Indígenas da Terra Indígena (TI) Mamoadate estão preocupados com possibilidade de conflitos com o grupo de indígenas isolados Mashco-Piro – considerado o maior povo isolado do mundo – que está cada vez mais próximo da aldeia Extrema. Nesta quinta-feira, 31, os indígenas isolados saquearam uma das casas da aldeia, levando terçados, roupas e cobertas. “Eles vieram e voltaram pelo mesmo caminho. Esse aparecimento está acontecendo, e a equipe de monitoramento e vigilância foi ao local para fazer a verificação. Estava sem ninguém na casa, se eles estivessem lá teriam visto eles [os isolados] total”, conta Lucas Manxineru, liderança da aldeia Extrema e presidente da Associação Manxinerune Ptohi Phunputuru Poktshi Hajene (MAPPHA).
“Nós compartilhamos nosso território com os parentes desconfiados, e estamos muito preocupados com essa situação. Foi o primeiro saque que eles fizeram aqui na aldeia Extrema, precisamos de apoio das autoridades e dos parceiros, pois por agora não vamos poder caçar, entrar na mata, pois precisamos proteger os parentes da aldeia e os desconfiados”, explica Mailson Manxineru, coordenador da equipe de proteção territorial da terra indígena.
Após episódios recentes de avistamentos e enfrentamentos no Peru, na região de Madre de Dios, próximo à fronteira com o Acre, o grupo de monitoramento de vigilância da TI Mamoadate realizou no dia 30 de setembro, uma expedição para registro de vestígios dos parentes “desconfiados”, como são chamados pelo povo Manxineru. Foram encontradas rastros e pegadas, além de vestígios de pescarias dos isolados.
É grave a situação nesta região de fronteira. Em setembro deste ano, dois trabalhadores de madeireiras foram mortos no território dos Mashco-Piro, no Peru, após confronto com os isolados. As organizações locais Federação Nativa Madre de Dios e Afluentes (Fenamad) e Associação Interétnica de Desenvolvimento da Selva Peruana (Aidesep) vêm denunciando que, “devido à invasão massiva do território em que vivem por madeireiros legais e ilegais”, as aparições vêm se tornando cada vez mais frequentes e preocupantes.
A proteção dos povos indígenas isolados e de recente contato é um dever do Estado brasileiro, a quem compete garantir a integridade física e cultural dos povos isolados, sem interferência ou imposição de contato, que pode resultar no desaparecimento desses grupos. Os povos Manxineru e Jaminawa, da TI Mamoadate, contam com a atuação da FUNAI para lidar com essa crise com apoio e segurança.