sábado, 26 abril 2025

Kamai reconhece desgaste do PT no Acre e defende novo ciclo: “O povo encerrou um ciclo e temos que respeitar”

Por Aikon Vitor, da Folha do Acre

Durante entrevista ao FolhaCast, o vereador de Rio Branco, André Kamai (PT), avaliou o enfraquecimento do Partido dos Trabalhadores no Acre após duas décadas no poder. Ao responder ao jornalista Alessandro Silva sobre o contraste entre o auge do partido e a situação atual, Kamai atribuiu o desgaste a uma série de fatores, entre eles a ofensiva judicial que teve como alvo o PT em nível nacional.

“Primeiro é o seguinte, isso que eu descrevi aqui com relação a essa criminalização da política, ela acontece sobretudo no período dos nossos governos do ponto de vista nacional. E isso fez com que a ofensiva viesse muito para cima do PT. Então, o PT foi o partido-alvo desse debate nesse período.”

Kamai citou a Operação Lava Jato como um marco nesse processo. “Isso fez a própria Lava Jato, as questões todas que aconteceram, mesmo a gente tendo a Vaza Jato depois. A Lava Jato marcou um tempo ali naquele momento, o impeachment da Dilma, a prisão do Lula e tal.” A Vaza Jato, revelada pelo site The Intercept Brasil a partir de 2019, expôs mensagens trocadas entre procuradores da operação e o então juiz Sérgio Moro, indicando conluio e conduta parcial no julgamento de figuras políticas, especialmente ligadas ao PT.

Para Kamai, o esgotamento do ciclo petista no Acre também se explica pelo tempo que o partido esteve no comando do estado. “Se você olhar, não existe, praticamente não existe no mundo períodos de poder longos como o que a gente teve. Foram 20 anos. O povo do Acre foi muito generoso com a gente, com o PT. O povo do Acre deu ao PT a oportunidade de governar o Acre de forma ininterrupta por 20 anos, é muito tempo.”

Segundo ele, isso “gera um desgaste natural” e frustrações por parte da população. “Crises que acontecem no meio do caminho. Todos os problemas também recaem sobre quem está no poder. É natural que isso aconteça, entende?”

Ao lembrar da eleição de 2018, quando o então candidato petista Marcos Alexandre perdeu para Gladson Cameli (PP), mesmo com alta aprovação como prefeito de Rio Branco, Kamai interpretou o resultado como uma mensagem clara: “Para mim, aquele recado ali foi o povo dizendo o seguinte: ‘olha, muito obrigado, valeu, foi bom até aqui, mas a gente quer mudar’.”

A jornalista Gina Menezes retomou a questão, perguntando como reconquistar a confiança da população. Kamai respondeu que o partido precisa reconhecer que o ciclo anterior se encerrou. “Eu penso que agora nós não podemos cair no erro de simplesmente tentar propor às pessoas uma continuidade do nosso projeto ou daquele ciclo. O povo encerrou um ciclo e nós temos que respeitar isso.”

Ele defendeu que o PT apresente novas propostas alinhadas à realidade atual. “Nós precisamos discutir esse governo que está aqui. Nós precisamos discutir quem está governando o Acre hoje. Quais foram os resultados efetivamente para o povo do Acre desse ciclo que o PP conduziu junto com o Gladson, que o Gladson conduziu pelo PP agora nesse período. Quais são os resultados para o Rio Branco da gestão do Bocalom. O que melhorou, o que avançou. Esse é o debate desse momento.”

Kamai defendeu ainda que o PT deve voltar a apresentar candidatos ao governo, mesmo que as chances de vitória não sejam claras. “Ah, pode dizer, André, mas é muito difícil para o PT ganhar a eleição porque tem um desgaste. Mas a gente não pode fazer disputa só quando a gente tem certeza que vai ganhar. A gente tem que fazer disputa porque é necessário fazer o debate político.”

Para ele, a única forma de o PT retomar a confiança do povo é com transparência e compromisso com o debate público. “Para mim, a forma de buscar essa confiança de novo, Gina, é de forma muito honesta, debatendo com o povo quais são os rumos que a gente quer para o Acre. E construir um novo caminho, não dá para tomar o Acre. Exatamente, a gente não pode se omitir.”

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