A eleição para a nova diretoria do Sindicato dos Trabalhadores em Educação do Acre (SINTEAC) foi marcada por disputas acirradas entre as chapas concorrentes e denúncias de supostas irregularidades no processo. Representantes da Chapa 1 acusam a Chapa 2 de interferência direta na condução do pleito, especialmente após o aumento do número de urnas presenciais na véspera da votação.
Em entrevista à reportagem da Folha do Acre, a candidata Márcia, da Chapa 1, afirmou ter sido surpreendida com a inclusão de novas urnas volantes e criticou a forma como a informação foi repassada à sua equipe. “Na verdade, todas as relações de zoneamento, de número de urnas que chegaram pra Chapa 1, todas estavam erradas, todas estavam furadas. Já viemos, pegamos nossos crachás, e ontem, já às seis horas da tarde, foi que a gente ficou sabendo que nossos crachás não iam pros municípios — era a gente que tinha que dar um jeito”, relatou.
Segundo ela, a nova relação de zoneamento com as urnas adicionais também foi informada apenas no fim do dia. “Chegou uma outra relação de zoneamento com mais urnas volantes, e a gente só ficou sabendo disso já às seis horas da tarde.”
A principal crítica envolve o uso de funcionários do sindicato supostamente atuando como fiscais, o que, de acordo com Márcia, representaria conflito de interesses. “Hoje a gente se deparou com algumas situações em que funcionários do sindicato estão atuando como fiscais. A gente tem prova, a gente tem fotos, tem vídeos, tem tudo.”
A candidata também apontou falta de respostas da comissão eleitoral aos questionamentos feitos pela chapa. “A gente já fez os questionamentos pra comissão eleitoral, que — diga-se de passagem — até hoje só respondeu um dos nossos requerimentos. Nenhum outro foi respondido”, afirmou.
Questionada sobre eventuais medidas judiciais, Márcia disse que, caso seja constatada alguma irregularidade grave, a Chapa 1 tomará providências. “Nós já estamos resguardados dentro do estatuto, dentro do regimento da eleição do sindicato. […] A gente espera que esses contratempos sejam resolvidos de imediato para que o pleito siga normalmente e se garanta a lisura do processo.”
Rosana rebate acusações
A presidente licenciada Rosana Nascimento, que disputa a reeleição, negou as acusações de interferência e afirmou que sua postura tem sido de não intervenção direta no processo eleitoral. “Olha, as pessoas que não têm capacidade de dialogar, de convencer a categoria, as pessoas que não têm trabalho na base, acham que vencem a eleição com mentiras.”
Ela esclareceu que a comissão eleitoral foi composta por indicações de membros da gestão anterior. “Essa comissão que está aí foi indicada pelo Regue, pela Márcia. A maioria que veio, veio indicada por eles, pra assumir a eleição.”
Rosana também negou que tenha atuado junto à comissão para influenciar decisões. “Eu entreguei a sala, eu não entro lá, a não ser quando me chamam porque querem tirar alguma dúvida. Mas não fico lá ‘penteando’, não chego esculhambando com ninguém.”
Sobre a ampliação do número de urnas, Rosana disse que a decisão partiu da comissão, com apoio jurídico. “O que aconteceu — o que foi me passado pela comissão — é que a urna volante vai trabalhar só das oito às onze da manhã. Acontece que tem umas doze ou quatorze escolas dentro dessa urna, e não vai dar tempo de cobrir todas, porque são muitos votos — doze, onze, sete, oito… Não vai dar tempo de todo mundo votar.”
Ela relatou que foi consultada pelo presidente da comissão sobre a decisão. “O presidente chamou, perguntou a opinião do advogado, que orientou que fosse feita mais uma urna, pra que todas as pessoas pudessem votar. Perguntou: ‘Rosana, tu concorda?’ Eu disse: ‘Se é pra melhorar, pra todas as urnas chegarem nas escolas, não vejo problema nenhum. Nenhum.’”
Rosana também criticou o comportamento da outra chapa. “Agora o problema é que a pessoa quer ficar enrabixada do lado do presidente, mandando no presidente. […] Infelizmente, em vez de dialogar com a categoria, ficam aqui esculhambando o presidente, esculhambando o pessoal da comissão.”
Ela concluiu dizendo confiar na condução da eleição. “Estão fazendo o trabalho direitinho, veja — tá tudo organizado, as urnas todas já saíram. Tinha fiscal da chapa dela, tinha fiscal da nossa chapa. Somos todos trabalhadores da educação. Não tem que ficar desconfiando um do outro, brigando.”
Comissão e andamento do pleito
O presidente da Comissão Eleitoral do Sindicato dos Trabalhadores em Educação do Acre (Sinteac), James Alves, negou qualquer favorecimento a uma das chapas concorrentes à presidência da entidade. A declaração foi dada à Folha do Acre após denúncias feitas por apoiadores da Chapa 2, que alegam uso da estrutura do sindicato com fins eleitorais, além da inserção de novas urnas sem aviso prévio.
Segundo os relatos recebidos pela reportagem, motoristas do sindicato estariam sendo utilizados indevidamente para apoiar uma das chapas e, na noite anterior à eleição, novas urnas teriam sido colocadas sem tempo hábil para que a Chapa 2 designasse fiscais. A reportagem da Folha do Acre procurou a comissão eleitoral para apurar os fatos. Em entrevista, o presidente da comissão, James Alves, negou as acusações e afirmou que todas as decisões foram tomadas com base em critérios técnicos e legais, respeitando o estatuto do sindicato.
“Assumimos a comissão eleitoral sem acesso à documentação da eleição anterior. Por isso, precisamos solicitar às secretarias de Educação do Estado e dos municípios a relação dos filiados, o que atrasou a organização do processo”, explicou James Alves.
Segundo ele, o número de urnas não foi alterado, mas houve mudanças no zoneamento, ou seja, na forma como os locais de votação foram distribuídos. Essas alterações ocorreram, segundo o presidente, por dificuldades operacionais, como a falta de mesários e motoristas.
“Diante da dificuldade de encontrar pessoas para compor as mesas, algumas urnas fixas precisaram se tornar urnas volantes. Também tivemos problemas para conseguir motoristas e veículos. Houve zoneamentos com até 14 escolas, o que seria impossível cobrir em um único turno. Por isso, dividimos os locais para garantir que todos pudessem votar”, afirmou.
Alves garantiu que nenhuma chapa foi prejudicada com as mudanças.
“Essa informação de que houve prejuízo a alguma chapa não procede. Depois da entrega das urnas volantes, eu mesmo vi cerca de 8 a 10 fiscais de cada chapa presentes”, disse.
Sobre a alegação de que veículos e servidores do sindicato estariam sendo usados indevidamente para beneficiar uma das candidaturas, o presidente da comissão foi categórico:
“Do meu conhecimento, isso não ocorreu. Se alguma chapa identificou algo, deve formalizar uma denúncia por escrito para que possamos tomar as providências. Até agora, não fomos provocados”.
“A estrutura do sindicato está sendo usada exclusivamente pela comissão eleitoral. Os carros estão sendo utilizados para transporte das urnas, e os funcionários, para apoiar os trabalhos. Todos foram colocados à disposição da comissão, e aqueles que faltaram terão o ponto cortado”, completou.
Por fim, Alves explicou o funcionamento da escolha da comissão eleitoral, que é formada 45 dias antes do pleito:
“Ela é eleita em assembleia geral, 45 dias antes do pleito. Pode ser por votação direta dos filiados ou por indicação das chapas. O importante é que todos os membros sejam sindicalizados, conforme prevê o estatuto”.
A eleição no Sinteac segue sendo acompanhada por observadores das chapas concorrentes e mobiliza dezenas de servidores da educação em todo o estado. A apuração está prevista para ocorrer após o encerramento da votação, ainda nesta sexta-feira.