segunda-feira, 28 abril 2025

Trio é condenado a mais de 25 anos de prisão por assassinar jogador de futebol no Acre

Por Aikon Vitor, da Folha do Acre

Um gesto feito com as mãos, compartilhado em uma rede social, foi o suficiente para selar o destino de Thiago Oseas da Silva, de 21 anos, em uma das regiões mais conflagradas pelo conflito entre facções no Brasil. Na última quarta-feira (23), três homens foram condenados pelo assassinato do jovem, que havia se mudado de Pernambuco para o Acre em busca de uma carreira como jogador de futebol.

O crime, ocorrido em março de 2024, chocou o estado pela brutalidade e pelas circunstâncias que o cercam: Thiago foi morto com oito tiros na cabeça, depois de ser retirado à força de uma festa e submetido a um interrogatório por um grupo que se autodenominava “tribunal do crime”.

Segundo as investigações, a decisão pela execução teria sido motivada por uma foto no celular da vítima em que ele fazia um sinal de mãos semelhante ao utilizado por uma facção criminosa — o Comando Vermelho — rival da organização que domina o bairro Santa Inês, onde o crime ocorreu.

A imagem, segundo as autoridades, foi interpretada como uma provocação. Embora não houvesse qualquer comprovação de que o jogador tivesse ligação com grupos criminosos, a foto bastou para que os agressores optassem pela execução.

Os réus — Andrey Borges Melo, Darcifran de Moraes Eduino Júnior e Kauã Cristyan Almeida Nascimento — foram condenados por homicídio qualificado, associação criminosa, corrupção de menores e outros crimes correlatos. As penas aplicadas superam os 25 anos de reclusão em regime fechado.

Thiago havia chegado ao Acre duas semanas antes de sua morte. Ele integrava a base do Santa Cruz Futebol Clube local e morava em um alojamento com outros atletas. Na noite do crime, participava de uma festa de aniversário no Santa Inês quando o local foi invadido por membros armados do Bonde dos 13, facção que controla o território. Ele e outros convidados que não eram do bairro foram levados a um terreno afastado, onde os celulares foram vasculhados.

O gesto registrado na foto — o símbolo de “paz e amor”, comumente usado em redes sociais — foi associado ao Comando Vermelho e levou os executores a interpretar a imagem como sinal de pertencimento à facção rival.

A sessão do júri contou com a presença virtual da mãe da vítima, Rosa Maria Vilas Boas da Silva. De acordo com relatos, os condenados chegaram a pedir desculpas, reconhecendo que Thiago era inocente. A mãe, no entanto, recusou-se a aceitar o perdão.

Para o Ministério Público do Estado do Acre, o caso é reflexo da escalada da violência promovida por facções no Norte do Brasil e exemplifica a prática de “justiçamentos” conduzidos por grupos que impõem regras paralelas nos territórios que dominam.

O promotor responsável pelo caso classificou o assassinato como uma forma de “execução sumária” e defendeu que a pena imposta fosse proporcional à gravidade do crime. A Promotoria também aponta que outros envolvidos, incluindo adolescentes, seguem sendo investigados.

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