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Artigo: Buzinaços explodem pelo Brasil e viram o som da esperança popular

Na última sexta-feira (25), o Brasil acordou com um som diferente: um coro de buzinas vindo de todos os cantos do país. Das ruas movimentadas de São Paulo às margens do Rio Acre, passando pelos pampas gaúchos e pelas ladeiras históricas de Ouro Preto, um fenômeno tomou conta das avenidas, vielas e até das estradas de terra: os buzinaços populares.

Mais do que barulho, os buzinaços se tornaram uma linguagem coletiva de manifestação e alegria, um código sonoro que mistura protesto, festa, e uma pitada de resistência bem brasileira. Em Rio Branco, o epicentro acreano do movimento, dezenas de motoristas se reuniram na frente do Palácio Rio Branco, fazendo ecoar uma sinfonia de buzinas que mais parecia o ensaio geral de uma escola de samba misturada com desfile cívico.

Um Brasil que fala por buzinas

O movimento, espontâneo e descentralizado, começou com um simples vídeo nas redes sociais de um caminhoneiro de Minas Gerais, que dizia: “Se você acredita no Brasil, buzine agora!”. O resto é história. O vídeo viralizou, e em poucas horas, motoristas em todo o país estavam com o dedo na buzina e o coração na garganta.

Em Salvador, os taxistas formaram uma carreata em espiral no Dique do Tororó. Em Brasília, até os ônibus da linha circular entraram na onda, transformando a Esplanada dos Ministérios em palco de um buzinaço sinfônico. Já em São Paulo, alguns prédios acompanharam com vuvuzelas nas sacadas — uma mistura sonora que faria até o maestro Villa-Lobos sorrir.

Buzinaço com poesia

No Acre, a criatividade deu o tom. Teve motorista colando versículos bíblicos no para-brisa, outros com alto-falantes tocando Asa Branca e até quem pintou o capô com frases como “Meu carro buzina por um Brasil mais justo!”. Alguns pedestres aplaudiam. Outros respondiam com panelas, batuques e gritos de “Vai, Brasil!”.

“É uma forma de dizer que estamos vivos, atentos, e que temos voz — mesmo que em forma de buzina”, disse Dona Zuleide, 68 anos, que foi à frente do Via Verde Shopping com um cartaz que dizia: “Meu coração vibra, meu carro buzina!”

Ninguém segura esse buzinaço

Especialistas já chamam o fenômeno de “Buzinacultura” – uma nova forma de mobilização que une humor, protesto e identidade nacional. É o Brasil sendo Brasil, com criatividade, barulho e fé.

Enquanto isso, em Rio Branco, o sol se põe por trás do Rio Acre, e ainda se ouve uma buzina solitária ecoando ao longe. Talvez seja só um motorista impaciente. Ou talvez seja o som do povo, que aprendeu que até mesmo uma buzina pode mudar o país.

*Adriano Gonçalves é colunista da Folha do Acre

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