No Acre, há uma estrada que não é apenas um caminho entre cidades, é um campo de batalha. Um campo onde o inimigo é a lama, a erosão, os buracos e, sobretudo, o esquecimento. Roberto Duarte (Republicanos-AC), em pronunciamento feito nesta semana em Brasília, na tribuna da Câmara Federal, escancarou a ferida aberta da BR-364: uma rodovia que deveria ser sinônimo de progresso, mas que se tornou, nas palavras do parlamentar, uma “Faixa de Gaza no coração do estado”.
A denúncia não é nova. Há uma série de vídeos nas redes sociais do deputado federal sobre o tema, sempre em tom grave, quase dramático, mas sem perder a indignação crua que move quem já viu de perto a realidade. Seja do Distrito Federal ou em algum acostamento da BR-364, Duarte não mede palavras: a estrada, que conecta a capital Rio Branco a distante Cruzeiro do Sul, é descrita por ele como uma “vergonha nacional”. Um percurso que, em condições normais, consumiria entre 6 e 7 horas, hoje se arrasta por até 24, isso quando não se transforma em prisão a céu aberto para caminhoneiros atolados, pacientes desesperados, mães com filhos febris a bordo de ônibus sucateados.
“É desumano! É inaceitável!”, brada o deputado, em eco que parece reverberar mais do que pelas paredes do plenário; reverbera na garganta dos motoristas que cruzam a floresta em marcha lenta, carregando não só carga, mas angústia. “Estamos falando de uma estrada que transporta o alimento que chega à mesa do acreano, o combustível que move nossa economia, os remédios que salvam vidas.”
A denúncia ganhou contornos ainda mais agudos quando Duarte mirou diretamente o Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (DNIT), acusando-o de negligência, maquiagem de obras e até de desprezo institucional. Segundo o parlamentar, promessas não faltaram: R$ 207 milhões em 2023 para recuperar a via; anúncio de reconstrução de 200 quilômetros em 2024. Mas, até agora, afirma, a realidade é outra: buracos onde deveriam haver máquinas, silêncio onde deveria haver progresso.
Duarte, que já percorreu pessoalmente os trechos em pior estado da rodovia, contou ter conversado com pacientes oncológicos, cardíacos e transplantados que dependem da estrada para sobreviver, e que, ironicamente, correm risco de morrer a cada viagem. “A estrada os faz sofrer mais que a própria doença”, declarou.
E, como se fosse pouco o peso do presente, o deputado também remexeu o passado. Disse que a BR-364 carrega “a digital do Sr. Lula da Silva e seus companheiros”, denunciando que a propaganda petista transformou uma obra frágil em vitrine política. “Não restam dúvidas de que os recursos anunciados para a BR só existem na publicidade”, criticou, responsabilizando o governo atual pelo abandono e a deterioração acelerada da rodovia.
Para Duarte, o que se faz hoje com a BR-364 não é apenas má gestão. É um projeto de esquecimento. É fazer do Acre um quintal mofado, que só existe na cartografia oficial, mas que some dos mapas da ação federal. “Cada buraco na BR-364 é uma afronta à dignidade do acreano”, disse, em um dos momentos mais simbólicos do discurso. “Cada viagem que vira risco de vida é uma traição ao nosso direito de ir e vir.”
Ao final, fez um apelo que soou mais como ultimato: “Venham ao Acre! Venham sentir na pele o que o nosso povo enfrenta. E, se não tiverem coragem de vir, ao menos tenham vergonha na cara de agir!”
Do plenário, o deputado lançou ao ar a exigência de uma resposta real, concreta, não mais promessas no papel. Porque, como ele mesmo sintetizou com a contundência de um soco bem dado: o Acre não aguenta mais esperar.