Quase quatro mil venezuelanos entraram no país pela cidade de Assis Brasil nestes dez meses do ano. Os migrantes entram no estado pelas fronteiras do Peru-Bolívia e são hoje o maior grupo estrangeiro ingressante no Acre.
Os números atualizados do mês de outubro indicam que 3.722 pessoas da Venezuela deram entrada no estado acreano. Nos doze meses do ano passado, foi registrado que 3.375 venezuelanos entrou no estado pela fronteira com o Peru, um aumento expressivo em comparação aos anos de 2021, quando 1.862 entraram, e 2020, quando o número foi 572, segundo os dados da Polícia Federal do Acre.
Atualmente os venezuenos superam os haitianos e são hoje o maior grupo estrangeiro que entra no Brasil pela fronteira com o Acre. A questão já é enfrentada como crise, já que existe um número elevado de pessoas nos abrigos de acolhimento de municípios como Rio Branco e Assis Brasil.
O venezuelano José Antônio Garcia, de 30 anos, entrou no Acre através da fronteira com o Peru antes da crise migratória, em janeiro de 2018, quando decidiu morar no estado interessado no mercado de trabalho do Brasil. Natural de Valencia, José ficou no estado acreano por quatro anos, trabalhou em três empresas e diz que teve uma boa estadia por conta de uma boa recepção dos acreanos:
“Tenho uma tatuagem do Acre. Foi um estado que marcou a minha vida pela hospitalidade das pessoas e pela cultura. Agora, que conheço outros estados do Brasil, vejo a diferença”, conta.
Após estudar Direito em uma faculdade do Estado, José mudou-se para São Paulo pensando em alcançar novos horizontes, mas diz que o carinho pelo estado acreano continua.
Segundo ele, as maiores dificuldades enfrentadas quando ingressou no país, além da diferença do idioma, são os riscos que se corre quando se desconhecer pessoas e busca algumas coisas, como trabalho: “Quando chegamos e não conhecemos nada nem ninguém, isso pode nos colocar em situações de risco, é tudo mais difícil. A partir do momento que começamos a conhecer as pessoas, as coisas melhoram”, conta.
O Governo do Acre informou que após um decreto governamental do Peru, que pretende deportar imigrantes sem documentação a partir do fim do mês de outubro, uma nova crise migratória pode ser prevista para o Acre.
Tendo fundamento os direitos humanos à vida, à igualdade, à saúde, à alimentação, à moradia, à segurança, e à assistência social, previstos na Constituição Federal, o Ministério Público Federal (MPF), o Ministério Público do Trabalho (MPT) e a Defensoria Pública da União (DPU) enviaram uma recomendação ao governador Gladson Cameli, para elaborar, até o dia 31 de outubro, um plano de contingência para acolhimento humanitário de novos migrantes.
Em uma reunião para tratar as medidas de contingência para recepção de novos migrantes realizada no dia 16 de setembro, o chefe do Departamento de Proteção Social Especial da Secretaria de Estado de Assistência Social e Direitos Humanos, Hélio Cezar Koury, destacou que “o Acre é o único estado do que possui protocolo para atendimento à população migrante, que inclui um serviço de acolhimento municipalizado.”