Curso promovido pelo Centro de Operações de Paz e Humanitárias de Caráter Naval, em parceria com a PMERJ e o CBMERJ, atraiu alunos de 16 estados e do DF
Jornalistas e estudantes de comunicação, vindos de todo o Brasil, concluíram, na última sexta-feira (4), o II Curso de Cobertura Jornalística em Áreas de Combate e em Emergências (II CCJACE), no Centro de Operações de Paz e Humanitárias de Caráter Naval (COpPazNav), na Ilha do Governador, no Rio de Janeiro (RJ). O curso, que teve duração de cinco dias, foi realizado em parceria inédita com a Polícia Militar do Estado do Rio de Janeiro (PMERJ) e com o Corpo de Bombeiros Militar do Estado do Rio de Janeiro (CBMERJ), contando ainda com o apoio da Condor Tecnologias Não Letais. Atraiu 60 jornalistas (27 homens e 33 mulheres), de 50 veículos de comunicação, vindos de 16 estados e do Distrito Federal, além de estudantes de comunicação de sete universidades. Entre os participantes está a repórter da Folha do Acre, Mirlany Silva.
Os alunos do II CCJACE tiveram uma intensa programação ao longo da semana: participaram de palestras no COpPazNav; visitaram o Batalhão de Operações Policiais Especiais (BOPE), da PMERJ, e a Cidade do Fogo, da CBMERJ; além de terem embarcado em Carros Lagarta Anfíbios (CLAnf) e no Navio Doca Multipropósito (NDM) “Bahia”. Outros destaques foram a aula inaugural do Comandante-Geral do Corpo de Fuzileiros Navais, Almirante de Esquadra (Fuzileiro Naval) Carlos Chagas Vianna Braga; as visitas do Ministro da Defesa, José Mucio Monteiro, e do Comandante da Marinha, Almirante de Esquadra Marcos Sampaio Olsen; e a palestra de encerramento do jornalista Marcos Uchôa, que acumula 40 anos de experiência na comunicação e cobriu nove guerras, oito Copas do Mundo e 11 Olimpíadas.

Estiveram presentes profissionais de imprensa de 12 veículos de comunicação internacionais — Agência EFE, TV France 24, NHK World Japan, Reuters, Bloomberg, Wall Street Journal, Associated Press, Agência Xinhua, The New York Times, TV CGCTN, Agence France-Presse e RAC Rádio da Catalunha —, de cinco redes de televisão abertas — Band, Globo, Record, Rede TV e SBT —, de três redes de televisão fechadas — BandNews TV, TV CNN Brasil e Record News —, de quatro jornais — Folha de S. Paulo, Estadão, O Globo e Extra —, um portal de notícias — Portal G1 —, uma rádio — Rádio CBN Amazônia —, 20 veículos de comunicação regionais — Folha Regional (MG), Inter TV (RN), O Liberal (PR), NDTV (SC), Zero Hora (RS), Rádio Gaúcha (RS), RBS TV (RS), Rede Amazônica (AM e RR), TV Vanguarda (SP), TV Tribuna (PE), TV Verdes Mares (CE), Folha do Acre (AC), Xapuri Socioambiental (AC), Cáritas Brasileira (BA), Gazeta (MT), TV Centro América (MT), Total News (MS), Coluna Navegação em Foco (PA) e Guarulhos em foco (SP) — e cinco mídias especializadas em defesa — Poder Naval, Portal R3, Jane’s Defense, Poder Aéreo e Forças Terrestres. Além disso, pela primeira vez, foram incluídos participantes de sete universidades (UFRJ, UFF, UMESP, FGV, PUC-Rio, ESPM e UFAC) e de uma associação de classe (Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo – Abraji).

O que aconteceu no II CCJACE
Na aula inaugural, no dia 30 de junho, no COpPazNav, o Comandante-Geral do CFN, Almirante Carlos Chagas, destacou: “Nessa segunda edição do curso, buscamos uma aproximação ainda maior com a imprensa e com os estudantes de comunicação. Vemos essa capacitação como uma forma de serviço público. Aproveitamos nossa expertise para poder ensinar um pouco aos jornalistas brasileiros quais são as dificuldades e as possibilidades que irão encontrar em situações de combate. Nesse ano resolvemos expandir o escopo do curso, incluindo conteúdos sobre emergências, com a Polícia Militar e o Corpo de Bombeiros”, afirmou.
O primeiro dia contou ainda com a apresentação do Comandante do COpPazNav, Capitão de Mar e Guerra (Fuzileiro Naval) Adler Ferreira, sobre o trabalho técnico realizado pela organização militar para conseguir a certificação da Organização das Nações Unidas (ONU). Houve a palestra sobre “Análise de Riscos”, da Capitão-Tenente (Auxiliar Fuzileiro Naval) Débora Freitas, primeira mulher combatente brasileira a servir em uma missão de paz da ONU, e as apresentações sobre pautas da Marinha e peculiaridades do II CCJACE, ministrada pelo coordenador do curso, Capitão de Corveta Fabrício Costa.
O segundo dia de curso, voltado para a Segurança Pública e Defesa Civil, foi marcado pelas visitas ao Batalhão de Operações Policiais Especiais (BOPE) da Polícia Militar do Estado do Rio de Janeiro (PMERJ) e ao Centro de Instrução Especializada de Bombeiros (CIEB) do Corpo de Bombeiros Militar do Estado do Rio de Janeiro (CBMERJ), onde foram ministradas práticas para atuação em áreas de conflito.Nesse tema, o BOPE conduziu os jornalistas em uma patrulha urbana simulada, na comunidade Tavares Bastos, no Rio de Janeiro (RJ), onde está localizada a sede do batalhão. Ao final do dia, no Corpo de Bombeiros, foram realizadas atividades no espaço “Cidade do Fogo”, inaugurado recentemente. Nesse local, os jornalistas e estudantes de comunicação tiveram aulas de combate a incêndio, primeiros socorros e conduta em área de sinistro com visibilidade reduzida.

O terceiro dia de curso foi dedicado à Marinha do Brasil. A agenda teve início com uma visita ao Complexo Naval da Ilha das Flores, em São Gonçalo (RJ). Os jornalistas e estudantes de comunicação foram recepcionados pelo Contra-Almirante (Fuzileiro Naval) Marcelo da Costa Reis, que comentou sobre a importância de aproximar a MB da imprensa. “A Marinha tem como lema ‘Protegendo nossas riquezas, cuidando da nossa gente’. Então, a preocupação da Marinha é com o povo brasileiro, com a nossa sociedade. E a gente reconhece que o trabalho da imprensa, dos profissionais de mídia, é importante para comunicar a missão e as atividades da Marinha e do Corpo de Fuzileiros Navais para a sociedade. A imprensa é um elo essencial nessa comunicação”, disse.
Os alunos do II CCJACE também conheceram o Museu da Imigração, na Ilha das Flores e, em seguida, iniciaram o deslocamento nos Carros Lagarta Anfíbios (CLAnf) do CFN até o Navio Doca Multipropósito (NDM) “Bahia”, segundo maior navio da Esquadra brasileira. Numa oportunidade única, os jornalistas e estudantes de comunicação realizaram a travessia a bordo desse navio até o Arsenal de Marinha do Rio de janeiro (AMRJ), localizado na Ilha das Cobras, no Centro do Rio de Janeiro (RJ).
O Comandante do NDM “Bahia”, Capitão de Mar e Guerra Sandro Laudiauzer, comentou sobre a visita: “Para nós, do NDM ‘Bahia’, é de suma importância essa visita dos jornalistas, pois nosso navio tem múltiplas capacidades, seja de operações aéreas, de operações anfíbias ou de assistência humanitária. Então, eles vão poder conhecer um pouco da capacidade estratégica da Marinha em nível nacional e até para operações fora das águas jurisdicionais brasileiras.”

No quarto dia de curso, a programação incluiu a palestra do Diretor do Centro de Comunicação Estratégica da Marinha (CCEM), Contra-Almirante Alexandre Taumaturgo Pavoni, seguida da visita do Ministro da Defesa, José Múcio Monteiro, e do Comandante da Marinha, Almirante de Esquadra Marcos Sampaio Olsen. Eles assistiram a uma demonstração de capacidades na Pista de Conduta em Área Urbana da Marinha (PCAU), em que foram simuladas situações de combate a explosivos, com a atuação do Centro de Defesa Nuclear, Biológica, Química e Radiológica da Marinha do Brasil, e controle de distúrbios e incursão em comunidades controladas pelo tráfico, realizada pelo Batalhão Humaitá em conjunto com os alunos. Também foram demonstradas tecnologias de armamentos não letais desenvolvidos pela Condor Tecnologias Não Letais, apoiadora do curso.
Em seguida, o Ministro da Defesa conversou com os 60 alunos do II CCJACE. Ele aproveitou o debate para destacar a oportunidade única que os jornalistas e estudantes de comunicação tiveram ao longo dos últimos cinco dias: “Pouquíssimos brasileiros têm a chance que os senhores estão tendo de conhecer um dos segmentos mais importantes da nossa sociedade, as Forças Armadas, que garantem a preservação do nosso ambiente democrático e do ambiente de paz que vivemos hoje. A gente precisa fazer muito mais isso para que divulguem o que nós estamos fazendo.”O Comandante da Marinha comentou sobre a importância da parceria com a imprensa. “Um dos grandes desafios das Forças Armadas, e imagino que das Forças Auxiliares de igual maneira, é desenvolver uma mentalidade de defesa. E, para isso, nós precisamos de um instrumento importante de comunicação com a sociedade.”
O encerramento do curso, no quinto dia, contou com a palestra do experiente jornalista Marcos Uchôa, que foi correspondente em nove guerras, três tsunamis, além de fóruns internacionais como Davos, G20, G7 e eleições diversas. Ele pôde compartilhar sobre suas experiências ao redor do mundo, frente a diversas culturas e povos que viveram situações de conflito. O jornalista também fez reflexões acerca da influência das novas tecnologias em ambientes de guerra.Uchôa pontuou sobre a imagem do Brasil no exterior. “A gente tem uma vantagem em relação a repórteres de outros países, porque a gente vem de um país que não é visto como ameaçador. Até as nossas Forças Armadas, por exemplo, já viveram desafios, já fizeram trabalhos no Haiti, no Líbano, com suas fragatas, monitorando o litoral. Em vários lugares do mundo, as Forças Armadas brasileiras são vistas como de manutenção de paz, por um trabalho que não é feito de forma ostensiva, violenta. Então, a nossa imagem é boa, o que facilita nosso trabalho”, afirmou.

Análise do II CCJACE pelos alunosNo fim do II Curso de Cobertura Jornalística em Áreas de Combate e em Emergências (II CCJACE), os alunos analisaram a importância do evento para o jornalismo brasileiro. “Amei o curso, uma experiência única para mim. Mesmo que eu ainda não trabalhe em área de combate, o curso servirá de aprendizagem para a vida inteira. Venci medos, foi uma experiência realmente única”, disse a comunicóloga da Folha do Acre, Mirlane Pereira dos Santos.Eu já tinha feito diversas reportagens com a Marinha do Brasil, mas uma coisa é comunicar estando de um lado, observando as situações acontecendo. Outra situação totalmente diferente é quando você está inserido no ambiente no qual os militares atuam, como, por exemplo, os Fuzileiros Navais nas operações com os veículos anfíbios, nas operações de pacificação em áreas urbanas. Isso traz outro olhar sobre os desafios que esses profissionais têm para garantir a paz da população”, afirmou o jornalista Pedro Afonso da Trindade, da Inter TV, afiliada da Rede Globo Rio Grande do Norte.
“Já acompanhei ações do BOPE e do Grupo Especial de Operações em Fronteira (GEFRON), na fronteira com a Bolívia, mas nada foi comparado ao que vivenciei aqui com a Marinha. Isso me fez ver a importância do trabalho jornalístico em zonas de risco, principalmente com a nossa segurança, com a logística e a estratégia para um bom trabalho. Foi uma das experiências mais significativas profissionalmente para mim”, afirmou a repórter Bárbara Sá, do Jornal A Gazeta, do Mato Grosso.“Eu fiquei muito impressionada com a organização do curso. Tinha altas expectativas, mas acho que superou. A gente teve muita aula prática, aprendendo na teoria também a diferença de armas bélicas, letais e não letais, o que é muito importante para a gente em campo. E, para além da profissão, entender um pouco das Forças Armadas também, como é difícil do outro lado. Isso ajuda muito no sentido da empatia, não é só o nosso trabalho que é difícil. Eu acho que a gente sai daqui com um saldo muito positivo, tanto pessoal quanto profissionalmente”, comentou a editora de texto da TV Globo Rio, Vitória Azevedo.O curso é uma oportunidade ímpar de entender um mundo por vezes distante da rotina jornalística, que é o bastidor das Forças de Segurança. Em muitos casos, falamos com policiais e militares apenas em momentos de operações, crises climáticas ou em conflitos. Essa falta de detalhes cria barreiras e prejudica o entendimento do trabalho militar por parte dos jornalistas. A consequência dessa lacuna é menos informações qualificadas aos brasileiros sobre as estruturas que mantêm o País. Outro ganho no curso é observar a dimensão e importância da Amazônia Azul e a necessidade de cuidar de um espaço estratégico para o Brasil”, disse o jornalista Vinicius Coimbra, da Rádio Gaúcha.