Em meio ao mar de criadores de conteúdo que disputam curtidas com dancinhas e tendências passageiras, Mayara Lima decidiu seguir por um caminho diferente: o da memória, da identidade e da verdade. Psicóloga de formação, empreendedora por vocação e comunicadora por paixão, ela vem se destacando por produzir vídeos que resgatam histórias reais e emocionantes do povo acreano. Seu trabalho nas redes sociais e em um site de notícias local tem provocado algo raro nos dias de hoje: comoção, pertencimento e reflexão.
De farofas ao afeto: como tudo começou
“Eu sempre gostei de contar histórias”, diz Mayara, com a serenidade de quem encontrou sua vocação de forma inesperada. Ela conta que tudo começou enquanto produzia conteúdos de marketing para sua própria empresa, a Amarelinha do Acre – Farofas a Vácuo. “Acredite se quiser: eu morro de vergonha de aparecer. Mas fui encontrando formas de driblar isso e percebi que, mais do que aparecer, o que eu amo mesmo é falar sobre pessoas.”
O estalo veio com um vídeo despretensioso sobre a Dona Francisca, uma cozinheira da região da Base. Mayara visitou o restaurante simples, se encantou com a comida e com a força daquela mulher, e resolveu gravar. “Sem pretensão nenhuma”, ressalta. O vídeo viralizou no TikTok e fez com que muitas pessoas quisessem conhecer o local e a história da Dona Francisca. “Foi ali que entendi: eu queria contar histórias sobre o povo acreano. Sobre quem constrói esse estado.”
Do TikTok ao jornalismo local
Desde 8 de agosto do ano passado, ela passou a produzir com mais frequência esse tipo de conteúdo. O impacto foi tanto que recebeu o convite para apresentar um quadro fixo aos domingos no em um site do estado, onde segue dando visibilidade a histórias que, em muitos casos, estavam fadadas ao esquecimento.
“Meu conteúdo é feito com emoção, afeto e verdade. Não é jornalismo tradicional, é algo mais íntimo, mais próximo da realidade de quem vive aqui. É um olhar carinhoso sobre quem somos”, explica.
Neutel Maia: redescobrindo a história da capital
Um dos vídeos mais marcantes e mais recente do seu canal é sobre Neutel Maia — nome familiar a qualquer morador de Rio Branco, mas cuja biografia permanece pouco conhecida. A ideia surgiu após uma provocação do jornalista Luciano Tavares, durante o podcast Papo Informal. “Ele sempre pergunta aos políticos quem foi Neutel Maia. Ninguém sabia responder. Nem eu. E aquilo me deixou possessa”, conta, com franqueza.
A indignação virou motor para uma profunda investigação. Mayara mergulhou em livros, arquivos e relatos orais para entender quem foi o homem que dá nome a uma das principais avenidas da capital. “Não foi fácil. Há muitas versões, informações soltas, fatos que se contradizem. Demorei mais de cinco horas pra montar tudo: da pesquisa ao roteiro, da narração à trilha sonora.”
O resultado foi um vídeo que mistura leveza, humor e dramatização — marca registrada de seu estilo comunicativo. “Vivemos num mundo imediatista, onde 2 minutos já parecem eternos. O desafio é contar com graça, com emoção, sem perder a essência da informação.”
E o futuro?
Questionada sobre os próximos passos, Mayara não promete formatos nem fórmulas. Mas garante que continuará fazendo o que ama: contar as histórias de seu povo. “Não sei se seguirei o mesmo formato do vídeo sobre o Neutel Maia, mas sei que contar histórias — ainda mais as nossas — sempre vale a pena.”
No Acre, onde tantas narrativas ainda esperam por voz, Mayara Lima tem provado que uma câmera, quando guiada por afeto e verdade, pode ser uma ponte entre passado, presente e futuro. E que, sim, o digital também pode ser um território de memória e resistência.