Cadeia bovina irregular utiliza instrumentos legais para mascarar rebanho criado em áreas embargadas. A pecuária de corte é o principal agente causador do desmatamento na unidade de conservação
A segunda fase da Operação Boi Fantasma, deflagrada pelo Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) com o apoio do Batalhão de Polícia Ambiental do Acre (BPA) contra a criação e comercialização ilegal de gado de corte dentro da Reserva Extrativista Chico Mendes resultou em 57 autos de infração, 6.761 cabeças de gado apreendidas e R$ 6,761 milhões em multas. Além dos produtores, cinco frigoríficos da região estão entre os que serão autuados dentro da cadeia bovina irregular.
A Operação Boi Fantasma detectou que a criação deste gado está ocorrendo em áreas embargadas ou ilegalmente inseridas na Reserva Extrativista Chico Mendes. Esta prática tem sido o principal vetor de desmatamento na unidade de conservação, uma vez que são convertidas áreas de floresta nativa em pastagens.
Segundo apurado pelos agentes do ICMBio, dois são os esquemas principais para mascarar a origem ilegal do gado, a “lavagem” e o “esquentamento”. Na primeira modalidade, o gado criado em áreas irregulares é registrado com Guias de Trânsito Animal (GTA) vinculadas a propriedades regulares, permitindo seu transporte até os frigoríficos, como se fosse de origem legal.
Já na segunda prática, o gado criado em áreas embargadas é transferido para propriedades vizinhas regulares, fazendas, sendo misturado ao rebanho legal. Ao ser comercializado, não há distinção entre os animais, o que dificulta a rastreabilidade.
De acordo com a gerente regional do ICMBio para a Amazônia, Tatiane Leite, a pecuária de corte tornou a Reserva Extrativista Chico Mendes como a unidade de conservação mais desmatada do Brasil. “Esta criação irregular de gado coloca em risco não só o meio ambiente, mas também o modo de vida das populações tradicionais que dependem do uso sustentável dos recursos naturais. Com o objetivo de frear o avanço do desmatamento na Resex Chico Mendes, o ICMBio está atuando fortemente, tendo como próximos passos a apreensão e retirada do gado do interior da unidade”, declarou.
Sem este controle sobre as fazendas que fornecem gado aos frigoríficos, o ciclo ilegal vem sendo operado. A comercialização com tais irregularidades, no entanto, expõe os frigoríficos e exportadores às sanções legais previstas, além de comprometer a sustentabilidade da cadeia produtiva e a integridade da Reserva Extrativista Chico Mendes.
Fonte: Ascom ICMBio