A técnica em enfermagem Narjara Oliveira de Lima foi denunciada pelo Ministério Público do Acre (MP-AC) após ter gravado e exposto uma adolescente de 14 anos grávida em trabalho de parto na maternidade de Cruzeiro do Sul, interior do Acre. O vídeo foi publicado em agosto deste ano e teve 4 milhões de visualizações antes de ser apagado.
A menina foi vítima de estupro de vulnerável pois, segundo a polícia, engravidou de um barqueiro da região quando ainda tinha 13 anos. Em depoimento a polícia, a adolescente que atualmente tem 14 anos, contou que começou a se relacionar com o barqueiro quando tinha 12 anos de idade. O idoso tem 68 anos de idade e é conhecido da família.
Além disso, a menor disse que foi alertada pelo idoso sobre complicações devido à idade dela, mas que ela gostava muito dele e por isso se encontravam na casa do suspeito.
A técnica em enfermagem Narjara Lima publicou um vídeo em que conversa com a menina de 14 anos, e faz perguntas sobre a gravidez dentro da maternidade. Somando perfis no Instagram e no Tiktok, Narjara tinha 70 mil seguidores, e o vídeo publicado por ela teve cerca de 4 milhões de visualizações até ser apagado.
No vídeo, que já foi deletado da rede social de Narjara, a profissional pergunta à menina se é o primeiro filho, ao que ela responde “primeiro e derradeiro”. A técnica pergunta a idade da menina, e afirma: “Tu é um bebê!”, e dá risada. Ela também pergunta qual o sexo do bebê, e a adolescente responde que é um menino.
Sobre o vídeo, a menor contou à polícia que foi avisada pela servidora que estava sendo gravada, mas que as imagens seriam enviadas para ela. A menor contou que só teve acesso ao vídeo quando foi pra casa e uma prima enviou as imagens. Ela disse ainda que se sentiu constrangida e envergonhada com a repercussão. Além disso, passou a ser reconhecida pelo caso e chegou a fica algumas semanas sem pegar no celular por conta da exposição.
O promotor Justiça Christian Anderson da Gama ofereceu denúncia junto à 2ª Vara Criminal da Comarca de Cruzeiro do Sul por suposto crime de submissão de adolescente a vexame ou constrangimento, conforme prevê o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), e por corrupção de testemunha, além de solicitar reparos mínimos pelos danos sofridos pela vítima.
“A gravidade concreta do caso evidencia-se com a prática do crime do art. 232 da Lei 8.069/1990 (ECA), cometida por profissional da área da saúde que, utilizando-se da função pública, gravou nas dependências de hospital público e publicou, sem autorização, gravação audiovisual de adolescente de 14 anos de idade, grávida, em situação de vulnerabilidade social, possível vítima de estupro de vulnerável (em razão da idade), expondo a imagem da adolescente em suas redes sociais em perfis com milhares de seguidores, alcançando, milhares de compartilhamentos e visualizações, gerando grande constrangimento para vítima e seus familiares. Além do mais, quando ouvida em sede policial com a presença de seu defensor, a autora afirmou que ainda iria decidir se iria apagar o conteúdo, ‘tendo em vista que foi viralizado’, demonstrando o seu intento na continuação da prática delitiva ou indiferença com a posição da vítima”, disse.
O g1 entrou em contato com Iglê Monte, que é diretor da Maternidade em Cruzeiro do Sul, mas não obteve retorno até esta publicação. Já a Secretaria de Saúde do Acre (Sesacre) informou que a servidora foi afastada por 15 dias apenas, mas, atualmente exerce a função na unidade. Nas redes sociais, a blogueira ainda compartilha vídeos da sua rotina no hospital.
A reportagem também tentou contato com a influenciadora, mas não obteve retorno.
G1/AC