No Acre, as motocicletas já representam 53% de toda a frota de veículos, cenário que coloca o estado entre os seis do país onde as motos superam os automóveis. O dado preocupa especialistas porque acompanha uma realidade nacional de alta nos acidentes, mortes e internações hospitalares envolvendo esse meio de transporte.
A experiência da diarista Laura Maria de Oliveira, de 59 anos, ilustra os perigos dessa escolha. Moradora do Rio de Janeiro, ela optou por usar moto por aplicativo para economizar tempo no trajeto ao trabalho. O resultado foi um grave acidente: “Vi o carro nos fechando e depois desmaiei. Antes disso, o motociclista já vinha em alta velocidade e mexendo no celular. Quase sempre era assim. Um risco enorme”, relatou.
Laura ficou 14 dias internada, passou por cirurgias no úmero, clavícula e nervo radial, e ainda hoje, um ano e meio depois, faz tratamento sem conseguir voltar ao trabalho. “Para mim, esse meio de transporte não existe mais. Tenho um filho que tem moto e nem com ele eu ando”, disse.
O alerta é reforçado pelo especialista Victor Pavarino, da Organização Pan-Americana de Saúde (Opas): “O aumento do uso de motocicletas é consequência de um sistema de mobilidade falho, centrado no carro e que negligenciou o transporte público. A moto se tornou a única opção acessível para milhões de brasileiros, mas é também a mais arriscada”.
Entre 2015 e 2024, a frota nacional de motos cresceu 42%, chegando a 35 milhões de unidades. Apenas em 2023, foram 13.477 mortes em acidentes com motociclistas, o que significa que uma em cada três vítimas fatais no trânsito brasileiro estava em uma moto.
No Acre, Rondônia, Pará, Maranhão, Piauí e Ceará, a situação é ainda mais grave: nesses estados, as motos já são maioria nas ruas e também lideram o ranking de mortes no trânsito.
O ministro da Saúde, Alexandre Padilha, classifica o cenário como uma “epidemia de acidentes com motocicletas”. Segundo ele, 70% a 75% dos leitos de UTI adulto do SUS em prontos-socorros são ocupados por vítimas do trânsito, em sua maioria motociclistas. “Além do impacto para a vida da pessoa e da família, o acidente atrasa cirurgias e sobrecarrega hospitais inteiros”, alerta.
Especialistas defendem medidas urgentes, como reforço no transporte público, redução de velocidade nas cidades, uso obrigatório de equipamentos de segurança e fiscalização rigorosa. Sem isso, a tendência é de que estados como o Acre sigam ampliando um problema que já compromete a saúde pública e custa milhares de vidas a cada ano.
Com informações EBC