Como a pecuária moderna, ética e sustentável beneficia animais, pessoas e o planeta

O bem-estar animal na pecuária é um tema que vem ganhando cada vez mais atenção no Brasil e no mundo. Além de ser um fator ético, que reflete o cuidado e respeito com os animais, essa prática também está diretamente ligada à sustentabilidade, à produtividade e à qualidade dos produtos que chegam à mesa do consumidor. Em um cenário em que a sociedade valoriza cada vez mais a responsabilidade social e ambiental, os pecuaristas desempenham um papel fundamental na construção de uma pecuária moderna, ética e sustentável.

Há, no entanto, uma visão equivocada entre algumas pessoas leigas, que ainda acreditam que os pecuaristas são agressivos ou brutos com os animais. Essa ideia está ultrapassada. A pecuária moderna, liderada por profissionais éticos e comprometidos, tem como ponto central o bem-estar animal. Este artigo busca explorar como essas práticas transformaram o setor, mostrando que é possível equilibrar produtividade, ética e sustentabilidade.

Por que o bem-estar animal é essencial?

O conceito de bem-estar animal vai além de evitar o sofrimento: trata-se de atender às necessidades físicas, mentais e comportamentais dos animais. Princípios como acesso a alimento e água de qualidade, conforto térmico, liberdade para expressar comportamentos naturais e ausência de dor e estresse são os pilares dessa abordagem.

Eu sou um apaixonado pelos animais e também um protetor. Sim, nós os abatemos para que possam servir a um propósito nobre: alimentar o ser humano. Contudo, nossa preocupação está em garantir que, do primeiro ao último dia, eles vivam com dignidade e respeito. Essa visão norteia as práticas de bem-estar animal que aplicamos na pecuária.

Nas nossas fazendas, por exemplo, é proibido bater no gado. Até gritar com os animais é evitado; priorizamos sempre o uso de sons baixos e graves para não assustá-los. A ideia é orientá-los de forma gentil, criando uma conexão baseada no respeito e na tranquilidade. Essa abordagem não apenas reduz o estresse, mas também melhora a interação entre humanos e animais, promovendo um ambiente harmonioso.

Costumo dizer aos nossos colaboradores: “Nossas vacas são damas e devem ser tratadas como tal.” Essa frase resume a filosofia que guia nosso manejo: tratamos os animais com delicadeza, paciência e respeito, garantindo que eles vivam com dignidade.

A pecuária começa com pessoas

A pecuária não é feita apenas de animais; ela é feita por pessoas. E uma pecuária de alto nível exige pessoas de alto nível. Isso significa que, para alcançar um manejo ético e sustentável, é necessário investir em capacitação, educação e, consequentemente, em melhores salários e condições de trabalho para quem vive no campo.

Quando capacitamos nossos colaboradores, não estamos apenas promovendo uma pecuária mais eficiente; estamos transformando vidas. Profissionais bem treinados têm mais segurança, são mais produtivos e estão mais alinhados com os princípios do bem-estar animal. Além disso, melhores salários e condições de trabalho contribuem para o desenvolvimento das comunidades rurais, fortalecendo a economia local e criando um ciclo de prosperidade dentro e fora das propriedades.

Os fazendeiros são os maiores ambientalistas do mundo

Os fazendeiros profissionais são os maiores ambientalistas do mundo, porque convivemos diretamente com a natureza e dependemos dela saudável e harmoniosa para a perpetuidade de nossos negócios. Nós não apenas respeitamos a natureza; nós a entendemos.

O manejo sustentável que promovemos busca equilibrar a produtividade com a conservação ambiental. Práticas como a recuperação de pastagens, o uso de sistemas integrados e o cuidado com a biodiversidade demonstram que o trabalho no campo é, ao mesmo tempo, uma atividade econômica e um compromisso com o meio ambiente. Fazendeiros que se dedicam a preservar e melhorar os recursos naturais sabem que, sem equilíbrio ecológico, não há sustentabilidade nem futuro.

Um convite à reflexão: o papel de todos na sustentabilidade

É importante refletir sobre como ajudar verdadeiramente os animais e o meio ambiente. Muitas vezes, ativistas radicais contra a pecuária acreditam que boicotes e protestos resolvem os problemas, mas isso não impede que animais sejam criados de forma inadequada ou em condições de sofrimento.

A verdadeira mudança ocorre com educação, incentivo e orientação aos pecuaristas que ainda não têm acesso às práticas modernas de manejo sustentável. A pecuária precisa evoluir e se profissionalizar em muitas áreas, e essa transformação só acontecerá com diálogo, colaboração e investimento, e não com polarização.

No final, é inevitável: os animais serão abatidos para cumprir seu propósito de alimentar pessoas. No entanto, eles podem viver com dignidade e respeito se seus criadores tiverem o apoio necessário para adotar práticas modernas e humanas.

Aos defensores dos animais, fica o convite à reflexão: será que não é mais eficaz ajudar a transformar a pecuária, ao invés de combatê-la com radicalismo? Um setor pecuário mais profissionalizado e ético beneficia não apenas os animais, mas também o meio ambiente e a sociedade como um todo.

Pecuária bem manejada e o sequestro de carbono

Além do impacto positivo no bem-estar animal e humano, uma pecuária bem manejada pode prestar um importante serviço ambiental ao sequestrar mais carbono do que as emissões equivalentes de metano dos bovinos.

Estudos da Embrapa mostram que sistemas de produção bem geridos, como a recuperação de pastagens degradadas e a rotação de pastagens, promovem o sequestro de carbono no solo e na biomassa. Essas práticas compensam, e até superam, as emissões de gases de efeito estufa (GEE) geradas pela fermentação entérica dos animais.

Por exemplo, a rotação de pastagens permite que a vegetação se recupere, promovendo a fotossíntese e aumentando o armazenamento de carbono no solo. Essa abordagem não apenas neutraliza as emissões de metano, mas transforma a pecuária em uma aliada na mitigação das mudanças climáticas.

Em 2022, o Brasil emitiu apenas 1,33% dos gases de efeito estufa globais, mesmo sendo o país com o maior rebanho comercial bovino do mundo. Se a pecuária fosse, de fato, a grande vilã das emissões, faria sentido o Brasil apresentar números tão baixos? Esse dado evidencia que o manejo sustentável desempenha um papel essencial na redução do impacto ambiental e que a pecuária brasileira pode ser parte da solução, e não do problema.

Conclusão: animais, pessoas e o planeta

O bem-estar animal não é apenas uma tendência; é uma necessidade para a pecuária moderna. Práticas que respeitam os animais resultam em ganhos econômicos, fortalecem a sustentabilidade e atendem às expectativas de consumidores cada vez mais exigentes.

Porém, a pecuária moderna não se limita aos animais. Ela depende de pessoas bem capacitadas, bem remuneradas e valorizadas, que são o coração da atividade. E, acima de tudo, a pecuária moderna é ambientalmente responsável, conduzida por fazendeiros que entendem e respeitam a natureza, garantindo que ela permaneça saudável e equilibrada para as próximas gerações.

Agora é o momento de agir e liderar essa mudança. Afinal, a pecuária do futuro é aquela que equilibra produtividade, respeito ao meio ambiente e cuidado com as pessoas e os animais.

Sidney Sanches Zamora Filho é pecuarista comprometido com o futuro do agronegócio brasileiro, defensor da sustentabilidade, do bem-estar animal e da valorização das pessoas no campo.