Entre os estados da Região Norte, o Acre figura entre os que menos sofreram com queimadas nas últimas quatro décadas. De acordo com levantamento acumulado entre 1985 e 2024, o estado teve 2.689.959 hectares atingidos pelo fogo — número inferior ao registrado em quase todos os estados vizinhos, com exceção do Amapá (1.580.120 ha).
A análise, baseada em dados de área queimada, aponta que o Acre teve uma área queimada quase cinco vezes menor que a de Rondônia (9.946.488 ha) e mais de dezesseis vezes menor que a de Mato Grosso (44.981.584 ha), líder nacional em território queimado. O estado mato-grossense, junto com Pará (31.251.958 ha) e Maranhão (20.422.849 ha), responde por 47% de toda a área queimada no Brasil no período analisado.
Mesmo dentro da Região Norte, o Acre aparece atrás de Roraima (5.573.070 ha), Amazonas (4.940.272 ha) e, sobretudo, do Pará — estado que lidera em queimadas na região, com quase 12 vezes mais área devastada que o Acre.
O desempenho relativamente melhor do Acre pode estar relacionado a fatores como políticas públicas de controle do desmatamento, presença de áreas protegidas e características climáticas e geográficas. Ainda assim, o número preocupa e coloca em evidência a necessidade de fortalecer medidas preventivas.
O mapa de calor da área queimada ilustra claramente a concentração de focos em estados como Mato Grosso, Pará e Maranhão, onde predominam áreas de transição entre cerrado e floresta amazônica — regiões que, historicamente, sofrem maior pressão por expansão agropecuária.
A situação reforça a importância de estratégias regionais de prevenção e combate às queimadas, sobretudo em um contexto de crise climática global, em que o controle do fogo na Amazônia e em seus arredores torna-se ainda mais urgente.
Apesar dos números acumulados mais baixos, o Acre viu um agravamento das queimadas em 2024. Segundo dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), o estado registrou 8.658 focos de incêndio ao longo do ano, um aumento de 31,94% em relação a 2023, quando foram contabilizados 6.562 focos.
Setembro foi o mês mais crítico, com 3.855 focos — mais que o dobro registrado no mesmo mês do ano anterior (1.675), representando alta de 130,15%. Agosto contabilizou 1.997 focos, número inferior aos 3.075 do mesmo mês em 2023, o que indica uma redução de 35,06%. Já junho apresentou um aumento atípico: 101 focos em 2024, frente a apenas 31 em junho de 2023, ou seja, uma elevação de 225,81%.
O impacto das queimadas refletiu diretamente na qualidade do ar. Em 23 de setembro de 2024, a plataforma internacional IQAir, que monitora a poluição atmosférica, apontou que a concentração de partículas finas PM 2,5 no estado alcançou 605 microgramas por metro cúbico (µg/m³) — um índice 40 vezes acima do limite recomendado pela Organização Mundial de Saúde (OMS).