Mais de 20 pequenos produtores rurais da região do Vale do Juruá foram notificados por incêndios em suas propriedade. Muitos agricultores alegam que, sem o fogo, não conseguem plantar o suficiente para sustentar suas famílias e fornecer alimentos para a população.
Antônio Rodrigues Braga, de 50 anos, morador do ramal Mucilini, destacou a falta de suporte governamental para o pequeno agricultor. Segundo ele, a ausência de mecanização e incentivos leva os produtores a recorrer ao fogo como única alternativa viável para limpar suas terras. “Porque hoje o governo não dá estrutura. A gente sabe que a fumaça é uma coisa que prejudica muito a população. Mas nós somos obrigados a queimar, porque se nós não queimarmos, nós não levamos um pouco a nossa mesa. E, para falar a verdade, para a mesa dos demais, até mesmo deles. Porque, se nós não plantarmos, nós não temos o feijão, não temos o arroz, eles também não vão ter. E, assim, a gente está aqui só aguardando que eles entendam a nossa situação”, disse.
O produtor rural ressalta a importância do apoio governamental para a produção agrícola na região. Ele explica que, sem auxílio, muitos agricultores são forçados a plantar em períodos inadequados, enfrentando desafios como a sazonalidade da colheita e a falta de condições ideais para o cultivo. “Se nós não tivermos uma ajuda pelo governo, vamos ser obrigados a plantar, porque nem toda época é da produção que a gente deseja”, afirma Braga.
Além disso, Braga destaca que a agricultura de subsistência é a única fonte de renda de muitas famílias, inclusive a sua, que depende do roçado para sobreviver. Ele relata que foi notificado por conta das queimadas, mas justifica a prática pela necessidade de garantir o sustento. “Eles falaram que eu viesse aqui para se justificar e dar uma resposta para eles […] porque eu necessito trabalhar, necessito sustentar minha família e dos demais também”, explica o agricultor, mostrando como as condições precárias de produção aumentam a pressão sobre os pequenos produtores.
Por outro lado, as autoridades ambientais do Instituto de Meio Ambiente do Acre (IMAC), representadas pela bióloga Iracema Moll, ressaltaram os perigos da prática descontrolada de queimadas. Moll afirmou que as operações de fiscalização são essenciais para controlar a situação, que tem saído de controle com o aumento das queimadas na região. “A operação contra os incêndios foi necessária por conta da quantidade excessiva de queimadas, e a região está toda tomada por fumaça”, explicou Moll.
Além dos danos ambientais, como a destruição de florestas, diminuição da qualidade da água e do ar, e poluição atmosférica, Moll destacou os prejuízos econômicos causados pelos incêndios descontrolados, como a queima de pastagens e cercas, e até mesmo linhas de transmissão. “Tudo isso é gerado pelo fogo que está sendo colocado de forma descontrolada”, disse.
Embora os produtores familiares sejam diretamente afetados pela proibição de queimadas — atualmente vedada por decreto —, eles continuam sendo responsabilizados pelas áreas que queimam. Segundo Moll, os produtores são notificados e multados de acordo com a quantidade de hectares queimados, e as operações de fiscalização devem continuar. “Eles [os produtores] foram notificados na semana passada e, de acordo com o que declararam sobre a queima, geralmente todos colocaram fogo, que acabou saindo do controle, e os prejuízos foram grandes. Assim, eles foram autuados de acordo com a quantidade de hectares que declararam ter queimado”, concluiu.