Pais cobram soluções da Unimed Rio Branco após descredenciamento da Clínica CER, temendo interrupção de terapias essenciais para crianças com deficiências múltiplas
Na tarde desta terça-feira, 3, o Ministério Público do Acre (MPAC) foi palco de uma reunião entre representantes da Unimed Rio Branco e um grupo de pais atípicos preocupados com o descredenciamento do Centro Especializado em Reabilitação (CER), programado para ocorrer a partir do dia 13 de setembro de 2024. A notícia, anunciada no último dia 12 de agosto, gerou grande apreensão, uma vez que o CER atende mais de 500 beneficiários do plano de saúde, muitos dos quais dependem das terapias para seu desenvolvimento e qualidade de vida.
A clínica CER é especializada no atendimento de crianças e adolescentes com Transtorno do Espectro Autista (TEA), doenças raras, paralisia cerebral e outras condições que necessitam de tratamentos contínuos e especializados. Com o descredenciamento iminente, há o risco de interrupção dessas terapias, pois a rede credenciada atual da Unimed Rio Branco não possui condições de absorver a demanda de imediato, devido à falta de vagas e profissionais.
Preocupação dos pais
Além disso, a Unimed oferece uma rede de clínicas que já estão superlotadas e abriu um novo centro voltado exclusivamente para autistas, o que não atende a todas as necessidades dos pacientes do CER. Outra clínica de especialidades foi indicada, mas também não contempla os requisitos específicos para muitas crianças, como as que possuem mobilidade reduzida e necessitam de terapias especializadas, como hidroterapia e ecoterapia. Um exemplo é a Danika, filha da mãe atípica Joelma Côrrea, que está na clínica CER há mais de cinco anos e já se adaptou ao ambiente e aos profissionais da clínica. Não é apenas o caso de Danika, pois mais de 300 crianças estão em terapias essenciais e a transferência para novas clínicas que não atendem suas necessidades prejudica o tratamento, afeta a rotina das crianças e de suas famílias, além de gerar um transtorno significativo.
Durante a reunião, foi discutido que as terapias essenciais, como as cinco horas semanais necessárias para muitas crianças, estão sendo reduzidas para três horas devido à falta de suporte de clínicas e profissionais adequados. Os pais expressaram que desejam participar ativamente desse processo e exigem que, se o descredenciamento da CER for inevitável, a Unimed deve oferecer alternativas de clínicas que estejam no mesmo patamar de qualidade, tanto em termos de horários complacentes quanto de bons profissionais, sem cortes nas terapias já estabelecidas.
Depoimento de Joelma Corrêa
Joelma Corrêa, mãe atípica supramencionada e ativista da causa, relatou à reportagem da Folha do Acre sua preocupação com o futuro do tratamento de sua filha, que teve câncer, apresenta rádiosequelas de AVC e necessita de reabilitação motora contínua e ininterrupta para evitar sequelas irreversíveis. “Minha filha precisa de um tratamento que respeite o laudo médico com as prescrições das terapias fidedignamente, e estou preocupada para onde a Unimed vai referenciá-la, já que descredenciou a Clínica CER. As clínicas credenciadas indicadas não contemplam todas as terapias necessárias”, destacou Joelma. Ela também expôs sua angústia ao Ministério Público e à sociedade, ressaltando a problemática que está afetando a rotina e o tratamento de centenas de crianças com deficiências múltiplas.
Demanda dos pais ao Ministério Público
O principal objetivo da reunião foi discutir formas de minimizar os prejuízos decorrentes do descredenciamento e garantir a continuidade dos tratamentos. Entre os pontos discutidos estavam: a necessidade de humanização no atendimento aos pais durante o processo de transição; a prorrogação do prazo para o descredenciamento até que todos os pacientes sejam absorvidos pela Unimed; a manutenção das horas de terapias prescritas nos laudos médicos; e uma análise individualizada de cada paciente, levando em consideração suas necessidades específicas.
Próximos passos e apelo à sociedade
Durante a reunião, o Ministério Público solicitou que a Unimed Rio Branco apresente um cronograma organizacional detalhado, explicando como será o atendimento dos pacientes oriundos da Clínica CER após o descredenciamento. A preocupação é que as terapias essenciais não sejam interrompidas e que o bem-estar dos pacientes seja preservado.
Os pais, agora, buscam apoio na Assembleia Legislativa e pedem o engajamento da sociedade para pressionar a Unimed a garantir que seus filhos continuem recebendo o tratamento de forma compatível com o que já tinham no CER. Eles exigem um tratamento digno e humanizado para suas crianças, que necessitam de cuidados especiais e que não podem ser simplesmente remanejadas para clínicas que não têm condições de atender suas necessidades específicas.