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Único vereador eleito pelo PT, Kamai promete mandato combativo e fala em resgatar legado petista

No domingo, 6 de outubro de 2024, André Kamai, sociólogo de 42 anos, foi eleito vereador em Rio Branco com 2.240 votos, marcando o retorno do Partido dos Trabalhadores (PT) à Câmara Municipal após quatro anos sem mandatos. Com uma longa trajetória no serviço público, tendo atuado como assessor parlamentar tanto na Câmara Municipal de Rio Branco quanto na Câmara Federal, além de secretário municipal da Casa Civil e secretário adjunto de Articulação Institucional no governo do Acre, Kamai chega com o objetivo de reativar o diálogo com a população e defender pautas progressistas na casa legislativa.

Em entrevista ao jornal Folha do Acre, ele falou sobre suas prioridades e desafios para os próximos anos.

Folha do Acre: Você foi eleito em um contexto em que o PT volta à Câmara Municipal de Rio Branco após mais de quatro anos. Quais são suas prioridades imediatas como representante do partido na casa?

André Kamai: Precisamos urgentemente trazer a realidade da cidade para o debate na câmara. Eu andei muito na campanha e chego aqui convicto de que essa gestão se distanciou do cotidiano da cidade, que não conhece ou ignora a situação dos bairros, sobretudo da periferia. Há unidades de saúde fechadas, faltam médicos, remédios, há muitas crianças fora da escola, o transporte coletivo está um caos e, enquanto isso, o prefeito está batendo cabeça com um elevado que custa quase 20 milhões e não muda em nada a vida do povo.

Folha do Acre: Quais estratégias você e o PT pretendem adotar para fortalecer o diálogo com a população e assegurar que as pautas progressistas sejam debatidas na Câmara?

Kamai: Na campanha, eu me comprometi com as pessoas em fazer um mandato ativo e presente no cotidiano da cidade. E é assim que vai ser. Vou manter uma agenda de diálogo com as comunidades, com as organizações sociais, com os partidos do campo progressista e com as pessoas de forma direta. E é a partir disso que faremos o debate na câmara. Esse mandato será uma caixa de ressonância, um megafone das vozes que não são ouvidas.

Folha do Acre: Com a volta do PT à Câmara Municipal, como você avalia a recepção dos outros vereadores e da sociedade em relação à oposição que você representa?

Kamai: Olha, a eleição desse mandato mostra que a sociedade não está interessada no silêncio obsequioso que a atual legislatura deu ao prefeito e, tampouco, a uma posição única no debate político. A sociedade quer ver todos os espectros e visões da política no debate. Diferente das forças políticas da extrema direita, o povo não está interessado em eliminar ninguém e nenhuma força ou pensamento do debate público. Acredito que os demais vereadores receberão de forma republicana e democrática o debate que vou propor sobre os mais diversos temas.

Folha do Acre: O que você acredita que será o maior desafio para a oposição nos próximos anos na Câmara Municipal, especialmente com um prefeito que tem base política sólida?

Kamai: Penso que o primeiro desafio será constituir um bloco de oposição consistente. De fato, somente cinco vereadores foram eleitos fora da aliança do prefeito, o que nos impõe a tarefa de manter a coesão.

Folha do Acre: Em sua opinião, o que o PT precisa fazer para recuperar sua força política e confiança da população em Rio Branco e no estado do Acre?

Kamai: Olha, o PT tem um legado de serviço prestado em Rio Branco, né? O governo do prefeito Angelim, o governo do Marcus Alexandre, o trabalho que foi feito pelos governadores, Jorge, Binho, Tião Viana, também foram muito importantes para a cidade de Rio Branco, muitas obras importantes. Então, esse legado nós precisamos tratar dele, falar disso. Outra coisa é a gente mostrar para as pessoas o que o governo do presidente Lula tem feito, com programas como o Pé de Meia, Minha Casa Minha Vida. Infelizmente, o prefeito tenta a todo custo esconder os investimentos do governo do presidente Lula e eu acho que a gente precisa colocar isso, mas a gente também tem o desafio de fazer uma reconexão com a nossa base popular, né? E eu acredito que nós conseguimos avançar nisso, tanto que o resultado dessa eleição tem esse DNA, né? O resultado dessa eleição não é, não foi o André de forma heroica que conseguiu, isso é fruto de um diálogo com a nossa base, de uma construção coletiva que permitiu que nós unificássemos essa base e trouxesse pro debate, né, que envolve tanto o Partido dos Trabalhadores quanto a Federação Brasileira da Esperança, que tem uma relação com os movimentos sociais e populares aqui em Rio Branco. Então, eu penso que o PT precisa de fato assumir o seu papel de um partido que governou o Acre, que governou o Rio Branco, que tem serviço para estados da cidade, mas, sobretudo, voltar a dialogar sobre um projeto para as cidades, para Rio Branco e para as outras cidades, para que a gente consiga reacender no coração das pessoas a esperança de um tempo melhor.

Folha do Acre: Quais são suas expectativas em relação ao trabalho conjunto com movimentos sociais e organizações populares em sua legislatura?

Kamai: Olha, esse mandato não se sustenta em outras bases, esse mandato não se sustenta em capital financeiro de empresas, esse mandato não se sustenta em secretarias e estruturas de poder institucional como governo e a prefeitura. Esse mandato só conseguirá se sustentar ou se for na relação com a base popular. Então, a minha intenção é que a gente faça desse mandato uma espécie de caixa de ressonância da luta do povo, né? E consiga trazer as pessoas para dentro efetivamente do dia a dia desse mandato. Esse mandato foi construído coletivamente. Eu procurei dialogar com o máximo de pessoas que for que for possível. Eu procurei unir os campos internos do Partido dos Trabalhadores, eu procurei trazer pessoas que faziam militância de base nas organizações sociais pra acreditar nessa ideia. E, portanto, a ideia é que nós tenhamos um mandato que é a voz das esperanças e das angústias também de quem está na luta social cotidiana de trabalhadores e trabalhadoras de organizações sociais dos partidos desse espectro do campo progressista. E é com isso que eu espero fazer. Eu espero que a gente consiga trazer para dentro do partido e do mandato as demandas e os projetos que estão nas organizações sociais nas ruas, mas também, além disso, as próprias lideranças que estão no dia a dia possam participar de forma direta.

Folha do Acre: Com uma gestão municipal de orientação política bastante diferente da sua, como você pretende trabalhar para que seus projetos e propostas avancem, mesmo sendo oposição?

Kamai: Então, como eu te falei antes, esse mandato vai se sustentar na luta popular, na base da sociedade. E a ideia é que todos os projetos que eu vou apresentar, as proposições que eu vou apresentar, elas devem ter origem nessa base, no diálogo com o povo, com as organizações sociais, com as organizações populares. Eu não tenho ideias prontas, minhas e acabadas. Não. Tudo o que eu propus nessa campanha foi fruto das escutas que eu fiz na caminhada, tanto na pré-campanha quanto na campanha. Mas também antes, na militância política. E a ideia então é que a gente aponte essas proposições a partir desse diálogo com os setores, com as categorias da sociedade, com as categorias de trabalhadores, com as organizações sociais, com as lideranças das comunidades, do que a gente vê no dia a dia da cidade. E, se necessário, nós vamos mobilizar a sociedade para dialogar com os vereadores e com a gestão sobre a importância de aprovar esses projetos. Eu, sinceramente, não acredito que a gestão e nem a base de sustentação da gestão deixarão de aprovar e de sancionar projetos nossos dos vereadores de oposição por conta simplesmente do fato de nós estarmos na oposição. Acho que as coisas precisam ser bem divididas, né? É como eu tenho dito para outras pessoas. Eu não tenho nenhuma intenção de me mobilizar para fazer a gestão dar errado. A minha intenção é fazer dar certo a partir do que a gente acredita que é melhor para a sociedade. Então, eu acredito que nós teremos um ambiente fraterno, republicano e democrático para fazer o debate que for necessário. Nós vamos procurar fazer o convencimento do conjunto dos vereadores e também levar a sociedade para dialogar sobre a importância desses projetos.