Na tarde desta última quarta-feira (11), a Universidade Federal do Acre (UFAC) testemunhou mais um capítulo de tensão entre docentes e administração universitária. O cancelamento abrupto da quarta mesa de negociação, após meses de debates sobre questões cruciais como o Colégio de Aplicação, assédio sexual e, mais recentemente, gestão democrática e orçamento da universidade, destacou o fosso crescente entre as partes envolvidas.
“O que aconteceu ontem foi um claro descumprimento dos dispositivos internos da nossa UFAC”, declarou Raquel Ishi, professora do CELA (Centro de Educação Letras e Artes) e membro do comando local de greve docente. “Fizemos um convite aberto para todos os pró-reitores, inclusive a professora Guída e o Josimá, para virem à nossa assembleia e discutir detalhadamente o orçamento da universidade, apresentando todas as planilhas e informações relevantes. Infelizmente, a administração optou por não comparecer, alegando indisponibilidade.”
A controvérsia se acentuou devido à falta de cumprimento de portarias e normativas internas pela própria reitoria. “Por exemplo, existe uma portaria assinada pela reitora em 2022 que determina o retorno presencial das atividades pós-pandemia, mas as reuniões do Conselho Universitário continuam sendo realizadas de forma online”, explicou Ishi. “Isso reflete uma desconexão preocupante entre as diretrizes estabelecidas e sua implementação efetiva.”
Durante a mesa de negociação, que se caracteriza por ser um espaço de diálogo bilateral, a administração decidiu unilateralmente se retirar, alegando desrespeito por parte dos docentes. “Nós corrigimos essa interpretação equivocada: não houve suspensão, mas sim uma retirada da administração”, esclareceu Ishi. “O verdadeiro desrespeito que ocorreu foi o descumprimento contínuo do regimento, estatuto e normas internas que deveriam guiar nossa universidade.”
Após o incidente, os docentes emitiram um comunicado público reiterando sua disposição para retomar as negociações. “Estamos comprometidos em continuar o debate democrático e defender nossas reivindicações durante este período de greve”, afirmou Ishi. “Desde maio do ano passado, quando protocolamos nossas pautas locais junto à reitoria, não tivemos sequer uma reunião para discutir essas questões. Isso demonstra uma intransigência preocupante por parte da administração em abrir espaço para o diálogo construtivo.”
Raquel Ishi também expressou preocupação com a reação da região norte da ANDIFES: “Nós ficamos sabendo da nota da região norte da ANDIFES, que são reitores da região norte em apoio à professora Guida e a nota, inclusive, faz menção a ataques pessoais. Como nós já dissemos, não houve em nenhum momento da reunião nenhum tipo de ataques pessoais e nós vemos com muita preocupação reitores se posicionando contra categorias em greve na medida em que anteriormente já haviam manifestado seu apoio de modo que, em nível nacional, a gente compreende que reitores e categorias em greve estão irmanados em luta pela universidade, inclusive, a gente espera da nossa administração esse reconhecimento, não apenas na forma de nota, de apoio à nossa greve, mas também de reconhecer que a recomposição dos orçamentos das universidades. Todos os reitores conseguirem fechar o seu ano fiscal, virá a partir de orçamento liberado devido à nossa greve.”
O impasse na UFAC reflete não apenas questões administrativas, mas também princípios fundamentais de governança e participação dentro da instituição. Enquanto os docentes buscam transparência e respeito às normativas internas, a administração enfrenta críticas contundentes por sua falta de abertura e compromisso com o diálogo efetivo por partes dos estudantes
A Folha do Acre deixa o espaço em aberto para manifestação por parte da gestão superior da Ufac.