Um gesto feito com as mãos, compartilhado em uma rede social, foi o suficiente para selar o destino de Thiago Oseas da Silva, de 21 anos, em uma das regiões mais conflagradas pelo conflito entre facções no Brasil. Na última quarta-feira (23), três homens foram condenados pelo assassinato do jovem, que havia se mudado de Pernambuco para o Acre em busca de uma carreira como jogador de futebol.
O crime, ocorrido em março de 2024, chocou o estado pela brutalidade e pelas circunstâncias que o cercam: Thiago foi morto com oito tiros na cabeça, depois de ser retirado à força de uma festa e submetido a um interrogatório por um grupo que se autodenominava “tribunal do crime”.
Segundo as investigações, a decisão pela execução teria sido motivada por uma foto no celular da vítima em que ele fazia um sinal de mãos semelhante ao utilizado por uma facção criminosa — o Comando Vermelho — rival da organização que domina o bairro Santa Inês, onde o crime ocorreu.
A imagem, segundo as autoridades, foi interpretada como uma provocação. Embora não houvesse qualquer comprovação de que o jogador tivesse ligação com grupos criminosos, a foto bastou para que os agressores optassem pela execução.
Os réus — Andrey Borges Melo, Darcifran de Moraes Eduino Júnior e Kauã Cristyan Almeida Nascimento — foram condenados por homicídio qualificado, associação criminosa, corrupção de menores e outros crimes correlatos. As penas aplicadas superam os 25 anos de reclusão em regime fechado.
Thiago havia chegado ao Acre duas semanas antes de sua morte. Ele integrava a base do Santa Cruz Futebol Clube local e morava em um alojamento com outros atletas. Na noite do crime, participava de uma festa de aniversário no Santa Inês quando o local foi invadido por membros armados do Bonde dos 13, facção que controla o território. Ele e outros convidados que não eram do bairro foram levados a um terreno afastado, onde os celulares foram vasculhados.
O gesto registrado na foto — o símbolo de “paz e amor”, comumente usado em redes sociais — foi associado ao Comando Vermelho e levou os executores a interpretar a imagem como sinal de pertencimento à facção rival.
A sessão do júri contou com a presença virtual da mãe da vítima, Rosa Maria Vilas Boas da Silva. De acordo com relatos, os condenados chegaram a pedir desculpas, reconhecendo que Thiago era inocente. A mãe, no entanto, recusou-se a aceitar o perdão.
Para o Ministério Público do Estado do Acre, o caso é reflexo da escalada da violência promovida por facções no Norte do Brasil e exemplifica a prática de “justiçamentos” conduzidos por grupos que impõem regras paralelas nos territórios que dominam.
O promotor responsável pelo caso classificou o assassinato como uma forma de “execução sumária” e defendeu que a pena imposta fosse proporcional à gravidade do crime. A Promotoria também aponta que outros envolvidos, incluindo adolescentes, seguem sendo investigados.