A Polícia Civil e a Polícia Penal de Santa Catarina deflagraram na manhã desta terça-feira (17) a Operação Sentinela, que revelou um esquema de corrupção envolvendo funcionários terceirizados da Penitenciária de Itajaí. A investigação, conduzida pela Divisão de Homicídios da cidade, teve como foco a entrada clandestina de aparelhos celulares que eram entregues diretamente à ala de presos ligados ao Primeiro Grupo Catarinense (PGC), maior facção criminosa do estado.
As investigações começaram após reuniões entre os setores de inteligência da Polícia Penal e da Polícia Civil, no início de março deste ano. A suspeita inicial partiu de denúncias internas e da recorrência de apreensões de celulares nas revistas feitas nas alas do presídio.
Durante as diligências, os agentes identificaram dois funcionários de uma empresa terceirizada que atuavam dentro da penitenciária: Kássio Araújo Lima, de 28 anos, e Rogério Ferreira Tamanará, ambos natural do Acre.
Segundo levantamentos da polícia, os suspeitos já se conheciam antes de entrarem na empresa e tinham até o mesmo endereço cadastrado em currículos.
Kássio trabalhava como motorista da unidade prisional, ele foi flagrado por câmeras de segurança entrando com quatro aparelhos celulares e acessórios escondidos na roupa durante o período noturno. Os objetos foram entregues aos policiais penais no momento da abordagem, antes mesmo da revista formal. Além dos celulares, foram apreendidos chips, carregadores, fones de ouvido e até uma chave de algema.
Em depoimento, Kássio tentou alegar coação. Disse ter sido ameaçado por dois homens que conheceriam sua rotina e até a escola do filho, no entanto, a investigação concluiu que o motorista estava recebendo dinheiro em troca do transporte dos aparelhos. Um colaborador, ouvido como testemunha protegida, afirmou ter sido procurado por Rogério com uma oferta de R$ 20 mil para entregar celulares na ala Delta do presídio, onde estão isolados líderes do PGC.
A troca de mensagens, o monitoramento das câmeras, a relação entre os suspeitos e as apreensões feitas anteriormente reforçaram a suspeita de um esquema estruturado, que operava com liberdade de circulação e contatos diretos com os presos da facção.
Durante o cumprimento dos mandados, os policiais apreenderam armas de fogo, munições e outros celulares nas residências dos investigados. Ambos foram presos preventivamente e retornaram à Penitenciária de Itajaí, onde agora cumprem medida cautelar à disposição da Justiça.
O caso, que ainda segue em investigação, aponta para a existência de outros envolvidos na organização criminosa interna. As investigações concluíram que pelo menos 23 celulares foram encontrados na galeria Delta nos últimos meses, todos supostamente introduzidos pelo mesmo esquema.
A empresa terceirizada que empregava os suspeitos foi comunicada oficialmente e pode ser investigada por falhas no controle de acesso e fiscalização dos colaboradores.
O uso de celulares por detentos é apontado como um fator de alto risco à segurança pública, permitindo que presos organizem crimes mesmo de dentro das celas, incluindo ordens de execução, fraudes e extorsões. Além dos prejuízos diretos à sociedade, essas ações minam a confiança nas instituições encarregadas de combater o crime e evidenciam uma fragilidade no sistema prisional catarinense.