Estudantes brasileiros denunciam assédio e condições precárias em universidade na Bolívia

Nesta quarta-feira, 27, estudantes brasileiros da Universidade Amazônica de Pando (UAP), localizada na cidade boliviana de Bella Flor, também conhecida como Porto Evo Morales, realizaram uma manifestação para denunciar condições precárias de infraestrutura, negligência em casos de assédio sexual e dificuldades burocráticas relacionadas à regularização de vistos. A cidade faz fronteira com Plácido de Castro, no Acre, e a mobilização reúne cerca de 60 alunos, determinados a exigir mudanças.

Entre os líderes do movimento está Heraldo Alves, um estudante de medicina que se mudou do Rio de Janeiro para o Acre há um ano com o sonho de ingressar na carreira médica. Segundo ele, a manifestação é fruto de anos de frustrações e promessas não cumpridas por parte da administração da universidade.

Condições precárias e risco à segurança

De acordo com os estudantes, a UAP atraiu brasileiros com promessas de infraestrutura moderna e ensino de qualidade. No entanto, a realidade apresentada é alarmante. “Os laboratórios alagam, há vazamentos nas luminárias e até desabamentos iminentes, que nos obrigaram a escorar o teto com cadeiras. Recentemente, um incêndio causado por instalações elétricas precárias quase colocou nossas vidas em risco”, relatou Heraldo.

Burocracia inviabiliza regularização de vistos

Outro ponto crítico é a situação dos vistos de permanência. Segundo os manifestantes, a universidade se comprometeu a intermediar um acordo de fronteira que facilitaria a regularização dos documentos, mas nada foi concretizado. “Sem o visto, ficamos impedidos de realizar provas finais. A exigência de algo que sequer está regulamentado nos coloca em uma situação impossível”, explicou Heraldo.

Denúncias de assédio ignoradas

As denúncias de assédio sexual dentro da instituição também são motivo de indignação. Os alunos alegam que a universidade não investiga os casos e que os denunciantes enfrentam represálias. “Ao invés de apurar as denúncias, somos retaliados. Recentemente, uma prova inteira foi anulada sob a acusação de cola, prejudicando todos os alunos”, afirmou Heraldo.

Busca por diálogo e soluções concretas

Os manifestantes acusam a administração da UAP de descaso, afirmando que solicitações de reuniões e cartas enviadas foram sistematicamente ignoradas. “Não estamos aqui apenas por um problema específico. Queremos diálogo, apuração das denúncias e compromisso com melhorias estruturais”, ressaltou Heraldo.

Mobilização pacífica com apoio da comunidade

Apesar de temerem retaliações, os estudantes garantem que o movimento é pacífico e tem o objetivo de chamar atenção para a gravidade da situação. “Muitas famílias venderam tudo para apoiar o sonho dos filhos. Não podemos aceitar esse abandono. Estamos aqui para dar voz a todos os prejudicados”, disse Heraldo.

Entre as principais reivindicações estão a regularização dos vistos, a apuração séria das denúncias de assédio sexual, melhorias estruturais no campus e um compromisso efetivo da universidade com a educação de qualidade. “Não vamos parar até sermos ouvidos. Não queremos confronto, queremos soluções”, concluiu o estudante.