Uma audiência pública foi realizada na manhã desta segunda-feira, 11, na Assembleia Legislativa do Acre (Aleac) como forma de discutir os efeitos climáticos e seus impactos no Rio Acre. A iniciativa foi proposta pelo deputado estadual Eduardo Ribeiro, por meio do Requerimento nº 51/2025, aprovado por unanimidade pelos parlamentares.
O encontro reuniu autoridades, especialistas e representantes da sociedade civil para debater soluções diante da crise climática que afeta toda a população acreana. O professor Claudemir Mesquita, geógrafo formado pela Universidade Federal do Acre (Ufac), foi enfático ao afirmar que a preservação dos rios não se resolve com decretos.
“Todos nós sabemos que decreto não produz água, não preserva rios, não preserva nascentes. Esses recursos não chegam no Rio Acre e todo ano a preocupação se repete. Será até quando?”, questionou o professor Mesquita.
Claudemir atribuiu a degradação à falta de educação ambiental e à ocupação desordenada das margens dos rios, citando desmatamento para criação de gado e poluição das águas.
“Hoje, na calha dos maiores rios, correm esgoto, fuligem, areia e barro, no lugar de água. Ao longo de 150 anos, os governos não implantaram uma gestão eficiente das bacias hidrográficas, mesmo diante dos alertas sobre as mudanças climáticas”, lamentou o geógrafo.
O deputado Eduardo Ribeiro defendeu mais investimentos em educação ambiental e estações de tratamento de esgoto, reforçando a urgência das medidas.
“Que possamos trabalhar com urgência para aumentar o investimento em educação ambiental e avançar na implantação das estações de tratamento de esgoto”, defendeu o deputado.
Já o tenente-coronel Cláudio Falcão, coordenador da Defesa Civil Municipal de Rio Branco, explicou que o trabalho do órgão deve se basear em cinco pilares: prevenção, preparação, mitigação, socorro e restabelecimento. Ele destacou, no entanto, que no Brasil a maioria das Defesas Civis atua apenas nas fases finais, deixando de lado a prevenção. Segundo Falcão, as secas e estiagens, embora matem menos que as inundações, provocam prejuízos econômicos e de saúde muito maiores, afetando 100% da população. Ele lembrou que, nos últimos cinco anos, o Rio Acre registrou inundações anuais, incluindo as duas maiores já registradas, em 2023 e 2024, superadas apenas pela de 2015.
“Estamos, neste momento, transportando milhões de litros de água em caminhões-pipa para a zona rural de Rio Branco. A seca tem causado perdas na agricultura, piscicultura e bacia leiteira. A redução da oferta encarece os produtos na cidade, e a navegação no Rio Acre já está interrompida”, alertou o tenente-coronel.
O diretor de Meio Ambiente da Secretaria de Estado de Meio Ambiente (Sema), Erisson Cameli Santiago, ressaltou que a preocupação vai além do Rio Acre e envolve todas as bacias hidrográficas do estado. Ele citou a destruição de igarapés contribuintes, devido a barragens e desmatamento, e destacou ações conjuntas com Peru e Bolívia para restaurar nascentes e afluentes.
“Diversos igarapés foram destruídos e hoje não existem mais. A água não chega como antes. Não sei se vamos conseguir salvar o Igarapé-Encrenca, mas a nossa parte nós estamos fazendo”, afirmou.