O coordenador da Defesa Civil de Rio Branco, Coronel Cláudio Falcão, traçou um cenário preocupante sobre a atual situação climática e ambiental do município. Segundo ele, a capital acreana vive um ciclo contínuo de desastres, e a estiagem atual, somada às queimadas e à má qualidade do ar, coloca a cidade em mais uma crise de saúde pública e ambiental.
“Rio Branco tem 365 dias de desastre. Pode ser pequeno, que nem é noticiado, ou grande como agora. Já estamos com uma crise hídrica e o ar está cinco vezes mais poluído que o aceitável pela OMS”, alertou Falcão.
O coordenador revelou que, dos 5.700 municípios do Brasil, pelo menos mil podem entrar em situação de emergência permanente, incluindo a capital acreana.
“Eu concordo plenamente que deveríamos estar em situação de emergência permanente, porque temos passado os últimos anos nessa condição. Neste momento, inclusive, já estamos em situação de emergência”, declarou.
A qualidade do ar em Rio Branco tem atingido níveis alarmantes. Conforme dados da própria Defesa Civil, nesta terça-feira, a concentração de partículas finas no ar chegou a 77 microgramas por metro cúbico, muito acima do limite seguro, que é de 15 microgramas.
“Os grupos mais sensíveis, como crianças, idosos e pessoas com doenças crônicas, já estão sentindo os efeitos: garganta arranhando, olhos ardendo, mucosas secas. Isso eleva a procura por atendimento médico. Inclusive, o governador decretou emergência em saúde devido à superlotação de leitos pediátricos”, disse o Coronel.
Falcão também apontou que a estiagem prolongada — há mais de 35 dias sem chuvas significativas — somada ao calor intenso e à vegetação seca, cria um cenário perfeito para incêndios. O coordenador lamentou a cultura enraizada da queima de lixo, inclusive em áreas urbanas, e fez um apelo à população.
“A responsabilidade não é só do poder público. A população é parte essencial. Não se pode mais queimar lixo nem limpar terreno com fogo. O risco é altíssimo. Temos decretos em vigor proibindo qualquer queimada. É preciso entender que fogo fora de controle é incêndio”, afirmou.
A Defesa Civil reconhece que Rio Branco vive, tecnicamente, em estado permanente de emergência. Atualmente, ainda está vigente a situação de emergência decretada por conta da cheia do rio Acre, que já dá lugar a uma nova emergência: a seca extrema.
“Infelizmente, as expectativas não são boas. Estamos competindo com 2024, um dos anos mais secos da história recente. O nível do rio está em 1,61 metro. Não chove desde o início de julho e não há previsão de alívio”, explicou Cláudio.
A situação preocupa não só pela falta d’água nas comunidades rurais, que já recebem abastecimento emergencial, mas também pelo risco de comprometer o abastecimento na zona urbana. A recomendação da Defesa Civil é que a população evite desperdícios.
“Não precisa economizar ao extremo, mas não desperdice. Ainda temos gente lavando calçada com mangueira e casas sem bóia na caixa d’água. Mais de 50% da água se perde na distribuição”, completou Falcão.
Para o coordenador, não há dúvidas de que a população precisará se adaptar a um novo padrão climático, marcado por extremos: longas estiagens e chuvas intensas em curto espaço de tempo. Ele ressaltou que os eventos climáticos extremos têm se tornado regra, e não exceção.
“Estamos vivendo a neutralidade de fenômenos, sem El Niño ou La Niña atuando, mas mesmo assim enfrentamos seca, calor extremo e vendavais. Agosto e setembro devem trazer ventanias fortes e temporais. Precisamos nos adaptar”, destacou o Coronel.
Como medida de longo prazo, Falcão anunciou que a Defesa Civil lançará ainda este ano o programa “Defesa Civil nas Escolas”, com o objetivo de formar crianças mais conscientes e preparadas para os desafios ambientais do futuro.
“O futuro começa agora. Precisamos de cidades resilientes e pessoas preparadas para viver nesse novo tempo. Educação é a base da prevenção”, concluiu.