Volume baixo de mananciais coloca em risco o acesso de comunidades à água potável e alimentos. No começo do ano, muitas já tinham perdidos os roçados para a alagação – além do impacto da estiagem severa de 2023. Acre está em emergência ambiental desde junho.
À medida que os dias do verão avançam, as nossas fontes de água caem para níveis cada vez mais preocupantes de volume. E os impactos desta seca extrema são perceptíveis nas duas bacias que formam o Acre: a do Purus e a do Juruá. Em ambas, os afluentes estão em volume quase perto do colapso – quando já não o estão. A situação é ainda mais dramática quando temos pela frente ao menos três meses de uma estiagem severa, com elevada probabilidade das chuvas ficarem abaixo do normal até o fim do ano.
E toda essa tragédia climática vivida pelas populações acreanas tem sido registrada pelas lentes do repórter-fotográfico rio-branquense Juan Diaz, em suas muitas andanças pelos interiores do estado. Imagens que ilustram aqui esta reportagem. Nelas, vemos pessoas atravessando o rio Amônia, em Marechal Thaumaturgo, sobre as águas.
Noutra, em Cruzeiro do Sul, homens precisam entrar no rio Juruá para desencalhar um batelão preso num banco de areia. Cenas comuns de uma Amazônia que vive um verdadeiro apocalipse climático. Na maior floresta tropical do mundo, a água está escassa. Ela está faltando até para beber. Roçados e criações nas áreas rurais não sabem se vão se desenvolver. Um ambiente de plenas incertezas.
A cada boletim emitido pelo Centro Integrado de Geoprocessamento e Monitoramento Ambiental (Cigma), ligado à Secretaria de Meio Ambiente (Sema), o estado de alerta é acionado nas mais diversas bacias. O cenário de vazante crítico dos rios coloca em risco a segurança hídrica e alimentar das populações rurais, bem como o acesso de muitas delas aos centros urbanos. Mais uns dias, a ajuda só será possível pelo ar.
Ao se olhar os dados, vê-se que a situação é preocupante do Alto Acre ao Alto Juruá. No Vale do Acre, o rio de mesmo nome continua em volume crítico. Na manhã deste domingo, 11, ele media 1,48m em Rio Branco. Ou seja, menos de 25 cm de alcançar a medição mais baixa de sua história, que foi de 1,25m, em 2 de outubro do ano passado. Em resumo, se no começo de agosto o manancial se encontra assim, não sabemos como sobreviverá a setembro – tido como o mês mais severo do verão amazônico.
Das cabeceiras em Assis Brasil e Brasileia até o Baixo Acre, o status emitido pelas autoridades ambientais e de Defesa Civil é de alerta máximo. O mesmo cenário é visto no rio Purus – tanto em seu leito em território acreano quanto no Amazonas. No fim de julho, a Agência Nacional de Águas (ANA) decretou situação de emergência por causa da seca no Purus e no Madeira.
Em junho, o Governo do Acre já tinha decretado situação de emergência ambiental em virtude do verão extremo nos 22 municípios. Logo em seguida, seis deles fizeram o mesmo, incluindo Rio Branco e Cruzeiro do Sul, os dois mais populosos do estado.
No extremo oeste do Acre, o rio Juruá aos poucos entra em volume baixíssimo para a época do ano. A situação é mais preocupante no Alto Juruá. Em muitos pontos, onde antes havia água, agora apenas estão grandes bancos de areia. Praias e mais praias se formam às margens
Em afluentes como o Amônia, o Bagé e o Tejo é possível ir de uma margem a outra andando. Em muitos locais a navegação não é mais possível, sendo necessário, literalmente, puxar o barco no braço – ou levá-lo nas costas até o ponto onde tenha mais água.
Na manhã deste domingo, o rio Juruá media 1,54m em Marechal Thaumaturgo. No sábado (10) estava em 1,56m. A cota deixa o volume do manancial no município em alerta máximo. Em Cruzeiro do Sul o volume é um pouco melhor: 4,70m – mesmo assim uma marca muito crítica para um manancial do porte do Juruá, conhecido por sua exuberância.
A preocupação é com o que pode acontecer até o fim da temporada da seca de 2024, que como apontam as previsões, será uma das mais severas das últimas décadas. A situação de crise em nossos rios se repete no Tarauacá, no Envira e no Jordão. Em Sena Madureira o ambiente é de quase calamidade, com o rio iaco marcando 48 cm no domingo; um dia antes estava em 45 cm.
O mais assustador nesta crise climática enfrentada ao Sul da Amazônia Ocidental, é que rios como o Acre e o Juruá tiveram uma das maiores alagações da história, afetando dezenas de famílias indígenas, ribeirinhas, extrativistas e nas nossas periferias urbanas.
Agora, menos de quatro meses depois, o cenário é totalmente inverso. Populações que nem bem se recuperaram da enchente nem da estiagem severa de 2023 voltam a ser impactadas por um clima em colapso – que nos leva muito próximo ao nosso próprio colapso.