“Golpe do Boi” no Acre: Sargento do BOPE é condenado por aplicar golpe milionário em colegas de farda; Veja detalhes

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Foto: Reprodução/redes sociais

A reportagem da Folha do Acre obteve, com exclusividade, detalhes de um esquema fraudulento envolvendo a compra e venda fictícia de gado que abalou as estruturas da Polícia Militar do Acre. Conhecido como “Golpe do Boi”, o esquema gerou prejuízos estimados em R$ 6 milhões e envolveu dezenas de policiais militares, desde praças até oficiais de alta patente. A fraude foi orquestrada pelo sargento Daniel Sampaio de Albuquerque, de 46 anos, conhecido como Sargento Sampaio.

Os crimes teriam sido cometidos durante a pandemia, em 2021. Em dezembro de 2024, a Justiça do Acre aceitou a denúncia feita pelo Ministério Público do Acre (MPAC) contra Sampaio e o condenou a sete anos e seis meses de reclusão e pagamento de multa. no entanto, o juiz Flávio Mundim estabeleceu para o cumprimento de pena o regime semiaberto, podendo assim apelar da decisão da sentença em liberdade.

O esquema

Na época integrante do Batalhão de Operações Especiais (BOPE), Sampaio, em sociedade com um indivíduo identificado como Márcio Bartolomeu Silva de Oliveira, mais conhecido como “Gordo” e/ou “Zarolho”, prometia altos rendimentos em um suposto negócio de compra e venda de gado. O sargento aliciava colegas de farda, especialmente os mais novos, para contrair empréstimos consignados e investir no esquema, garantindo que o lucro mensal seria suficiente para pagar as dívidas e ainda gerar rendimentos.

Sargento Sampaio e seu “sócio” Márcio (vulgo Gordo/Zarolho) respectivamente – Foto/cedida

O golpe atingiu não apenas policiais do BOPE, mas também militares de outros batalhões, como o de Cruzeiro do Sul, o Batalhão de Trânsito e o 1º Batalhão. Oficiais do GIRO e da Companhia de Policiamento com Cães (CPCAES, também foram citados como investidores no esquema.

Para dar credibilidade ao golpe, Sampaio chegou a abrir um CNPJ com o nome fantasia de CPCarne. Ele ostentava luxo, com carros e motos de alto padrão, e fazia pagamentos de supostos rendimentos dentro do BOPE, local considerado seguro para evitar desconfianças ou fiscalizações externas.

Transferência e escolta

Devido à repercussão do golpe, o sargento Sampaio foi transferido para o policiamento escolar. A decisão visava afastá-lo do BOPE, onde as tensões entre as vítimas do esquema eram altas. Segundo informações de uma fonte de dentro da caserna, Sampaio precisou de escolta para retornar ao BOPE e retirar seus pertences pessoais, evidenciando o clima de animosidade gerado pelas acusações e prejuízos financeiros sofridos pelos policiais.

Promessas não cumpridas

Sampaio chegou a assinar termos de confissão de dívida com diversas vítimas, prometendo devolver os valores investidos. No entanto, as devoluções nunca saíram do papel, deixando os policiais endividados e com empréstimos vultuosos para pagar.

Em um áudio obtido pela Folha do Acre, Sampaio afirmou ter, em determinado momento, mais de R$ 1,5 milhão em espécie. “[Sic] Minha pretensão era, quando chegar junho, começar a fazer algumas devoluções. É tanto que em janeiro eu tinha, em dinheiro, sobra, gordura de R$ 1.580.000 reais em espécie”, declarou.

Denúncias em andamento e o desfecho judicial

Sampaio foi condenado, após a descoberta do esquema e denúncias de três vítimas do golpe, a sete anos de prisão, mas, segundo informações repassadas à reportagem, o número de lesados é muito maior. Ainda há várias vítimas que não formalizaram suas queixas, e novos processos contra o sargento devem surgir nos próximos dias. A expectativa é que, com o avanço das investigações, mais policiais lesados se sintam encorajados a denunciar o estelionatário e buscar reparação judicial. Inclusive, Sampaio já foi denunciado na Corregedoria da Polícia Militar pelas vítimas do golpe fraudulento.

Apesar da sentença, o caso deixou um rastro de dívidas e prejuízos para dezenas de militares que acreditaram no “conto do boi”.

O golpe também expôs uma rede de aliciamento que utilizava a confiança entre os policiais como base para atrair novas vítimas. “Ele dizia que os oficiais também investiam, o que dava uma sensação de segurança para quem estava entrando no negócio”, revelou a mesma fonte ligada à corporação.

Impacto no meio militar

A condenação de Sampaio não encerra as consequências do golpe. Muitos dos envolvidos continuam enfrentando dificuldades financeiras, com empréstimos consignados que comprometeram grande parte de seus rendimentos. O caso também gerou desconforto e desconfiança dentro da corporação, abalando a imagem do BOPE e de outros batalhões envolvidos.

O “Golpe do Boi” se junta a uma série de casos que demonstram como fraudes financeiras podem atingir até mesmo instituições consideradas exemplares em disciplina e ética, deixando um alerta para práticas de aliciamento e promessas de lucros fáceis.

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