O cacique Biraci Junior Yawanawa, liderança indígena de renome no Acre, utilizou as redes sociais para esclarecer um caso que gerou ampla repercussão. Em vídeo gravado após mais de 14 horas de viagem de Rio Branco até sua aldeia, no Rio Gregório, Biraci explicou os desdobramentos de uma denúncia que inicialmente apontava para abusos graves dentro do território indígena. Segundo ele, as investigações demonstraram que as informações recebidas não procediam.
“Olá a todos, mais uma vez, depois de 14, 15 horas de viagem consecutiva saindo de Rio Branco, da capital, chegando na minha aldeia, sem dormir, sem descansar, para acompanhar de perto o que foi denunciado, o que foi trazido até mim. Primeiro de tudo, quero agradecer imensamente a prontidão do Estado, da Justiça, por atender esse pedido de ajuda, porque foi algo que foi trazido até minha pessoa, como liderança, e pedido para ser o mensageiro do que estava acontecendo. E eu então usei esse mesmo meio de comunicação, essa mesma rede social, para poder fazer o comunicado. E assim tivemos uma resposta”, declarou.
Biraci expressou gratidão às autoridades que atenderam ao chamado, incluindo a deputada Célia Chacriabá, o governador e as forças policiais. Ele destacou que, durante conversa com o delegado da Polícia Federal, foi orientado a permanecer em alerta no território.
“A história não aconteceu como foi repassado para a gente. Agradeço muito por isso, agradeço imensamente, graças a Deus, o que foi repassado, o que disseram que houve abuso, estupros, isso não foi verdade. Eu também fui enganado com essa informação e repassei ela dessa forma”, afirmou.
Contradições e desencontros
O cacique destacou que houve contradições nas informações fornecidas à polícia pelas pessoas que inicialmente relataram os abusos. “As pessoas, os parentes, as mulheres que repassaram as informações, mandando o áudio, mandando essas informações para a gente, se contradizeram quando a polícia chegou ao local, fazendo as suas perguntas, os seus questionamentos. Então houve uma série de desencontro de informações.”
Ainda assim, ele destacou que a gravidade da situação era menor do que inicialmente relatado. “A parte boa de tudo isso é que não aconteceu nada de grave, no sentido de que nós pensávamos que tinha havido abuso, como chegou essa informação até a gente.”
Críticas recebidas e posicionamento
Biraci também abordou as críticas que recebeu após o episódio, reafirmando o compromisso com sua comunidade e com o papel de liderança. “Estou sendo chamado de mentiroso, estou sendo chamado de um monte de coisa, mas esse é o meu papel. Eu sou liderança, sou uma pessoa que tem uma preocupação com o espaço, com a comunidade em que nós vivemos, e não só com a minha comunidade em si, porque senão eu não teria feito o que eu fiz.”
Ele reforçou que agiu de forma responsável e com a intenção de proteger o território e a comunidade, mesmo diante de julgamentos. “Se com essas informações vocês acham que eu fiz isso de propósito, isso infelizmente não é um problema meu, isso vai dar questão de interpretação em vocês.”
Situação no território ainda preocupa
O cacique alertou que, embora a tensão tenha diminuído, a comunidade permanece vulnerável. “A tensão diminuiu, mas ela não passou, porque ainda sim tem meliantes aqui dentro do nosso território. Não sabemos, quando a polícia chegou, se evadiram, não sabemos se vão sair do território ou não.”
Orientado pela Polícia Federal, Biraci destacou que a vigilância continuará na comunidade. “É uma questão que agora a polícia não está mais no território e que, de uma certa forma, a gente ainda está vulnerável. Vamos continuar em alerta, vamos continuar fazendo o nosso papel de vigilância dentro da própria comunidade.”
Pedido de desculpas e mensagem final
Encerrando sua fala, Biraci Junior pediu desculpas pelo impacto gerado pelas informações inicialmente divulgadas e reforçou sua intenção de agir pelo bem coletivo. “Peço desculpa se isso tomou uma proporção da qual não gostaríamos que tivesse tomado, mas foi assim que aconteceu e estou aqui para esclarecer isso, porque foi assim que essas informações chegaram até mim.”
Ele agradeceu as mensagens de apoio e até mesmo as críticas, enfatizando a importância do aprendizado coletivo. “Que o nosso criador nos proteja, nos guie e abençoe a cada um. Agradeço imensamente as mensagens de apoio, inclusive as críticas, porque são assim que a gente constrói e evolui da melhor forma possível.”
O caso ressalta a importância de se verificar informações antes de sua disseminação e reforça os desafios enfrentados por lideranças indígenas no Acre na proteção de seus territórios e comunidades.