsas, impulsionada por expectativas de cortes na taxa de juros americana, o Brasil enfrenta turbulência. O IBGE projeta deflação no IPCA-15 de agosto, algo inédito desde 2021, mas o alívio nos preços não foi suficiente para acalmar investidores.
As declarações do presidente Luiz Inácio Lula da Silva sobre isenção do Imposto de Renda para quem ganha até R$ 5 mil e a criação de novos instrumentos de hedge cambial provocaram forte oscilação: dólar em alta e queda no Ibovespa.
Crise diplomática com os EUA
A tensão aumentou após o Washington Post criticar decisões do ministro Alexandre de Moraes, do STF, em processos relacionados à desinformação. Moraes respondeu afirmando que “não recuará de sua missão institucional”. A posição foi reforçada pelo ministro da Justiça, Flávio Dino, que declarou que nenhuma sanção estrangeira terá validade no Brasil sem aval do STF.
A resposta gerou reação imediata no mercado financeiro: queda de cerca de R$ 42 bilhões no valor de bancos listados e alta do dólar.
Reflexos internos: endividamento e cotidiano
Enquanto Brasília enfrenta pressões externas, os números internos revelam um cenário delicado:
- 67% dos brasileiros estão endividados, sendo 31% com muitas dívidas, segundo pesquisa recente;
- 36% da população passa mais de uma hora por dia em deslocamentos, o que afeta produtividade, qualidade de vida e gera custos ocultos para empresas e famílias.
O Brasil no tabuleiro
O cenário atual coloca o Brasil em uma posição ambígua: de um lado, busca ampliar sua projeção internacional e preservar a autonomia institucional; de outro, lida com entraves fiscais, inflação acima da meta e tensões políticas que afetam a confiança de investidores.
Em um mundo cada vez mais interdependente, a postura brasileira — tanto no campo diplomático quanto no econômico — será decisiva para equilibrar soberania e inserção global.
Adriano Gonçalves é jornalista especializado em geopolítica e escreve com exclusividade para a Folha do Acre