A Delegacia de Polícia Civil de Senador Guiomard concluiu o inquérito sobre a morte da enfermeira Géssica Melo de Oliveira, de 32 anos, atingida por tiros disparados por agentes do Grupo Especial de Fronteira (Gefron) durante uma perseguição policial em 2 de dezembro de 2023. O caso resultou no indiciamento de dois policiais por homicídio qualificado e fraude processual.
Conforme o inquérito, Géssica saiu de Rio Branco, onde visitara familiares, em direção a Senador Guiomard. Próximo à Escola Rosa Linda, ela tentou ultrapassar um veículo, caiu em uma vala e precisou de ajuda para retirar seu carro. Logo depois, ao passar pelo posto policial de Senador Guiomar, ela freou bruscamente, atraindo a atenção dos policiais em uma blitz. O soldado Ronilson Araújo da Silva se aproximou e, não vendo nenhuma arma com a enfermeira ou dentro do veículo, tentou dialogar com ela, mas ela fugiu, acionando a guarnição da PM de Capixaba.
A PM de Capixaba iniciou o acompanhamento do carro de Géssica, que ignorou sinais luminosos e sonoros para parar. Durante a fuga, ela retornou para Senador Guiomard, e o apoio foi solicitado. A guarnição do GEFRON, composta pelos agentes Cleonizio Marques Vilas Boas, Gleyson Costa de Souza e Emerson Florindo de Moura, montou uma barreira na BR-317, próximo à Alcoolbrás. Quando a barreira foi rompida, eles dispararam contra o veículo de Géssica.
Na sequência, a viatura do GEFRON se posicionou à frente dos outros carros policiais. Perto da Fazenda Nictheroy, Cleonizio disparou três vezes com um fuzil .762, e Gleyson, cinco vezes com um fuzil .556. Um dos tiros de Cleonizio atingiu Géssica, fazendo-a perder o controle e sair da estrada. Após ser retirada do carro, ainda viva, ela faleceu pouco depois. O corpo foi levado ao hospital de Senador Guiomard pela equipe do GEFRON.
Na cena do crime, Cleonizio Marques implantou uma arma no local, uma ação detectada pela perícia que também apontou a ausência de álcool ou drogas no corpo de Géssica. A arma plantada não tinha traços genéticos compatíveis com a enfermeira. Não foram encontrados projéteis no interior do carro, evidenciando que não houve disparos de dentro para fora do veículo.
O delegado Rômulo Barros Alves de Carvalho indiciou Cleonizio Marques Vilas Boas por homicídio qualificado e Gleyson Costa de Souza por tentativa de homicídio qualificado, ambos por recurso que impossibilitou a defesa da vítima e motivo fútil, além de fraude processual.
Em relação ao secretário de Justiça e Segurança Pública do Acre, José Américo Gaia, Cleonizio afirmou que Gaia estava presente enquanto a equipe tentava chamar uma ambulância. Gaia, no entanto, negou envolvimento direto, afirmando que passou pelo local quando a ocorrência já estava encerrada.
O inquérito foi encaminhado ao Poder Judiciário e ao Ministério Público do Acre para as devidas providências legais.