terça-feira, 17 junho 2025

“Respeitem quem trabalha”: deputados se unem contra operações federais em áreas rurais

Por Mirlany Silva, da Folha do Acre

Com presença dos produtores rurais da Reserva Extrativista Chico Mendes na Assembleia Legislativa do Acre (Aleac) na manhã desta terça-feira, 17, os deputados estaduais repudiaram as ações da operação e defender alternativas para a regularização fundiária e ambiental no Acre.

O deputado estadual Tadeu Hassem criticou a escolha do Acre para a realização da operação justamente na semana do Dia Mundial do Meio Ambiente. “Eles poderiam ter escolhido qualquer outro estado. Mas escolheram o Acre, justamente o pequeno produtor. Até nisso fomos prejudicados”, declarou.

Hassem ainda afirmou que as ações colocaram em risco a integridade física dos moradores e prejudicaram economicamente a cadeia produtiva local. “Já tem caminhoneiro que não quer mais prestar serviço, frigorífico em Brasília que não aceita mais o animal para abate, e enquanto isso nossas crianças passam fome”, completou.

O deputado Pedro Longo também criticou a atuação do Ibama e relatou casos em que servidores federais se recusaram a apresentar mandados judiciais durante as ações. “Destruição de currais sem mandado judicial, isso é inaceitável. Essa área onde estão atuando nem sequer fazia parte da reserva originalmente. Essas pessoas estavam ali de boa fé, trabalhando”, afirmou.

Longo defendeu a transformação de parte da Reserva Chico Mendes em projeto de assentamento para garantir aos moradores o direito de produzir legalmente. “Consultem os moradores se eles querem viver de extrativismo ou se querem produzir. A resposta será quase unânime: eles querem produzir”, concluiu.

O deputado Pablo Bregense apontou ainda outra preocupação: o avanço do crime organizado na fronteira. Segundo ele, a retirada da Força Nacional de áreas estratégicas estaria deixando cidades acreanas vulneráveis. “O crime organizado está batendo palma para essa operação. Tiraram a Força Nacional da fronteira de Plácido de Castro e deixaram apenas 12 policiais. É a página mais triste que o Acre escreveu na minha geração”, lamentou.

Já o deputado Edvaldo Magalhães destacou que a Assembleia Legislativa aprovou uma lei que permite a compensação ambiental utilizando florestas públicas estaduais, justamente para regularizar propriedades de pequenos produtores. No entanto, segundo ele, o governo do Estado ainda não regulamentou a aplicação da medida.

“A lei está aprovada e sancionada desde fevereiro, mas até agora o governo não baixou o decreto que autoriza sua aplicação. Temos mais de cinco mil propriedades embargadas que poderiam ser liberadas imediatamente”, denunciou.

O parlamentar defendeu que o Executivo estadual, juntamente com os órgãos ambientais, o Incra e a bancada federal, se mobilize urgentemente para regulamentar a lei e buscar soluções definitivas para o problema. “Só discurso não resolve. O que resolve é ação concreta”, completou.

O deputado Arlenilson Cunha também reforçou o impacto social das ações. “O Acre é um dos estados mais pobres do Brasil. Não podemos aceitar ver nossos produtores sendo humilhados pelo aparato estatal em nome de uma política autoritária e excludente”, criticou.

Já o deputado Marcus Cavalcante fez um pronunciamento emocionado. “É triste ver homens e mulheres de mão calejada, crianças vendo suas casas serem destruídas, seu patrimônio, que foi construído durante uma vida inteira, indo embora. Mas sabe o que é isso? É porque o Brasil, hoje governado pelo presidente Lula, tem a digital da ministra Marina Silva nessa operação. Nós temos que aparecer na Europa, para aqueles que muitas vezes exigem essas operações, como Alemanha e França. Mas a custa da dor e do sofrimento do nosso povo? Não podemos aceitar isso. Tirem o agro desse estado e a miséria vai se instalar de ponta a ponta”, afirmou.

Cavalcante ainda criticou o que chamou de “verdadeiro terror” praticado pelos agentes federais. “Não precisamos de massacre de homens fortemente armados entrando nas propriedades como se fossem bandidos. Isso não é admissível. Vamos perseguir e destruir quem desmatou um ou dois hectares para alimentar a família? Respeitem quem trabalha!”, desabafou.

A deputada Michelle Melo também se posicionou em defesa dos produtores. “A primeira coisa que eu defendo é a vida daqueles que moram na floresta. Eu não quero ver meus amigos passando fome, perdendo os sonhos das suas vidas. Quantos de vocês sustentam famílias inteiras com o que produzem? Esse problema precisa ser prioridade no nosso Estado”, disse.

O presidente da Aleac, Nicolau Júnior, também prometeu apoio e destacou a necessidade de articulação com o governo federal. “O que a Assembleia puder fazer diante do governo estadual, pode ter certeza que nós vamos fazer. São 24 deputados comprometidos com esse assunto. Vamos cobrar providências do IMAAC e da Secretaria do Meio Ambiente”, destacou.

O deputado Emerson Jarude criticou duramente a ação federal. “Eu nunca vi tanta covardia, nem pra desmontar esquema de corrupção, nem pra enfrentar o crime organizado tivemos operações como essa. Parece que produzir no Acre virou crime. E por que essas operações não ocorrem em Minas Gerais, São Paulo ou Rio de Janeiro? É fácil vir aqui, no estado mais pobre, onde deveríamos ser apoiados e não massacrados. O governo federal quer mostrar serviço para fora às custas do sofrimento do nosso povo”, afirmou Jarude.

Já o deputado Eduardo Ribeiro questionou: “Por que o Acre tem que pagar essa conta? Por que escolheram o Acre e não outros estados mais ricos? Porque nossas leis ambientais são mais rígidas, nossos custos são mais altos e agora querem impor mais essa dificuldade. Isso é inadmissível”, frizou.

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