A volta de Donald Trump à Casa Branca trará “tensionamento” às relações internacionais e o Brasil precisa ter uma atitude pragmática para lidar com o governo americano liderado por ele. É o que acredita Jorge Viana, presidente da Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (ApexBrasil).
— Só tem um caminho para nós com a eleição do Trump, que é ter um pragmatismo na relação comercial, entendendo que os Estados Unidos são um grande parceiro comercial, que têm contenciosos mundo afora. O Brasil tem que saber separar as coisas: negócios à parte. Mas minha opinião é que a eleição do Trump deverá levar a um aumento do tensionamento da agenda do mundo, começando pela da mudança climática. Nós temos que enfrentar as mudanças climáticas, implementar o Acordo de Paris. E sabemos que o Trump tem um comportamento muito intensamente contrário àquilo que o Acordo de Paris traz. Então é um ponto de tensionamento — disse Viana na cidade japonesa de Kioto, justamente onde foi assinado o primeiro acordo internacional que estabeleceu compromissos para reduzir a emissão dos gases de efeito estufa.
Viana passou os últimos dias em Tóquio em reuniões com adidos agrícolas e diplomatas de países da região com o objetivo de estabelecer uma estratégia comercial para o Brasil na Ásia. Nesta quinta ele receberá as chaves do pavilhão do Brasil na Expo Osaka 2025, que ocorrerá entre abril e outubro. No encontro que Viana teve com os adidos e diplomatas, na Tailândia e no Japão, foi citado com frequência o impacto de fatores geopolíticos no comércio mundial. Trump é um dos fatores de instabilidade. Para Viana, não dá para achar que haverá “paz e harmonia no mundo tão cedo”.
No comércio exterior, se cumprir a ameaça de lançar uma nova guerra comercial com a China o presidente eleito geraria pressões inflacionárias nos EUA, seguidas do aumento nas taxas de juros pelo Federal Reserve, o banco central americano. Isso teria consequências negativas para o Brasil, ao manter o dólar em alta. Mas a volta de Trump também pode criar oportunidades para o Brasil, que se tornou o maior fornecedor de soja e milho para o mercado chinês em meio ao aumento das tensões entre Washington e Pequim. Os EUA são grandes produtores de ambos os produtos.
— Do ponto de vista histórico, nós sempre tivemos melhor resultado com os republicanos do que com os democratas nas relações comerciais e até de negócios. Tomara que esse histórico se repita — disse. — O posicionamento do Brasil e do presidente Lula tem sido sempre pragmático. Ele não vai usar a eleição nos EUA para marcar posição e causar tensionamento. O presidente tem deixado muito claro que quer lutar pela paz no mundo e que o Brasil tenha diálogo com todos.
Fonte: O Globo